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MOVIMENTO

“Future-se”: construir hoje a luta pelo amanhã

Juliana Bimbi, estudante da UFRGS
UNE

Os estudantes que estiveram no 57° congresso da União Nacional dos Estudantes do dia 10 a 14 de Julho foram surpreendidos logo na volta para suas casas pela notícia da nova jogada do ministério da educação: o chamado “Future-se”, que visa transformar radicalmente a lógica de funcionamento das universidades. Não foi só ao movimento estudantil que esse projeto causou estranhamento, mas também à toda a comunidade universitária e educacional: os professores, reitorias e técnicos administrativos se debruçaram a analisar e entender a motivação do MEC por trás dessas propostas tão profundas apresentadas sem nenhum tempo para debate entre os profissionais e estudiosos da área. Diversas universidades e associações se posicionaram com desconfiança em relação aos seus pontos centrais, como a substituição das fundações de apoio por Organizações Sociais.

Apesar do nome, o projeto não tem nada de futurístico. É a transformação de todas as funções da universidade em mercadoria: o ensino, a pesquisa, entre outros. O movimento estudantil, principalmente das universidades federais, pelo menos desde o ano passado vem alertando à necessidade de defender o caráter público das universidades sob ameaça. Os massivos atos do dia 15 e 30 de maio e a greve do dia 14 de junho tinham como eixo central a defesa do ensino, pesquisa e extensão estritamente públicos. Os estudantes fizeram barraquinhas e apresentações de suas produções científicas a céu aberto para a população como forma de demonstrar a importância de uma universidade que produza com financiamento público, voltada aos interesses da sociedade que paga os impostos. No próprio congresso da UNE, os mais de 10 mil estudantes lá reunidos encaminharam um novo dia de lutas em defesa da educação pública: o dia 13 de Agosto.

Na verdade, o nome “future-se” só faz sentido se a discussão política estiver pautada pela ótica do mercado. É exatamente esse o conteúdo do futuro que esse setor articulado com o governo federal quer impor para a juventude. Não é a toa que esse projeto vem à tona logo depois da aprovação da Reforma da Previdência, em conjunto com os planos privatistas para outros setores como a Petrobrás e o desmonte da saúde, a saída para a crise social para eles é o total desmonte dos direitos sociais transformando-os em mercadoria para quem já lucra no país.

O future-se é um projeto global pois ele instala uma nova lógica de funcionamento da universidade pública. Seus idealizadores o justificam em nome da autonomia, ironicamente, ao mesmo tempo que são aliados do governo que quer cada vez mais diminuir a liberdade nas universidades, de expressão, de diferentes pensamentos e de escolha dos seus administradores. Na realidade, a “autonomia” só irá ter reflexo na falta de amparo que as universidades vão sentir a partir do momento da aplicação desse plano. Na tomada de decisões será justamente o contrário: menos garantia ainda de que chegará dinheiro público para subsidiar a instituição, levando as administrações a terem que se submeter aos interesses das empresas privadas.

Entender o projeto como um todo é uma conclusão necessária para os próximos passos do movimento. A elite brasileira e os setores que estão no governo estão dispostos a acabar com qualquer possibilidade de futuro aos jovens para manter os seus índices de lucro. Desde 2016 apoiaram o que foi necessário para aplicar esses ataques o mais rápido possível, incluindo o golpe parlamentar, as medidas impostas por Temer em 2017 e a influência nas eleições de 2018. Em nenhuma hipótese abrir as instituições federais para qualquer a interferência dessa elite resultará em algo menos do que o total desmonte da universidade como a conhecemos. Se engana quem pensa que é possível tratar os pontos desse programa isolados da sua articulação total. Além disso, só será possível ganhar a opinião pública e o conjunto da comunidade universitária para o nosso lado entendendo e demonstrando que a nossa disputa, em última instância, é para definir à quem se subordinará a produção de conhecimento no Brasil: às necessidades da população ou ao lucro dos grandes empresários.

Por isso, as próximas iniciativas serão decisivas. O 13 de agosto será o dia que os estudantes e a comunidade educacional colocarão seu time na arena de batalha. Construir um grande dia de mobilização é a única esperança para manter a chama viva e buscar inverter o signo. É preciso ir às ruas denunciar a medida como o estopim do processo aberto com o anúncio dos cortes na educação, privando o estado brasileiro da responsabilidade de resolver o problema no orçamento.

Mas o movimento estudantil tem a responsabilidade de barrar todas as 16 alterações de lei propostas pelo MEC, se colocando nas ruas para disputar a sociedade em defesa da educação pública. Nos últimos anos as universidades foram palco de embates e conquistas importantes. Isso significa que ir pras ruas hoje também é defender a permanência dos estudantes cotistas, que precisam de bolsas para se manter na universidade; a garantia de que os estudantes negros e negras não serão os últimos de suas famílias a entrar no ensino superior; que a produção científica feita pelas ciências humanas não seja desmontada por um governo que reverencia a Ditadura Militar e diz que não houve escravidão. As universidades devem ser trincheiras de luta que busquem organizar os que precisam da educação pública para viver.

A escalada autoritária e neoliberal só será barrada com um posicionamento firme e direcionado à totalidade das suas medidas. Os projetos do governo são indissociáveis, fazem parte de um plano articulado que visa derrotar as mobilizações e impor um novo tipo de Brasil.

A conclusão do momento político que vivemos é a de que não é mais possível negociar nenhum ponto com os representantes desse projeto. Pagaremos o preço sem refletir essa lição em nossas ações. Encher as ruas no dia 13 contra a privatização da educação e o desmonte do nosso futuro é única a esperança para um novo amanhã.