As eleições presidenciais na Bolívia se aproximam. Depois de 14 anos no poder, Evo Morales se apresenta como o candidato favorito para ganhar a quarta eleição presidencial consecutiva. Um fato inédito na história política boliviana. Este prognóstico parecia confirmar-se pelos favoráveis indicadores econômicos e sociais, a relativa estabilidade política alcançada pela hegemonia política do Movimento ao Socialismo (MAS), e, por fim, a debilidade e fragmentação da oposição de direita, distribuída em nove candidaturas.
O “milagre boliviano”?
Nos últimos 14 anos, sob a gestão de Evo Morales, a Bolívia passou de uma economia arruinada pelas políticas neoliberais, a um dos países latino-americanos mais resilientes aos impactos negativos da crise econômica mundial. Este cenário parecia contrabalançar o inevitável desgaste político de um dos governos mais estável da América Latina no seculo XXI. Desde 2008, a Bolívia alcançou um crescimento médio de 5% ao ano. Em informe recente, a CEPAL, anunciou que o país andino liderará o crescimento econômico na América do Sul em 2019, com 4%, a mesma projeção apontada pelo FMI e o Banco Mundial. A inflação em 2018 chegou a 1,5%, uma das menores da América Latina.
Segundo informe da CELAG:
“a política de recuperação da propriedade dos setores estratégicos foi chave para alcançar resultados econômicos positivos. A Bolívia foi o país sul americano com maior crescimento nos anos 2009, 2014, 2016 e 2018, sua moeda é uma das mais fortes do continente, todos os indicadores socioeconômicos melhoraram notavelmente, incluído o salário” (Fonte: CELAG, 2019).
O governo Evo Morales implementou uma política econômica, que combinou, a nacionalização de setores estratégicos (gás, petróleo e telecomunicações), a desdolarização da economia, um forte investimento estatal em infraestrutura e a implementação de políticas sociais que diminuíram significativamente a extrema pobreza, o desemprego e a mortalidade infantil.
A expansão do mercado interno e o aumento do poder de compra das famílias mais pobres e da “nova classe média” gerou uma sensação de bem-estar e satisfação da população, inédita na história da Bolívia. A pesquisa do Centro Estratégico Latino-americano de Geopolítica (CELAG), realizada em agosto de 2019, apontava que 71,7% dos entrevistados considerava a gestão de Evo Morales, boa ou regular; cerca de 46,2% tinha sensações positivas sobre a situação atual do país, e 54,3% considerava que as políticas de nacionalização de setores estratégicos deveriam avançar. Sobre a figura do presidente Evo Morales, 53,5% dos entrevistados responderam que tinha sentimentos de afeto, confiança e respeito.
Um cenário eleitoral ainda incerto
As últimas pesquisas apontam uma vitória de Evo Morales no primeiro turno, com 43,4%, enquanto seu principal adversário, Carlos Mesa, alcança 25,1%. Em outra pesquisa (Via Ciência), divulgada em 16 de setembro, Evo Morales alcança 43,2% da intenção de voto, enquanto Mesa, chegava a 21,3%. Ambas as pesquisas apontam um crescimento do apoio à Evo Morales e uma queda da intenção de voto do segundo colocado se comparamos com as pesquisas realizadas no mês de março. Por fim, 60% dos entrevistados acreditam que Evo Morales será o próximo presidente.
No entanto, o cenário ainda se mostra incerto e imprevisível. A vitória de Evo Morales no primeiro turno não está segura (Evo precisa obter 40% dos votos e uma diferença de 10% para o segundo colocado). Caso a eleição não tenha um desfecho no primeiro turno, estaremos diante da possibilidade real de derrota do atual presidente. O segundo turno representa uma nova eleição de caráter plebiscitário e com a oposição de direita unificada. Alguns fatores conjunturais colocaram em suspense a possibilidade de vitória eleitoral de Evo no primeiro turno.
O principal deles, o desgaste provocado pela onda de incêndios na Amazônia boliviana, que destruiu até o momento aproximadamente 4 milhões de hectares. Apesar da postura ativa do governo em combater os incêndios, a oposição de direita tem aproveitado para atacar sistematicamente o atual presidente, responsabilizando-o pela tragédia. Apesar do desgaste e das críticas de ambientalistas e setores sociais, as pesquisas não apontam uma alteração negativa nas intenções de voto e no apoio à Evo Morales.
As eleições ocorrerão em 20 de outubro. Diferente dos processos eleitorais anteriores, este, não tem gerado grande entusiasmo, expectativas e ilusões na população. Evo Morales e o MAS já não representam o imaginário de mudanças e transformações de outrora. Suas políticas sociais, ainda que, representaram mudanças positivas na vida de milhões de bolivianos (as), em especial dos povos indígenas, camponeses e dos setores mais pobres, não consolidaram um novo modelo econômico e político de ruptura com a velha economia e a direita tradicional. A vitória de Evo Morales, em 20 de outubro, representa muito mais, um freio no avanço da direita e do neoliberalismo no continente do que um verdadeiro projeto de transformação social.
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