Os atos promovidos pela extrema direita foram realizados neste domingo, 26, em todos os estados. Os protestos foram convocados como contraposição aos atos do 15M, que reuniram centenas de milhares em defesa da Educação, e também com o objetivo de pressionar o Congresso Nacional, em especial os parlamentares do Centrão, e dar uma resposta à crise institucional.
Na disputa pelo protagonismo das ruas, os atos deste domingo não chegaram a superar a quantidade de pessoas que foi às ruas no 15M. E menos ainda o total de cidades – o 15M ocorreu em 220, contra 156 no dia 26. E foram – aí sim – muito menores do que os atos que a própria direita realizou em 2015 e 2016, na escalada da campanha pelo impeachment.
Mas não significa que os protestos deste domingo devam ser desprezados. Eles confirmam a existência de um setor de massas que permanece no apoio à Bolsonaro, após cinco meses de governo. Pesquisas já mostravam que, mesmo com a queda de popularidade, 35% ainda consideram o governo ótimo ou bom. A novidade que veio neste domingo é que parte desse pessoal não só está disposto a ir às ruas em apoio ao governo, como em apoio a medidas bonapartistas, de fechamento do regime, como fechamento do Congresso e do STF. Os atos demonstram a força social do neofascismo. Essa é a gravidade e o significado de domingo.
A ala bolsonarista buscou consolidar o apoio e mobilizar um setor de massas, a franja mais ruidosa do espectro da direita. Segundo pesquisa do jornal Valor, aproximadamente sete a cada dez pessoas no ato da Avenida Paulista se declararam de “direita”, “muito conservadores” e “nada feministas”. Como em outros atos, 66% eram homens, a maioria branca, acima de 40 anos.
O caráter de classe dos atos e o viés autoritário ficaram evidentes em cartazes de apoio às armas e especialmente na cena revoltante da retirada de uma faixa “Em defesa da Educação”, em Curitiba.
O protesto atacou diretamente o STF e o Congresso, desde a convocatória, o que provocou a ruptura de outras alas da extrema direita, inclusive de quem havia liderado a campanha pelo impeachment, como o MBL, e até de parte do próprio PSL.
O bolsonarismo colocou gente na rua. Não tanta gente assim, mas o suficiente para mostrar que está vivo. Mostrou que segue sendo uma ameaça real, com um programa autoritário, disposto a lutar pelo fechamento ainda maior do regime político, para que possa governar sem nenhum tipo de controle ou oposição real e implemente seu programa de entrega do país e de perseguição a mulheres, negros e LGBTs.
Foi uma demonstração de força que pode influenciar na aprovação da reforma. Não por acaso, durante todo o dia, a imprensa buscou esvaziar o caráter autoritário dos atos e tentou reduzi-los a manifestações em apoio à reforma da Previdência, ao governo e ao pacote de Moro.
Os atos não tiveram o poder de aparar as disputas entre as frações do governo ou deter a crise econômica. Se mostraram a resiliência das classes médias, não foram, a princípio, capazes de levar às ruas as camadas populares que elegeram o presidente, que agora sofrem com o desemprego e a crise da economia, que terá uma prova de fogo na quinta, 30, quando sairão os números do PIB do primeiro trimestre, que deve ficar em -0,2%.
O bolsonarismo deu um passo para buscar se contrapor a força dos trabalhadores e da juventude, expressas no dia 15 de março. Mas não o suficiente para conseguir fechar o novo momento aberto pelos atos da Educação. A liderança das ruas permanece com a nossa classe, com a esquerda, que também saiu às ruas neste domingo, em quatro capitais, para denunciar o genocídio negro e a política de guerra às drogas.
Nas próximas semanas, essa disputa se intensificará. O governo tentará desmontar a luta pela educação, para que não desemboque na greve geral – já disse, por exemplo, que exagerou em chamar os estudantes de idiotas.
Por outro lado, tentará fechar a crise institucional e garantir a aprovação das reformas, como no chamado de um “pacto nacional” pelas reformas, com os presidentes da Câmara e do Senado e com o aval da cúpula militar.
Da nossa parte, temos o desafio de transformarmos o dia 30 em uma grande resposta aos atos reacionários do dia 26, com paralisações da educação e grandes atos de rua, que já estão marcados em todas as capitais. Nesse dia, vamos recolocar a faixa em Curitiba, bem alto. E vamos intensificar a preparação da greve geral, com abaixo-assinados e panfletagens com a população, para pararmos o país no 14 de junho. Essas são as maiores respostas ao dia 26, e ao projeto da extrema direita para a educação e o país.
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