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BRASIL

A estética bolsonarista e sua sofisticada simplicidade

Luciana Ribeiro*, de Recife-PE
Reprodução

Muitos aspectos contribuíram para a eleição de Bolsonaro, como o descontentamento da população com a política, o antipetismo (fortemente alimentado pela mídia) e a prisão da única figura que o derrotava nas pesquisas. Além das circunstâncias políticas e conjunturais, para conseguir chegar à presidência e aumentar em 600% a bancada do PSL, o bolsonarismo também criou uma estética própria, que, apesar de grosseira, cumpre o seu objetivo. Aliás, ela é grosseira justamente para cumprir o seu objetivo, que é o de representar visualmente o discurso violento de Bolsonaro, alimentando o viral em torno de sua figura.

O descrédito na política tradicional é um dos fatores mais determinantes para a estética bolsonarista. Não é à toa que Bolsonaro tenha se deixado fotografar de moletom, chinelos e padrão não-oficial do Palmeiras ou com uma bandeira pregada à parede com fita adesiva. Também não é amadorismo ele ter aparecido comendo pão com leite condensado, estendendo roupas ou ter assinado o documento de posse com uma caneta esferográfica barata. A construção do personagem Bolsonaro é sobretudo a de um antipolítico, que se veste, come e vive como um “cidadão de bem” comum.

Bolsonaro também diverge do político tradicional no que diz respeito ao decoro: ele xinga, diz que vai metralhar oponentes, faz arminha com as mãos, promete exterminar os bandidos, surfa na revolta da população com a violência. Por isso, a estética do bolsonarismo é armamentista, violenta, militarista. As ilustrações de gosto duvidoso presentes em cartazes e cards para a web sintetizam isso: Bolsonaro aparece sempre armado, montando dinossauros, exibindo músculos que não são seus. Ele é retratado como o protagonista de um filme de ação ruim, desses sem qualquer compromisso com a verossimilhança.

Forjar o fenômeno Bolsonaro demandou um enorme trabalho de marketing, principalmente o digital. Os robôs virtuais e os disparos ilegais no Whatsapp, por si só, não teriam conseguido alcançar o êxito de eleger presidente uma figura com parcos conhecimentos históricos e culturais e sem qualquer talento no campo da oratória. Foi necessária a construção de um “mito”, como seus seguidores, inclusive, costumam chamá-lo.

A estética intencional do meme, das artes amadoras, tão presentes no universo bolsonarista, trazem consigo a ideia da antipolítica e também de uma falsa espontaneidade, como se toda a movimentação em torno de Bolsonaro partisse voluntariamente da população e não de uma comunicação institucional. Através disso, foi possível vender um homem que tinha 30 anos de parlamento como uma novidade, como renovação. Foi preciso que as pessoas se vissem representadas nas pretensas simplicidade e honestidade de Bolsonaro, ignorando seu enorme patrimônio e de sua família e seus funcionários fantasmas e laranjas.

Depois de assumir a presidência, o Governo Bolsonaro continua a insistir nessa estética, nessa estratégia sofisticada de simplicidade e justiçaria. Com os escândalos de corrupção envolvendo seu clã, fica cada dia mais difícil manter o encantamento. A carestia, o desemprego e os cortes nos serviços públicos põem à prova a estética bolsonarista, que, sim, foi capaz de elegê-lo, mas talvez não de mantê-lo no poder.

Os canais Porta do Fundos e Meteoro Brasil produziram vídeos interessantes sobre esse tema. Veja abaixo:

 

https://www.youtube.com/watch?v=7Atk501SVK0

https://www.youtube.com/watch?v=OUK1su3IBAQ

 

*Luciana Ribeiro é designer gráfica

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extrema direita