Quem ou o que é a Amazônia? O que estamos defendendo?


Publicado em: 22 de agosto de 2019

Brasil

Luiz Henrique Arias, de Belém (PA)

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

Brasil

Luiz Henrique Arias, de Belém (PA)

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

Compartilhe:

Ouça agora a Notícia:

Nossa região voltou ao noticiário nacional e internacional, após um misto de fuligem e nuvens ter feito a principal cidade do país, São Paulo, escurecer às 15h da tarde em um dia normal. Rapidamente a notícia se espalhou pelas redes sociais e o mundo resolveu olhar para os problemas das queimadas, as quais estão reduzindo a cinzas nossas florestas.

Longe de ser novidade, a barbárie impulsionada por Bolsonaro, e executada por madeireiros e fazendeiros é mais um capítulo da destruição e saque das nossas riquezas perpetrados por mais de 400 anos em nossa região. Vivemos séculos de colonialismo e exploração das drogas do sertão, dois ciclos econômicos de extração da borracha, e desde o Golpe de 64, o projeto econômico para a nossa terra está baseados naquilo que convencionamos chamar de “Grandes Projetos”.

O Plano dos militares estava fundamentado em uma visão de que a Amazônia seria um grande “vazio demográfico”, e com o medo dela ser “ocupada” por agentes estrangeiros, o lema da Ditadura era “Integrar para não entregar”. Estimulou-se então a migração para a região (Terra sem homens para homens sem terras), rasgou-se a floresta com criação de estradas, como a Transamazônica (até hoje inconclusa) e a Belém-Brasília (iniciada por JK e concluída pelos militares), e criou-se uma série de projeto de hidroelétricas (como Tucuruí e a recente Belo Monte) e de exploração minerária.

Mas uma coisa que muito nos incomoda, quando os não-amazônidas falam da nossa região, é que inclusive dentro dos grupos de esquerda ainda impera a visão do “vazio demográfico”. Fala-se das queimadas e indigna-se com a floresta ardendo e os animais morrendo (o que obviamente é digno de justíssima revolta), mas se esquece que esse território todo é historicamente ocupado por pessoas, e que são elas as principais afetadas pelo avanço do agronegócio. São estas pessoas que não só são atingidas pelas queimadas, mas que entregam o seu sangue todos os dias há décadas pelo direito de viver no seu território.

Desde 1612, quando a colonização pelo português aqui começou que centenas de povoados indígenas batalharam e guerrearam pelo seu território; na luta contra a escravidão, foram séculos de formação de quilombos de resistência; são décadas em que o Estado do Pará é, por exemplo, um dos líderes em chacinas e assassinatos de camponeses e de trabalhadores rurais; no seio da floresta há também milhares de ribeirinhos que vivem da pesca e do açaí, e seringueiros que vivem da extração da borracha. Enquanto São Paulo escureceu por um dia, há um surto de doenças respiratórias em crianças e idosos em Estados como Acre e Rondônia.

Portanto, vamos divulgar as notícias, lutar contra a necro-política de Bolsonaro, denunciar o agronegócio e se manifestar pela defesa das nossas florestas. Mas lembremos que quando falarmos de Amazônia, não estamos falando apenas de mata queimando, e animais sendo carbonizados. Falamos principalmente sobre as vidas humanas que aqui residem e que são violadas todos os dias há séculos. É pelo nosso direito à terra, ao rio, à natureza e à vida digna. É pela demarcação das terras indígenas e quilombolas, é pela reforma agrária e contra a expulsão de camponeses de suas terras, é pelo direito dos povos tradicionais ao seu território e pela manutenção da floresta em pé. Essa é a nossa defesa!


Contribua com a Esquerda Online

Faça a sua contribuição