Em sete meses, o cenário é de terra arrasada. O governo permitiu a venda da Embraer, vendeu aeroportos, a BR Distribuidora e está em curso a venda de refinarias e campos de petróleo e a privatização dos Correios, da Eletrobrás e dos bancos públicos. O meio ambiente, a Amazônia e as terras indígenas também estão na mira. A pergunta é: o que restará das riquezas do País e de nossa soberania, após quatro anos?
O petróleo pode deixar de ser nosso
Na semana passada, o ministro Paulo Guedes mandou um recado ao presidente da Petrobras: “Vamos privatizar Correios, Eletrobrás, e não duvido que vamos privatizar coisas maiores, viu, Castello?”. Na sequência, desmentiu, mas o desmonte começou faz tempo, nos leilões do PT e com Temer. Com Bolsonaro, ocorreu novo leilão, a venda de campos no RN e no RJ e a BR Distribuidora. Agora, está em curso a venda da Liquigás e de oito refinarias, que representam metade da capacidade de refino do País. O pacote inclui malhas de dutos, fábricas de fertilizantes e termoelétricas, em nove estados. A Petrobrás abrirá mão do que investiu em décadas e ainda terá de pagar pelo uso.
Para 10 de setembro, está prevista a venda de 273 poços de uma só vez. E para novembro, um mega-leilão, de cessão onerosa. A venda de campos, refinarias e da distribuição pavimentam o caminho para a privatização de nossa maior empresa.
“America First”
A entrega do petróleo é parte do estreitamento das relações entre Brasil e Estados Unidos. Eleito com o slogan “O Brasil acima de tudo”, Bolsonaro têm agido com submissão e vassalagem com os EUA. Foi o primeiro país que visitou, rompendo a tradição diplomática que privilegiava a Argentina. Em seguida, prestou continências, beijou a bandeira norte-americana, silenciou diante da separação de crianças brasileiras de seus pais e foi parte ativa na tentativa de golpe na Venezuela.
A aproximação é tanta que está para ser criado um Fórum Permanente Brasil-Estados Unidos, para dar um “caráter político e não técnico” nas negociações, agilizando tomadas de decisões e acordos. Soma-se a isso a indicação do filho de Bolsonaro como embaixador nos EUA, próximo de Steve Bannon. O bolsonarismo vai transformando o país em um verdadeiro quintal de Trump.
Um símbolo é o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas para a instalação da Base de Lançamento de Foguetes em Alcântara (MA). A base é estratégica para os EUA. Devido a velocidade de rotação maior da Terra naquele ponto, a economia de combustível é de até 30%. Pelo acordo, os norte-americanos teriam “áreas restritas” na base, dentro de nosso território, nas quais brasileiros não poderiam entrar sem autorização. Também seríamos impedidos de tirar fotos, de agir em casos de acidentes, e de usar os recursos do aluguel da base para investir em nosso próprio programa espacial. A proposta, que está no Senado, fere a soberania do país, permitindo o controle de uma parte do território. E de terras de comunidades quilombolas, que seriam removidas.
Commodities x meio ambiente
Vai se aprofundando a posição do Brasil como plataforma de exportação de produtos básicos, como minério e agrícolas. “O Brasil vive de commodities, daqui a pouco, o homem do campo vai perder a paciência e vai cuidar da vida dele. Vai vender a terra, aplicar aqui ou lá fora. A gente vai viver do quê? O que nós temos além de commodities?”, afirmou Bolsonaro.
É em nome do agronegócio que o governo ataca os dados do INPE sobre o aumento do desmatamento na Amazônia. É o agro que desmata. E que está de olho nas terras indígenas e em suas riquezas. E por isso, Bolsonaro declara guerra aos povos originários, nega-se a demarcar reservas, ameaça as atuais e permite a morte de lideranças.
O ministro Ricardo Salles chegou a dizer que a defesa do Meio Ambiente passa por uma “solução capitalista”. Como na canção de Raul Seixas, pretende alugar a Amazônia. No entanto, o ministro esquece que a responsabilidade pela catástrofe ambiental que ameaça o planeta e a Amazônia é do capitalismo e suas empresas: o agronegócio, a mineração, o garimpo e as madeireiras.
Além dos EUA, o governo assinou o Acordo de Comércio entre o Mercosul e a União Europeia. O texto, que foi comparado ao da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) garante algumas poucas concessões ao agronegócio, como quotas de exportação de carne. No mais, aprofunda o caráter subalterno do país, pois 80% de todos os produtos exportados pela UE são industrializados. E ainda prevê que as empresas europeias possam participar de licitações de compras e obras públicas, feitas pelo governo brasileiro e por estatais (caso sobre alguma). Mais um passo para a desindustrialização.
Para impedir a entrega das riquezas, derrotar Bolsonaro das ruas
Se os governos petistas chegaram a realizar leilões do petróleo e defenderam o agronegócio (não realizando a reforma agrária, por exemplo), o governo Bolsonaro assume, sem disfarce, a sua missão de entregar todas as nossas riquezas.
Os setores que compõem o governo – o capital financeiro, os militares, a Lava Jato e o bolsonarismo – a mídia e o Congresso Nacional estão juntos nessa pauta de entrega total do país. Agem em nome do lucro das multinacionais, contra os mínimos interesses do povo. Impedem que o país se desenvolva e que busque ser soberano e independente.
Estamos nos consolidando como uma plataforma de exportação de commodities e de produtos fabricados por uma mão de obra barata e cada vez mais extensa e descartável, erguida a custa de 13 milhões de desempregados e da destruição dos direitos trabalhistas.
A saída é resistirmos nas ruas, combinando as lutas em defesa das estatais, do petróleo e do meio ambiente com a luta pela educação pública e a universidade. O Future-se, por exemplo, nada mais é do que uma tentativa de saquear outras de nossas riquezas, a pesquisa e a Ciência.
Não há soluções mágicas. Apenas aproximando todas estas pautas, em unidade, conseguiremos acumular forças, preparando uma grande resistência nacional para derrotar Bolsonaro nas ruas. Um momento importante desta luta em defesa da soberania é a construção dos atos do Grito dos Excluídos, no próximo dia 07 de setembro.
Comentários