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Trump demite Conselheiro de Segurança a quem Bolsonaro prestou continência

Nem tudo anda bem na Casa Branca. Demissão repentina de John Bolton expõe contradições na política externa dos EUA

André Freire

Historiador e membro da Coordenação Nacional da Resistência/PSOL

Nesta semana, chamou grande atenção mundial a demissão repentina de John Bolton, Conselheiro de Segurança Nacional, um cargo estratégico no governo do EUA. É a terceira mudança nesta pasta apenas durante o governo Trump.

Na última terça-feira, 10 de setembro, ele se preparava para conceder mais uma entrevista coletiva, ao lado do Secretário de Estado Mike Pompeo, quando soube da decisão de Trump. O presidente dos EUA informou a demissão por uma rede social, o que tornou o fato ainda mais curioso.

Bolton já é conhecido no Brasil. Em novembro do ano passado, ele visitou o país e foi recebido pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL-RJ), que ainda não tinha tomado posse. No encontro, foram acertados os primeiros detalhes da visita de Bolsonaro aos EUA, que ocorreu no início de 2019, quando foi recebido por Trump.

Na ocasião, chamou a atenção o fato de o atual presidente brasileiro ter prestado continência diante de Bolton, já antecipando sua atitude subserviente diante do governo Trump. Ele era tido com um interlocutor de Bolsonaro junto ao presidente estadunidense.

John Bolton era ligado à ala direita e ultra-conservadora do Partido Republicano. Era também muito próximo politicamente da direita golpista da Venezuela, sendo o grande articulador da tentativa frustrada de levar Juan Guaidó, o tal autoproclamado presidente, ao poder.

Alguns analistas de política internacional apontam o fracasso da tentativa de uma derrubada rápida de Nicolás Maduro do governo da Venezuela como um dos fatores principais que explicariam a decisão de Trump de defenestrar o agora ex-conselheiro de segurança nacional.

Na medida em que ficava evidente que a política de desestabilização do chavismo na Venezuela não seria fácil, começaram os maiores questionamentos a permanência de Bolton a frente da política segurança nacional estadunidense.

Os contratempos não se davam apenas na Venezuela. As dificuldades de dobrar o governo do Irã e impor uma política de maior isolamento a Teerã, como também as difíceis negociações sobre o desarmamento nuclear da Coreia do Norte, foram outros fatores que podem ter minando a sua capacidade de liderança frente ao governo imperialista dos EUA.

Enfrentar nas ruas a nova ofensiva recolonizadora imperialista

Até o fechamento deste artigo, ainda não se sabe quem será o seu substituto. Especula-se que o novo Conselheiro de Segurança Nacional poderia significar uma amenização da política externa mais agressiva adotada no governo Trump, mas esta mudança é desmentida pelo próprio Mike Pompeo.

As mudanças de nomes no alto escalão do atual governo estadunidense mostram contradições na execução de seu novo projeto de dominação, podem até significar ajustes de intensidade de sua aplicação, mas dificilmente significarão uma alteração significativa na sua política externa.

É o que demonstra, por exemplo, a aprovação nesta quarta-feira,  11 de setembro, pela Organização dos Estados Americanos (OEA) da utilização do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR) contra a Venezuela. Utilizando uma falsa justificativa de que o governo venezuelano estaria envolvido com narcotraficantes, a medida autoritária é mais uma demonstração que a soberania do país latino-americano segue em risco.

A proposta da utilização do TIAR foi uma iniciativa do governo colombiano, mas conta diretamente com o apoio dos EUA. Em mais uma atitude subserviente, o Brasil votou a favor da proposta. A resolução, que pode preparar uma nova investida contra a soberania da Venezuela, foi aprovada com 12 votos a favor; 5 abstenções e 1 ausência.

O que aconteceu nesta semana na OEA não é um mero acaso, tudo indica que Trump seguirá a aplicação de seu projeto de colocar novamente “a América em 1º. Lugar”. Ou seja: intensificar uma ofensiva recolonizadora sobre várias partes do mundo, em especial a América Latina. Para isso, conta com a subserviência total de boa parte dos governos de direita e extrema direita da região, como Bolsonaro no Brasil e Duque na Colômbia.

Portanto, uma das grandes tarefas do momento para a esquerda socialista na América Latina é a realização de uma ampla campanha de defesa da Soberania da Venezuela frente a uma brutal ofensiva de Trump e seus aliados.

A defesa da Soberania Nacional dos países latino-americanos não será feita por setores das burguesias locais, que há muito tempo estão associadas diretamente com grandes empresas transnacionais. Esta bandeira está cada vez mais nas mãos dos movimentos sociais da classe trabalhadora e do conjunto dos explorados e oprimidos.

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