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EDITORIAL

Amazônia em chamas

Editorial de 29 de julho
Felipe Werneck / Ibama

O crescimento do desmatamento da floresta amazônica nos últimos meses é resultado direto do tratamento dispensado pelo governo Bolsonaro ao meio ambiente. 

A política antiambiental tem sido uma das principais marcas do presidente e de seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. As declarações do presidente, durante a cúpula do G-20, em junho deste ano, de que o Brasil é alvo de ‘psicose ambientalista’ foi apenas a antessala da absurda acusação feita na semana passada ao diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Magnus Osório Galvão, de que os dados relativos ao desmatamento da Amazônia seriam ‘mentirosos’.

O Inpe possui uma das mais avançadas tecnologias do mundo para detectar focos de desmatamento em tempo real. O sistema Deter-B apontou que só este mês de julho houve um crescimento de mais de 102% de áreas desmatadas em relação ao mesmo período do ano passado. 

O desmatamento vem em uma crescente mês após mês desde que Bolsonaro assumiu o poder em janeiro deste ano. Os desmatadores estão se sentindo à vontade para invadir unidades de conservação, desrespeitar leis ambientais, poluir rios, promover queimadas e atacar indígenas e camponeses. Até o Fundo Amazônia (bancado pela Noruega e Alemanha) que foi criado para financiar projetos de preservação da floresta está ameaçado em função da intenção do governo de utilizar os recursos para indenizar grileiros que declaram ter terras em unidades de conservação.

Um governo que sequer reconhece o aquecimento global, reproduz uma visão sobre a Amazônia que é idêntica a dos governos militares (1964-1985), isto é, que a Amazônia seria uma espécie de vazio demográfico, um ‘inferno verde’ com vastíssimas riquezas naturais que estariam disponíveis para serem pilhadas e exploradas sem nenhum tipo de preocupação com a preservação dos recursos naturais e a biodiversidade.

Essa visão predatória e antiambiental das terras, florestas e águas da região amazônica é uma ameaça ao planeta, pois o bioma amazônico é fundamental para o equilíbrio do clima em todo o mundo. A Amazônia abriga a maior bacia hidrográfica e da maior floresta tropical do planeta. 

Por isso, o grande capital segue bancando grandes projetos agropecuários, minerários e energéticos em toda a região. A fronteira da soja segue se expandindo do norte do Mato Grosso em direção à Rondônia e ao oeste do Pará, os pastos para criação e gado se multiplicam no sul e sudeste do Pará e os grandes projetos hidrelétricos se instalam nos principais rios da Amazônia, como o Xingu, o Teles Pires e o Tapajós.

Não à toa os principais representantes do agronegócio estão no comando dos ministérios e órgãos federais responsáveis pelas questões fundiária, ambiental e pela agenda econômica. Eles querem o fim das demarcações das terras indígenas, a liberação desenfreada dos agrotóxicos e o sucateamento de órgãos como INCRA e FUNAI.

Nossa legislação ambiental e fundiária, mesmo sendo bastante limitada, hoje é um entrave ao projeto de desenvolvimento predatório dos recursos naturais da Amazônia do atual bloco de poder.

Bolsonaro elegeu os povos indígenas como um de seus principais inimigos, precisamente porque os povos originários são guardiões das florestas e das águas. O último e trágico exemplo ocorreu no dia 23, no Amapá, quando garimpeiros invadiram as terras dos waiãpis e assassinaram o cacique Emyra Waiãpi.

As terras indígenas e demais unidades de conservação estão na mira do grande capital nacional e internacional e das potências imperialistas (como os EUA que foram presenteados por Bolsonaro com a cessão da base de Alcântara), a despeito de sua importância para a reprodução da vida dos povos indígenas e para o equilíbrio ambiental do planeta.

Bolsonaro é uma ameaça ao planeta. É urgente unificar as diferentes agendas de luta contra as políticas desse governo. Nesse mês de agosto muita luta vai ocorrer. Além da continuidade da batalha em defesa da previdência, da marcha das margaridas e das manifestações contra a privatização das universidades federais, ocorrerá de 09 a 13 de agosto em Brasília a primeira marcha das mulheres indígenas, uma ótima oportunidade de juntar trabalhadores (as), estudantes, indígenas e camponeses (as) para enfrentar o projeto do atual governo de morte e destruição da vida e do meio ambiente.