Bolsonarismo Acabou?

Fabrício Rocha*
Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Manifestação a favor do governo Bolsonaro na Esplanada dos Ministérios

A esquerda está realmente feliz. Pela primeira vez, desde 2015, as forças progressistas, mesmo que conjunturalmente,  são maioria nas ruas do Brasil. Isso é realmente um fato a se comemorar. Mas temos que ir com calma. As nossas bolhas nos trazem uma análise de que os atos de domingo (26) foram um total fiasco, comparando-os aos do dia 15 de maio contra o corte de verbas na educação, que realmente foram maiores em número de pessoas e de cidades envolvidas. Temos que olhar a situação para além das disputas de narrativas polarizadas.

A primeira questão é que, mesmo menores e com pouca capilaridade pelo Brasil, os atos mostraram que o Bolsonarismo ainda tem força de mobilização social, mesmo sem um governo do PT na mira. Tem algo além do anti-petismo no ar.  Os chamados foram radicais: contra o STF e o Congresso. Durante o dia, figuras como Janaina Paschoal tentavam amenizar e suavizar dizendo que eram manifestações democráticas a favor das reformas do governo. Essa mudança do eixo político ajudou muito.

Outra questão importante é que as maiores organizações da nova direita brasileira, como o Movimento Brasil Livre – MBL e o VEM PRA RUA, que foram o núcleo de rua e das redes da manobra parlamentar que levou ao impeachment o governo do PT,  além de figuronas do próprio PSL, não se somaram aos chamados dos atos e não fizeram qualquer menção em suas redes. Nos atos da paulista foram chamados de traidores.

Os efeitos dos atos de domingo saberemos durante a semana e poderemos fazer uma projeção da correlação de forças. Outra coisa, não podemos descartar o papel da mídia corporativa, em particular a Rede Globo que, por enquanto, atua como adversária da família Bolsonaro. O Governo  está apanhando até no Zorra Total. Mas isso pode mudar na medida em que as torneiras da rubrica de mídia técnica sejam abertas.

Os atos do dia 30 tendem a ser maiores, não só do que os de hoje, mas também do que os do dia 15. Chamados amplos e unificados ganharam a consciência da maioria da sociedade para a importância da educação e da Universidade Pública. Não são vitórias menores, mas o caminho não é linear.

Mesmo que tenha um rearranjo de forças com uma saída de parlamentarismo branco, ou via Mourão, ou até centrão, o que as ruas e as redes do país viram, nos últimos anos, simplesmente não desaparecem. As fraturas  simbólicas são as mais difíceis de sarar. Não, o bolsonarismo não acabou.

*Fabrício Rocha é mestrando em Comunicação – PPGCOM-UFPA

*O texto reflete a opinião do autor e, não necessariamente, a linha editorial do Esquerda Online