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BRASIL

Levantar a cabeça e seguir em frente. A crise do governo, paradoxalmente, vai prosseguir

Marco Dantas, do Rio de Janeiro, RJ

Todos ainda assimilam o significado da derrota e as consequências nefastas para o conjunto da classe trabalhadora em virtude da votação do texto base da Reforma da Previdência em primeiro turno na Câmara dos Deputados, pelo placar de 379 a 131.

A vitória do governo foi clara, mas quem saiu fortalecido foi Rodrigo Maia (DEM-RJ), que articulou a votação da reforma com os partidos de direita. Bolsonaro, Guedes e Maia saem fortalecidos aos olhos do mercado e odiados por uma enorme parcela dos trabalhadores. Parcela essa que vai aumentar em médio, longo prazo.

COMPRA DE VOTOS ESCANDALOSA
Num primeiro momento, no calor pós-votação, o grau de indignação é enorme. O governo Bolsonaro não mediu esforços ao comprar os deputados a peso de ouro. Segundo dados da ONG Contas Abertas, o governo liberou mais de R$ 2,5 bilhões em junho para o Centrão votar SIM na reforma e o valor total em emendas (compra de votos) pode chegar a R$ 10 bilhões. Segundo a Folha de S. Paulo, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, liberou R$ 40 milhões a cada deputado que votasse a favor da reforma. Um escândalo.

UNIDADE DA BURGUESIA PELA REFORMA
Nas duas últimas semanas a unidade política em torno da aprovação célere da reforma foi enorme: Governo, Congresso, Banqueiros, Organizações Globo, Folha de S. Paulo, etc todos juntos em prol da “Nova Previdência”. Anteriormente, estes atores também estiveram juntos na defesa da Reforma Trabalhista, que piorou as relações de trabalho e retirou direitos. Portanto houve uma colaboração de todos para concluir este ataque. O governo Bolsonaro, através do ministro da Economia, Paulo Guedes, atuou nos bastidores junto de empresários e banqueiros. Rodrigo Maia foi o principal articulador entre os deputados, se credenciando como maior defensor da reforma, ganhando pontos com a burguesia; e a grande mídia fez o papel sujo de disseminar falsos benefícios da medida para o economia do país.

REFORMA NÃO GARANTE CALMARIA POLÍTICA, NEM ECONÔMICA AO GOVERNO
No entanto, a votação está longe de garantir tranquilidade ao governo e ao mercado. Após as votações na Câmara e Senado, a unidade destes setores possivelmente se esfacelará. O cenário mais provável é que sigam as agruras entre Bolsonaro e Maia, que há tempos não se bicam; que o governo tenha dificuldade em aprovar suas medidas anti-povo no Congresso; e que a relação governo e grande mídia siga inconstante.

OS BANQUEIROS AGRADECEM
Aparentemente os grandes bancos saem ganhando. A Previdência Privada será difundida e aumentará ainda mais o lucro dos bancos, que já ganham muitos bilhões de reais com os juros altos e as dívidas públicas pagas pelo governo.

SEGUIR EM FRENTE NAS RUAS
Cabe à esquerda socialista seguir em frente, pois a crise do governo seguirá. As denúncias do The Intercept Brasil contra as arbitrariedades e crimes do ministro da Justiça, Sérgio Moro devem ter novos capítulos. Assim como os protestos contra as medidas do governo Bolsonaro.

Os trabalhadores sofreram um duro golpe, mas seguirão fazendo experiência com esse governo e a tendência é que o jogo vire, mais cedo ou mais tarde.