O Nordeste tem sido uma região de resistência ao crescimento da extrema-direita. Provavelmente pela realidade econômica e social da região, pela força que o PT adquiriu devido ao efeito de suas políticas sociais na época que esteve à frente da Presidência, mas também pela história de luta e resistência do povo nordestino. Nas eleições de outubro de 2018, enquanto o bolsonarismo crescia como um meteoro no sul e sudeste, o PT ampliou sua votação no Nordeste, elegeu quatro governadores e fez parte da chapa dos eleitos nos outros cinco estados. No Ceará, Camilo Santana (PT) e seu arco de alianças garantiu sua reeleição com 79,9% dos votos e uma base governista de 38 deputados na Assembleia Legislativa (de um total de 46).
Contudo, esses governadores e seus respectivos partidos estão demonstrando não estarem à altura da resistência que os eleitores do Nordeste depositaram neles. Estão fechando com o governo Bolsonaro naquele que é o maior ataque aos trabalhadores e a população mais pobre nos últimos trinta anos.
A Contrarreforma da Previdência no projeto de governo de Bolsonaro não é apenas mais uma medida. É um ataque profundo que pretende abrir caminho para um plano de recolonização do Brasil e um patamar inferior de relações trabalhistas e direitos. A contrarreforma retira direitos em um contexto econômico onde eles são e serão vitais. Deles dependem a vida de milhares de idosos dos rincões desse país. E ainda que o relatório final da contrarreforma, do deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), tenha deixado de fora o regime de capitalização, as mudanças na aposentadoria dos trabalhadores rurais e o Benefício de Prestação Continuada (BPC), porque havia o risco de não conseguir a aprová-las, segue sendo uma proposta reacionária.
No momento que a economia tá ladeira abaixo e que o desemprego, o desalento, a fome e a miséria retornam com força, o relatório que Bolsonaro-Maia-Alcolumbre pretendem aprovar acaba com o sonho de acesso ao direito de uma aposentadoria justa. O relatório expressa uma contrarreforma que aumenta a idade mínima e o tempo de contribuição, acaba com a aposentadoria especial dos professores já que altera a idade e tempo de contribuição, garante a “desconstitucionalização” (futuras mudanças poderão ser aprovadas apenas por lei complementar de maioria simples no Congresso) e flexibiliza outros direitos como FGTS, etc.
Apesar da campanha mentirosa do governo de que a contrarreforma é a redenção do país, vai trazer emprego, etc., e do toma lá da cá em emendas a parlamentares para garantir votos, os trabalhadores e grande parte da população se colocaram em marcha dia 15 de maio, 30 de maio e dia 14 de junho construindo uma importante resistência à proposta da contrarreforma. No Nordeste, os protestos foram mais uma vez expressivos, assim como em várias capitais do país. Entretanto, na contramão das mobilizações, os governadores da região em que os eleitores têm rechaçado Bolsonaro, estendem a mão para ajudar o governo em seu principal ataque contra os trabalhadores e a população pobre.
É uma vergonha que os governadores do Nordeste encabeçados pelo PT com Wellington Dias e Camilo Santana, governador do Piauí e do Ceará respectivamente, estejam em Brasília implorando pela inclusão de estados e municípios no relatório da contrarreforma e prometendo pressionar os parlamentares de seus estados a votarem pela contrarreforma. É uma traição aos movimentos sociais que estão travando a luta contra a reforma, que o Partido dos Trabalhadores autorize seus governadores a colaborarem com Bolsonaro no ataque que pretende abrir as portas para vários outros. Vale lembrar que ambos governadores fizeram uma minirreforma da previdência em seus estados, elevando a alíquota de contribuição dos servidores de 11 para 14%, wellington Dias em 2016 e Camilo Santana em 2017.
Enquanto novas mobilizações estão convocadas como o dia 12 de julho, ato em Brasília em defesa da educação e contra a reforma, e o 13 de agosto deliberado na 9ª Conferência Nacional de Educação da CNTE como Dia Nacional de Mobilização no setor da educação, o PT envergonha toda a esquerda ao ter seus governadores, não somente apoiando a contrarreforma de Bolsonaro, mas brigando para que os mesmos ataques sejam válidos para os servidores de todos os estados e municípios. Em vez de se alinhar com a resistência popular se alinham com o governo Bolsonaro. Uma vergonha que deverá cobrar seu preço no processo de construção de uma alternativa de esquerda ao governo Bolsonaro nos processos eleitorais do próximo ano. Apesar do golpe, apesar da prisão do Lula, o papel dos governadores do PT nesse processo, parece demonstrar que ainda não extraíram como conclusão que a conciliação de classe para governar para o capital é uma soma que subtrai.
A todos aqueles e aquelas que estão nas mobilizações para derrotar a contrarreforma nos cabe repudiar a postura destes governadores, lutar para que as centrais sindicais, a UNE, o MST, e demais movimentos comprometidos com a luta contra a reforma façam o mesmo e fortaleçam a construção do 12 de julho e 13 de agosto.
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