Nesta quarta-feira (15), vimos, em todo Brasil, o que foi, sem dúvida, a maior mobilização nacional desde o ‘Ele Não’. Protagonizada pelos que compõem o setor da Educação, estudantes, funcionários, professores e demais categorias paralisaram as atividades de escolas, institutos federais, universidades de todo país e realizaram grandes atos unitários que reuniram milhares nos centros de todas as capitais dos estados e no Interior, além de Brasília. Petroleiros, metalúrgicos, trabalhadores da construção civil e outras categorias afetadas diretamente pelos projetos do governo também aderiram à data como dia de luta. Tudo isso, enquanto o ministro da Educação, Abraham Weintraub, era sabatinado pelos parlamentares na Câmara Federal.
Marcada, inicialmente, como protesto contra a Reforma da Previdência, um esquenta para a greve geral de 14 de junho convocada pelas centrais sindicais, a greve da Educação tomou fôlego após o ministro responsável pela pasta ter anunciado que cortaria verbas da educação, ciência e tecnologia. Inicialmente, de forma açodada, direcionado a três universidades. Depois, estendido a todo o setor.
Reitores e diretores de escolas chegaram a declarar que algumas unidades não teriam mais como funcionar, sem as verbas. Pesquisas científicas, por sua vez, fundamentais ao desenvolvimento e soberania de qualquer país, estariam entre as principais atingidas pelo chamado “contingenciamento” pelo governo. Também, a infraestrutura, traduzindo, luz, água, limpeza, segurança, restaurantes universitários, alojamentos, fundamentais à manutenção das instituições de ensino. Muitas unidades, que já convivem com poucos investimentos e infraestrutura inadequadas, seriam ainda mais afetadas.
Mas, tudo isso é parte de um projeto maior. Junto à Reforma da Previdência, ao ataque aos setores oprimidos, como mulheres, negras e negros e LGBTs, aberturas para o capital privado e venda de nossas riquezas, além da institucionalização do extermínio de negros e pobres a partir de sua política de segurança, a Educação é mais um pilar fundamental a ser atacado pelo governo Bolsonaro. A produção crítica de conhecimento, o acesso às universidades pelos filhos de domésticas e o caráter público e não mercadológico da educação não são tolerados. Para o governo, ter liberdade de pensamento é balbúrdia e defender a educação com todas as forças é ser idiota útil.
Governo reacionário
Praticantes de “balbúrdia”, os “idiotas úteis” e “todos militantes”. As declarações do governo, vindas da Casa Civil, Ministério da Educação, ou mesmo do presidente Bolsonaro, em passeio pelo Texas, surgiram como um barril de pólvora. O Governo Federal foi com sede ao pote. Chegou a deixar vazar desentendimento do presidente com o ministro sobre o corte, ou não de verbas, um dia antes do dia 15. Tudo isso com o foco consciente de atacar tudo que, na concepção do governo, signifique “gasto”, para diminuir a obrigação do Estado até sob serviços essenciais à população brasileira. Sentiu a pressão, mas insistiu na posição, manteve a agenda de ataques aos direitos e conquistas e acabou surpreendido pela “capacidade de mobilização” do setor, admitida pelo vice Mourão, e de uma pauta quase inquestionável no país, a Educação.
Dias antes dos protestos, o deputado federal Orlando Silva (PCdoB) entrou com pedido para que Weintraub tivesse que comparecer à Câmara dos Deputados no dia dos atos. O Centrão apostou na ideia para tentar sangrar um tiquinho o governo. A oposição foi para cima. E a imprensa tradicional, por sua vez, em especial a Globo, fez uma cobertura à altura das manifestações, o que ajuda a desgastar a ideia de normalidade do governo.
O fato é que a tentativa de “mostrar serviço” em um Ministério que, desse o início, protagonizou uma série de trapalhadas, pode ter trazido à cena atores que ainda não estavam no jogo, atrapalhando a aprovação do que os unem, a Reforma da Previdência.
E, para além dos conflitos dentro do governo, a disputa real já vinha sendo formada, no andar de baixo.
Pela base, podemos vencer
Neste novo momento da luta de classes no Brasil, as grandes manifestações foram resultado de mobilizações desde as bases. As entidades, como os diretórios acadêmicos dos cursos, os diretórios centrais dos estudantes nas universidades, a UNE e os sindicatos demonstraram capacidade de mobilização. O movimento estudantil, representantes dos professores e funcionários passaram em salas de aulas, conversaram e realizaram assembleias separadas e unitárias em escolas, universidades e institutos. Esse trabalho de base, somado ao caráter brutal do ataque do governo, fez surgir uma grande quantidade de estudantes, técnicos, pesquisadores e professores que, conscientes, se dispuseram a dar uma passo à frente em defesa da educação pública. A massiva adesão já demonstrava a capilaridade que poderia resultar em grande processo.
As entidades da educação básica afirmam que as paralisações nos estados chegaram a atingir cerca de 80%, 90% das escolas. Os informes das cidades falam de milhares nas ruas e comparam com a quantidade de pessoas em grandes lutas recentes, como os atos do ´Ele Não´ e até os de junho de 2013, em alguns locais. É difícil afirmar em números e qualquer comparação sobre momentos tão distintos pode cair em erros, mas a qualidade, sem dúvida, pode significar o início de uma pedra no sapato do governo, o ânimo que faltava para o movimento entrar em cena.
Para isso, a Educação já está apostando em uma nova data de luta, para o próximo dia 30, antes da greve geral de 14 de junho. A data foi unanimidade na reunião, realizada nesta sexta-feira (17), que reuniu entidades como o Sinasefe, Andes, Fasubra, UNE e Ubes. A ideia é continuar mobilizando para que o governo volte atrás e desista dos cortes.
O dia 15 pode ter significado um novo ascenso do setor. Se este continuar mobilizado, com a opinião pública a favor e a cobertura da imprensa, é possível arrancar uma vitória. Para isso, é fundamental que se construam mais do que apenas dias de luta e, já na semana que vem, os estudantes realizem uma “semana na rua”, com panfletagem, aulas públicas, banquinhas, conversas com a população, para, no dia 30, construir um novo forte ato nacional da Educação.
E, no dia 14 de junho, construir uma grande greve geral no país, com ainda mais atores unificados. Várias categorias de trabalhadores já estão aprovando paralisar. É fundamental a máxima adesão para mostrarmos a força do lado de cá em defesa dos direitos da juventude e dos trabalhadores desse país e conseguir barrar todos os ataques do governo, em especial, a nefasta Reforma da Previdência.
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