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Preparando sua visita à Argentina, Bolsonaro volta a defender os crimes da ditadura militar

André Freire

Historiador e membro da Coordenação Nacional da Resistência/PSOL

Bolsonaro está preparando a sua primeira visita à Argentina, prevista para quarta e quinta desta semana, dias 5 e 6 de junho. No final da semana passada, o presidente brasileiro identificado com as ideias de extrema-direita, concedeu sua primeira entrevista a um órgão de imprensa argentina, o escolhido foi o tradicional jornal “La Nación”.

Na entrevista, o presidente brasileiro se meteu diretamente nos problemas políticos argentinos atuais. Ele defendeu que o povo argentino deveria eleger novamente um político de centro-direita nas eleições presidências deste ano, como fez Brasil, Chile, Peru, Paraguai, Colômbia, entre outros países que hoje integram o chamado Grupo de Lima, e são aliados diretos de Trump em nossa região; apoiou a política econômica do atual presidente de direita, Mauricio Macri, que está levando a Argentina a uma nova e grave crise econômica; e atacou a ex-presidenta peronista Cristina Kirchner, afirmando que ela é corrupta, como a maioria das lideranças da esquerda latino-americana.

Afirmou, também, que os dois países devem atuar a favor da retirada de Maduro da presidência da Venezuela e a favor da posse do golpista Guaidó. Afirmações em nítido desrespeito, mais uma vez, à soberania do povo venezuelano.

Mas, o que mais chamou a atenção na entrevista foi a defesa de Bolsonaro, novamente, da legitimidade política das ditaduras militares, regimes ultra-autoritários que praticaram em larga escala a tortura e o terrorismo de Estado, que marcaram terrivelmente a história do Brasil, da Argentina e de grande parte dos países da América Latina.

As declarações são tão categóricas, que não deixam dúvidas, sobre o apoio de Bolsonaro, ainda atualmente, aos crimes das ditaduras militares latino-americanas.

Não, não. Tivemos a Operação Condor entre vários países e os militares daquela época impediram que o país caísse no comunismo; foi o que aconteceu. Quantas pessoas morreram ou desapareceram e por que razões? Que cada país escreva sua História.

Eu disse isso numa época em que eles estavam mentindo na comissão (Comissão Nacional da Verdade). A esquerda não fala sobre os que eles torturaram ou mataram, eles não responderam por isso. A Colômbia foi complacente com seus guerrilheiros e olha para os problemas que tem hoje. Não fomos complacentes com os guerrilheiros”.

A Argentina viveu uma das ditaduras militares mais cruéis e sangrentas da América Latina. Existe no país, até hoje, um forte movimento de defesa dos direitos humanos, que busca manter viva a memória deste terrível período de sua história, defendendo a punição exemplar dos militares que assassinaram, torturaram, perseguiram milhares que lutaram pela redemocratização do país.

Infelizmente, diferente do que acontece no Brasil, onde os militares criminosos, a maioria de altas patentes, não pagaram por seus crimes bárbaros, na Argentina este movimento de direitos humanos obteve algumas vitórias importantes e expressivas na luta por criminalizar estas figuras de triste memória.

As declarações de Bolsonaro lembrando positivamente da Operação Condor são um verdadeiro crime político. Esta operação foi uma ação coordenada entre as ditaduras militares do Cone Sul, com apoio da CIA, que cometeu vários crimes contra os direitos humanos, como o terrorismo e a tortura.

Portanto, as declarações absurdas de Bolsonaro devem ter gerado uma imensa revolta nos movimentos sociais e democráticos argentinos. Não é atoa que já está sendo preparada uma grande manifestação contra a visita de Bolsonaro à Argentina, para a próxima quinta-feira, dia 6 de junho, na Praça de Maio, tradicional palco de manifestações argentinas, no Centro de Buenos Aires.

Seguir o exemplo de luta dos irmãos argentinos

No último dia 29 de maio, os trabalhadores argentinos realizaram a sexta Greve Geral contra os planos de ajuste econômico de Macri, que ataca violentamente os direitos sociais do povo argentino. Fruto da política econômica de Macri, a miséria já atinge um terço da população da Argentina.

Os ataques desferidos por Macri na Argentina são muito parecidos com os que Bolsonaro quer implementar no Brasil. Eles são parte da mesma agenda econômica e reacionária que quer jogar sobre os ombros do povo trabalhador todo o peso da crise econômica atual.

Portanto, os trabalhadores, a juventude e os oprimidos no Brasil devem seguir este mesmo caminho de luta, contra os ataques de Bolsonaro à educação pública, à previdência social, às empresas estatais, ao meio-ambiente e à nossa soberania.

Por isso, centenas de milhares de estudantes e profissionais de educação já realizaram manifestações gigantescas nos dias 15 e 30 de maio. E, neste momento, estamos preparando uma grande Greve Geral para o dia 14 de junho.

O caminho é cada vez mais avançar em nossa unidade na construção das mobilizações necessárias para enfrentar estes ataques aos direitos sociais e democráticos de nossos povos. Inclusive, buscando coordenar as lutas no Brasil e na Argentina e, se possível, também com o povo trabalhador de outros países do nosso Continente.

Vamos derrotar os governos de Bolsonaro e de Macri nas ruas!

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