Eleições na Argentina: o primeiro PASO


Publicado em: 6 de agosto de 2019

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Renato Fernandes, de Campinas (SP)

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Neste domingo, 11/08, ocorrerá na Argentina as Primárias Abertas Simultâneas Obrigatórias. A PASO é uma eleição primária que habilita os(as) candidatos(as) para participarem das eleições de outubro: cada chapa deve ter 1,5% de votos válidos para poder se apresentar nas eleições. Além da PASO nacional, ocorrerá também algumas PASO regionais, como na província de Buenos Aires.

As eleições acontecem em um momento particular: no plano internacional, um giro reacionário com Trump e Bolsonaro marcam uma volta de políticas ultraliberais e conservadoras; no plano nacional, o governo Macri vem acumulando uma política desastrosa desde 2015 com desemprego em alta (10,1% no primeiro trimestre de 2019), alta inflação (22,4% acumulada até junho desse ano; 55,8% de julho/18 a junho/19), crescimento da dívida (em 2015 a dívida equivalia a 52,6% do PIB; em março de 2019 chegou a 88,5%) e uma queda constante na atividade econômica (2016, -1,8%; 2017, +2,9%; 2018, -2,5; previsão 2019, -1,8%).

Apesar de conduzir o país ao desastre econômico e com uma popularidade relativamente baixa (24%), Macri conseguiu aprovar uma série de medidas liberais como corte dos subsídios ao gás e energia, diminuição de programas sociais e uma reforma da Previdência. Ele também foi responsável pela volta da Argentina ao FMI, em 2018. 

Se eleito, promete continuar essa agenda com uma reforma trabalhista. O projeto de retirada de direitos de Macri era muito maior, porém a resistência nas ruas com cinco greves gerais e as dificuldades na recuperação da economia fizeram com que seus planos não tivessem a força necessária para avançar.

Apesar disso, o governo Macri continua forte nas disputas. Sua aliança se denomina Juntos por el Cambio e conseguiu reunir as forças que o levaram a vitória em 2015, além de um setor do peronismo representado por Miguel Ángel Pichetto (candidato a vice-presidente). Pichetto já foi chefe da bancada peronista no Senado. Nas últimas pesquisas, a chapa presidencial aparece entre 34,7% (na pesquisa de Circuitos) até 37% (Marketing & Estadística).

A oposição mais representativa é a da aliança Frente de Todos que tem como candidato presidencial Alberto Fernández e para vice-presidente Cristina Kirchner. Alberto Fernández tem um longo currículo político, incluindo o de chefe de gabinete do ex-presidente Néstor Kirchner. A aliança conta também com o apoio de Sergio Massa, ex-chefe de gabinete de Cristina Kirchner e terceiro colocado nas eleições de 2015, com 21% dos votos. Alberto e Cristina representam a volta de uma política desenvolvimentista nos marcos do neoliberalismo. A tática do peronismo foi colocar um rosto moderado nas eleições, para ganhar a aceitação da burguesia nacional e do eleitorado de centro-direita que está descontente com Macri, porém não aceita Cristina Kirchner. Além disso, o judiciário está avançando sobre Cristina Kirchner, que responde na Justiça a um processo sobre corrupção. Nas pesquisas eleitorais, a chapa está em primeiro lugar nas intensões de voto, variando entre 37,6% (RDT) até 41% (Marketing & Estadística).

No campo do peronismo, há uma outra aliança Frente Consenso Federal, representada por Roberto Lavagna como candidato presidente. Sua candidatura varia entre 4% (Marketing & Estadística) a 9,7% (Circuitos). 

Como uma refração do conservadorismo brasileiro, há candidatos que buscam ser o “Bolsonaro Argentino”, na Frente NOS, representada por Juan Centurión e Cynthia Hotton – varia entre 1,7% (Circuitos) e 3% (Marketing & Estadística). Eles também tentam ser os representantes do novo conservadorismo mundial, aproximando-se de Steve Bannon.

Já na extrema esquerda o cenário tem algumas nuances. A polarização entre Macri e o peronismo kirchnerista pressiona para a redução do espaço eleitoral da esquerda socialista, porém a existência de uma esquerda social e política consolidada no país, e que esteve presente na resistência a Macri, faz com que essa esquerda tenha espaço eleitoral. A Frente de Izquierda y de los Trabajadores –  Unidad – FIT-U – representa a maior parte dessa esquerda, onde estão o Movimiento Socialista de los Trabajadores (MST), junto com o PTS, IS e o PO. O candidato da FIT será Nicolas Del Caño, que aparece entre 2% (Marketing & Estadística) e 4,7% (Circuitos) das intensões de voto. Essas pesquisas demonstram que a FIT-U consolidou um espaço eleitoral minoritário, e provavelmente terá candidato presidencial, além de diversos candidatos a deputados e governadores nas eleições de outubro. 

Por outro lado, também da esquerda socialista, há a candidatura de Manuela Castañeira, pelo Nuevo MAS, às prévias. No melhor dos cenários, Manuela alcança 1% dos votos (Marketing & Estadística), e não conseguiria assim passar a PASO, o cenário mais provável.


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