Publicamos, abaixo, um trecho de um artigo publicado no site Jacobin com opiniões de ativistas de esquerda de Hong Kong sobre a evolução da consciência da vanguarda e a necessidade de superar a tendência espontaneísta do ponto de vista da organização, e incorporar uma visão de classe da sociedade, mais além do nacionalismo, do localismo reacionário e da Socialdemocracia.
Chris Chan, sociólogo da Universidade Chinesa de Hong Kong, estudante e ativista laboral:
A partir do Movimento dos Guarda-Chuvas até os protestos Anti-Extradição, as pessoas cada vez mais aceitam ações militantes, pois reconhecem que as manifestações e ocupações não podem interromper a produção capitalista. Um resultado é importante para a esquerda: depois desses dois movimentos, as pessoas veem a importâncias das greves e o papel dos sindicatos nas lutas políticas.
Durante o Movimento dos Guarda-Chuvas, somente alguns estudantes pediam aos sindicatos para entrarem em greve. Mas durante o movimento Anti-Extradição, milhares de trabalhadores pediram que seus sindicatos organizassem greves. As lutas políticas continuarão em Hong Kong. Se a nova geração puder se engajar em ações nos lugares de trabalho, isso seria muito significativo para a Esquerda.
Au Loong Yu, escritor e ativista:
O surgimento das duas novas correntes de jovens acima mencionadas [os localistas de direita e de extrema-direita], mais a não tão jovem Liga de Sociais Democratas, receberam um grande golpe quando o governo cassou o mandato de seus parlamentares [em 2017]. Felizmente, uma nova geração está surgindo agora e está assumindo as coisas em suas mãos. A mobilização nas ruas contra a lei de extradição para a China é essencialmente seu trabalho. No entanto, se ela não puder desenvolver sua política na direção de uma esquerda democrática e superar sua fragmentação pode não ser capaz de se consolidar em uma forte força progressista.
Em segundo lugar, a ênfase em ações orientadas ao efeito na mídia, um legado dos pan-democratas, ainda predomina amplamente entre os jovens ativistas, ao ponto que não somente são geralmente desprezados os esforços organizativos de longo prazo, mas também há uma indiferença com relação à terrível situação dos trabalhadores. Muitas pessoas agora estão chamando os trabalhadores a entrar em greve, mas isso não teve êxito. Elas simplesmente tratam os trabalhadores como uma espécie de macarrão instantâneo — o único que você precisa é fazer um pedido e o garçom irá logo lhe servir.
A trajetória histórica de Hong Kong a torna uma cidade hostil aos valores esquerdistas de solidariedade, fraternidade e igualdade. Uma cultura darwinista-social, o resultado de ter sido um porto livre por mais de 150 anos, penetrou tanto na população que é difícil para as forças de esquerda crescer. Para que isso ocorra, os jovens ativistas precisarão começar a enfrentar o tema de classe.
Lam Chi Leung, socialista em Hong Kong e membro de Left21:
Olhando para a frente, o ambiente político em Hong Kong se tornará mais complicado. O período relativamente liberal entre 1997 e 2008 terminou. O governo de Hong Kong irá lidar com os movimentos democrático e social de forma mais dura, especialmente aqueles que insistem em ações diretas em frente do Conselho Legislativo.
O governo de Hong Kong se alinha com a classe capitalista e com as forças conservadoras, que são sempre hostis aos direitos laborais, aos direitos das mulheres e aos das LGBTs, bem como a uma distribuição equitativa da riqueza. A opinião pública de Hong Kong está sob a opressão enfrentada do capital burocrático chinês e do capital monopólico de Hong Kong. Qualquer reforma social e econômica tem que confrontar a realidade do capitalismo autoritário.
No entanto, depois dos protestos contra a OMC em 2005, a greve dos trabalhadores da construção civil em 2007 e a greve dos portuários em 2013, mais ativistas se afastaram dos modelos fragmentados de luta, que eram populares nos anos 1990, e reconheceram a política de classe necessária para desafiar o neoliberalismo. Para desenvolver essa política de esquerda, necessitamos aprofundar a discussão sobre questões como “o que é a política de esquerda” e “o que fazer”, clarificando as diferenças entre a esquerda socialista e o localismo de extrema-direita e o nacionalismo.
Precisamos também ter uma perspectiva ampla sobre a China e aumentar os intercâmbios com os movimentos sociais e ativistas de esquerda na China continental. Somente por meio de uma maior colaboração com a sociedade civil e os movimentos sociais chineses que confrontam o capitalismo autoritário chinês pode a coletividade de Hong Kong assegurar uma verdadeira democracia e a igualdade social.
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