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BRASIL

Na ONU, Bolsonaro mente, destila ódio e desinformação

Fernando Castelo Branco*, de Fortaleza (CE)

Não se pode dizer que foi surpreendente. Bolsonaro, afinal, nunca soube, não sabe, nem tampouco se esforça para saber o que significa a ONU, sua importância histórica, a complexidade e os paradoxos de seu papel no mundo. Tem uma ignorância olímpica sobre tudo isso, e ostenta esta ignorância como se virtude fosse.

Na ONU deixou de falar ao mundo e falou aos 19% da população brasileira que, segundo pesquisa recente do Datafolha, ainda acredita em tudo o que o presidente fala. Tudo. E falando aos seus, fez o de sempre: agitou mentiras, ódio e desinformação. Tocou o berrante para manter coesa a boiada.

Bolsonaro mentiu quando se apresentou como defensor da liberdade e da democracia. Não teve coragem de repetir na ONU as loas que rende à Ustra, Pinochet, Stroessner e às ditaduras latino-americanas. Mentiu quando se disse defensor dos direitos humanos, porque na verdade ele defende a tortura “e tu sabe disso!”, defende o extermínio promovido por grupos paramilitares e milicianos.

Na ONU, Bolsonaro disse defender à Soberania Nacional, ao mesmo tempo em que entrega a base de Alcântara (MA) e celebra a presença da IV frota naval estadunidense nos mares da América do Sul. Um entreguista, que promove o alinhamento automático de nossas relações internacionais, apresentou-se como crítico do colonialismo e defensor da soberania nacional. Um mito, uma fraude, uma farsa. Uma tragédia.

Disse ter compromisso com o meio ambiente, enquanto libera agrotóxicos, corta metade das verbas do IBAMA, anistia madeireiros e agroempresários, persegue técnicos e cientistas que apresentam, em números, o desmatamento recorde da Amazônia. Criticou Raoni, o Presidente que, não nos esqueçamos, disse que “competente, sim, foi a cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios”, e entregou a FUNAI ao Ministério da Agricultura, comandado pelo agronegócio. 

Denunciou como “verdadeiro trabalho escravo” a situação dos médicos cubanos no Brasil, aquele que responsabilizou os próprios africanos pelo tráfico de escravizados porque, afinal, “os portugueses nem pisaram na África”; aquele que defendeu uma mudança nos marcos legais para diminuir o alcance daquilo que a lei considera ser trabalho escravo, porque “o empregador tem que ter essa garantia”; aquele que defendeu o trabalho de crianças de 9, 10 anos de idade, porque “trabalho não atrapalha a vida de ninguém”.

Condoeu-se, mais uma vez, com a situação de médicos cubanos separados de seus cônjuges, pais e filhos; aquele que silencia sobre os campos de concentração em que os Estados Unidos mantém crianças separadas dos pais imigrantes, aquele que silencia sobre os muros e campos de concentração que Israel utiliza para separar e torturar famílias palestinas em sua própria terra.

Na ONU, Bolsonaro mentiu e não podia ser diferente. Porque mentira, ódio e desinformação são seus instrumentos de trabalho. É como construiu sua carreira e sua fortuna.

Não foi ruim. O mundo precisa saber o que se passa no Brasil. O risco que corremos e que não é só nosso, é também francês, inglês, turco, norte americano, e de tantos povos.  A oposição à Bolsonaro precisa ganhar solidariedade internacional. Os trabalhadores do mundo inteiro e suas organizações precisam saber ler o que não foi dito: Corram! Organizem-se! Resistam! O Brasil pode ser você amanhã.

 

*Fernando Castelo Branco é Professor da Universidade Regional do Cariri, filiado ao PSOL e militante da RESISTÊNCIA

 

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Governo Bolsonaro / ONU