Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come

Mayara Gomes, do coletivo Enegrecer RJ
EBC

Com poucos meses de governo, observamos o que parece ser o início de uma crise que não vai se estancar a curto prazo. A tragédia anunciada da eleição do Bolsonaro e suas trapalhadas governamentais se mostram inaceitáveis até mesmo para setores da direita, que se unificaram em torno do idiota útil para aprovar as medidas neoliberais de cortes de direitos, privatizações, diminuição das políticas estatais e revisão dos poucos direitos conquistados até agora.

Fato é que Bolsonaro não era o candidato preferencial da direita, mas se mostrou necessário a partir do momento que seus candidatos não alavancaram e principalmente quando conseguiu aglutinar setores da bancada fundamentalista, da bala e uma grande parcela da população em torno de projetos políticos moralistas e anti petistas. O triunfo dos neoliberais foi casar Paulo Guedes com a família Bolsonaro dando assim um projeto econômico ao falastrão.

Subestimado pela esquerda o improvável segundo turno aconteceu, colocando no centro das discussões a necessidade da conformação de um bloco unitário para barrar o catastrófico cenário que estava por vir. Ainda perdida, a grande primeira manifestação vieram das mulheres com o #ELENÃO, colocando milhares de pessoas nas ruas.

Podemos dividir o período pós eleição até aqui em duas fases, a primeira do medo e a segunda da repulsa. Com certeza o medo foi bem maior e pior do que esperamos, mas a repulsa se mostra mais incrédula do que deveria ser. A quantidade de ações desmoralizantes desse governo que aposta numa condução sensacionalista com goldenshower e fake news se tornaram inacreditáveis, tanto para os adeptos do #euavisei, quanto para os que apostaram na possibilidade de mudança, mas que hoje observam uma disparada do dólar e da taxa de desemprego. Perdemos a credibilidade internacional e parecemos ser governado por uma criança mimada nas redes sociais. Fiasco econômico, político e para sua própria base.

Para aguçar ainda mais esse cenário, ele e seu Ministro da Educação resolveram cortar verbas das Universidades Públicas Federais e dos IFs que são um dos principais polos vetores contra seu governo com formação do pensamento crítico, pluralidade de ideias e construção de democracia social. A balbúrdia provocada por esse corte foi enorme, levando milhares de pessoas nas ruas de todo o Brasil e deslocando inclusive, ainda que temporariamente, alguns setores da direita.

O clima esquentou. O que unifica o lado de lá de forma imediata é a aprovação da Reforma da Previdência e o lado de cá é a necessidade de formação de um bloco em defesa dos direitos sociais. A grande questão é até onde vai a nossa capacidade e a do próprio governo de aumentar as temperaturas dessas tensões e se elas serão possíveis de fazer o vulcão entrar em erupção.

Novas manifestações em favor das Universidades Públicas já estão sendo convocadas, o que provavelmente jogarão mais dendê nesse caldo, mas o que vai determinar o futuro do governo Bolsonaro será o tamanho da mobilização para a greve geral contra a Reforma da Previdência anunciada para o dia 14 de Junho.

A partir disso, qual será a próxima jogada? O Bolsonaro é uma peça do jogo de xadrez altamente descartável, seu vice, General Mourão, aos poucos vem se distanciando do olho do furacão e dando sinais mais democráticos, para aprovar as reformas Jair Bolsonaro seria facilmente substituído no jogo de poder do capital. A unidade do bloco da direita estaria mantida. E para nós? É lógico que devemos lutar contra e tentar impedir todas as reformas e cortes aplicados contra a população, mas planejamos sangrar esse governo o levando até as próximas eleições ou elevar as temperaturas chegando no seu limite imediato? Na última hipótese colocada, temos essa capacidade sem entrar no jogo da direita?

Pode ser muito cedo para ter esse tipo de preocupação, afinal se passaram apenas cinco meses após as eleições e até a Reforma da Previdência ser aprovada, principal agenda econômica até agora, ainda tem muita água para rolar. Mas visualizar as próximas jogadas é a grande virtude do jogador de xadrez e nos dois cenários a saída encontrada não é a das melhores.

De qualquer forma, para que possamos vislumbrar alguma mudança na correlação de forças ao nosso favor temos a dura tarefa de casar as mobilizações de rua com construções de ferramentas locais.