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Ser fã de Bolsonaro é atestado de masculinidade?

Direita Volver

Coluna mensal que acompanha os passos da Nova Direita e a disputa de narrativas na Internet. Por Ademar Lourenço.

A ideia de que, para “ser homem”, é preciso ser violento, autoritário e competitivo é cada vez mais criticada. Lentamente, as coisas vêm mudando. Mas uma mudança profunda não será fácil. O machismo é uma ideologia e os homens se beneficiam, têm vantagens diante da opressão que sofrem as mulheres. O capital lucra com esse ideologia e por isso, seus representantes, seus políticos, como Bolsonaro, vão defendê-las até o fim. 

Ser fã de Bolsonaro hoje é um atestado de masculinidade que muitos homens precisam desesperadamente. Afinal, muitos não estão seguros da própria sexualidade e cultuar um ídolo alivia a angústia e o medo. E angústia e medo são bem explorados por governos autoritários.

Governos autoritários e o “homem ideal” 

 “Dizer que um homem é heterossexual implica somente que ele mantém relações sexuais exclusivamente com o sexo oposto, ou seja, mulheres. Tudo ou quase tudo que é próprio do amor, a maioria dos homens hétero reservam exclusivamente para outros homens. As pessoas que eles admiram; respeitam; adoram e veneram; honram; quem eles imitam, idolatram e com quem criam vínculos mais profundos; a quem estão dispostos a ensinar e com quem estão dispostos a aprender; aqueles cujo respeito, admiração, reconhecimento, honra, reverência e amor eles desejam: estes são, em sua maioria esmagadora, outros homens. Em suas relações com mulheres, o que é visto como respeito é gentileza, generosidade ou paternalismo; o que é visto como honra é a colocação da mulher em uma redoma. Das mulheres eles querem devoção, servitude e sexo. A cultura heterossexual masculina é homoafetiva; ela cultiva o amor pelos homens”

Este trecho, atribuído à autora feminista Marilyn Frye, resume bem a relação entre governos autoritários e o amor que boa parte dos homens tem por ídolos que afirmam sua virilidade.

Um exemplo é o do presidente russo Vladmir Putin. A exibição de fotos dele sem camisa e em poses provocantes é uma de suas armas de propaganda favoritas. E dá certo. Putin é visto por muitos russos como o macho alfa. O padrão a se seguir. Isto ajuda em sua popularidade. Fortalece seu governo conservador, nacionalista e autoritário. 

Outro que usa esse tipo de propaganda é o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Quando ele diz que pode “pegar as mulheres pelas calcinhas” porque é poderoso, seus fãs vão ao delírio. Para eles, defender Trump também é um forma de se mostrarem poderosos, parecidos com o ídolo. 

Este método não é novidade. O fascismo e o nazismo exploravam muito a afirmação de uma masculinidade idealizada. As roupas de couro, os corpos musculosos, a brutalidade, tudo isto fez parte da propaganda nazista e fascista. Mussolini também se vendia como um modelo de macho ideal, um soldado pronto para ir à guerra sem medo de morrer. 

Bolsonaro top model

Logicamente Bolsonaro não poderia ficar de fora. Militarista, autoritário e conservador, se vender como modelo de masculinidade também é uma forma de propaganda do presidente do Brasil. Mesmo não tendo o mesmo físico de Putin, ele faz seu esforço. 

Foto fazendo a barba, foto fazendo flexões, foto mostrando a marca da facada que levou como se fosse um soldado exibindo suas feridas de guerra. Tudo isto é para mostrar sua suposta virilidade. A exibição do corpo masculino também foi copiada pelo ministro da Educação Abraham Weintraub, que usou uma desculpa esfarrapada para também mostrar uma “cicatriz de guerra”.

Quase tudo em volta de Bolsonaro gira em torno de afirmar sua “macheza”: a defesa da violência, a busca por eliminar os inimigos, a incapacidade de sentir remorso em causar o sofrimento alheio. Ele seria a esperança daqueles que querem o “homem à moda antiga” de volta.

O uso político das angústias masculinas não é novidade. Uma das funções do machismo é fazer com que homens pobres e de classe média achem que estão do mesmo lado que os homens ricos. Não se trata apenas de “masculinidade tóxica”. O machismo é um meio de controle político. É uma ideologia que faz o trabalhador defender o interesse do patrão.

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Machismo