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MUNDO

Qual, então, é o futuro de Hong Kong e de movimentos pela democracia e justiça econômica?

Jacobin
Anthony Kwan / Getty

HONG KONG, HONG KONG – JUNE 17: Protesters occupy a street demanding Hong Kong leader to step down after a rally against the now-suspended extradition bill outside of the Chief Executive Office on June 17, 2019 in Hong Kong China. Hong Kong pro-democracy activist, Joshua Wong, said on Monday after being released from jail that Chief Executive Carrie Lam must step down as he joined protesters against the controversial extradition bill which would allow suspected criminals to be sent to the mainland and place its citizens at risk of extradition to China. (Photo by Anthony Kwan/Getty Images)

Publicamos, abaixo, um trecho de um artigo publicado no site Jacobin com opiniões de ativistas de esquerda de Hong Kong sobre a evolução da consciência da vanguarda e a necessidade de superar a tendência espontaneísta do ponto de vista da organização, e incorporar uma visão de classe da sociedade, mais além do nacionalismo, do localismo reacionário e da Socialdemocracia.

Chris Chan, sociólogo da Universidade Chinesa de Hong Kong, estudante e ativista laboral:

A partir do Movimento dos Guarda-Chuvas até os protestos Anti-Extradição, as pessoas cada vez mais aceitam ações militantes, pois reconhecem que as manifestações e ocupações não podem interromper a produção capitalista. Um resultado é importante para a esquerda: depois desses dois movimentos, as pessoas veem a importâncias das greves e o papel dos sindicatos nas lutas políticas.

Durante o Movimento dos Guarda-Chuvas, somente alguns estudantes pediam aos sindicatos para entrarem em greve. Mas durante o movimento Anti-Extradição, milhares de trabalhadores pediram que seus sindicatos organizassem greves. As lutas políticas continuarão em Hong Kong. Se a nova geração puder se engajar em ações nos lugares de trabalho, isso seria muito significativo para a Esquerda.

Au Loong Yu, escritor e ativista: 

O surgimento das duas novas correntes de jovens acima mencionadas [os localistas de direita e de extrema-direita], mais a não tão jovem Liga de Sociais Democratas, receberam um grande golpe quando o governo cassou o mandato de seus parlamentares [em 2017]. Felizmente, uma nova geração está surgindo agora e está assumindo as coisas em suas mãos. A mobilização nas ruas contra a lei de extradição para a China é essencialmente seu trabalho. No entanto, se ela não puder desenvolver sua política na direção de uma esquerda democrática e superar sua fragmentação pode não ser capaz de se consolidar em uma forte força progressista.

Em segundo lugar, a ênfase em ações orientadas ao efeito na mídia, um legado dos pan-democratas, ainda predomina amplamente entre os jovens ativistas, ao ponto que não somente são geralmente desprezados os esforços organizativos de longo prazo, mas também há uma indiferença com relação à terrível situação dos trabalhadores. Muitas pessoas agora estão chamando os trabalhadores a entrar em greve, mas isso não teve êxito. Elas simplesmente tratam os trabalhadores como uma espécie de macarrão instantâneo — o único que você precisa é fazer um pedido e o garçom irá logo lhe servir.

A trajetória histórica de Hong Kong a torna uma cidade hostil aos valores esquerdistas de solidariedade, fraternidade e igualdade. Uma cultura darwinista-social, o resultado de ter sido um porto livre por mais de 150 anos, penetrou tanto na população que é difícil para as forças de esquerda crescer. Para que isso ocorra, os jovens ativistas precisarão começar a enfrentar o tema de classe.

Lam Chi Leung, socialista em Hong Kong e membro de Left21:

Olhando para a frente, o ambiente político em Hong Kong se tornará mais complicado. O período relativamente liberal entre 1997 e 2008 terminou. O governo de Hong Kong irá lidar com os movimentos democrático e social de forma mais dura, especialmente aqueles que insistem em ações diretas em frente do Conselho Legislativo.

O governo de Hong Kong se alinha com a classe capitalista e com as forças conservadoras, que são sempre hostis aos direitos laborais, aos direitos das mulheres e aos das LGBTs, bem como a uma distribuição equitativa da riqueza. A opinião pública de Hong Kong está sob a opressão enfrentada do capital burocrático chinês e do capital monopólico de Hong Kong. Qualquer reforma social e econômica tem que confrontar a realidade do capitalismo autoritário.

No entanto, depois dos protestos contra a OMC em 2005, a greve dos trabalhadores da construção civil em 2007 e a greve dos portuários em 2013, mais ativistas se afastaram dos modelos fragmentados de luta, que eram populares nos anos 1990, e reconheceram a política de classe necessária para desafiar o neoliberalismo. Para desenvolver essa política de esquerda, necessitamos aprofundar a discussão sobre questões como “o que é a política de esquerda” e “o que fazer”, clarificando as diferenças entre a esquerda socialista e o localismo de extrema-direita e o nacionalismo.

Precisamos também ter uma perspectiva ampla sobre a China e aumentar os intercâmbios com os movimentos sociais e ativistas de esquerda na China continental. Somente por meio de uma maior colaboração com a sociedade civil e os movimentos sociais chineses que confrontam o capitalismo autoritário chinês pode a coletividade de Hong Kong assegurar uma verdadeira democracia e a igualdade social.

 

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China / Hong Kong / Jacobin