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MOVIMENTO

Possibilidades abertas pela greve nacional da educação

Frederico Costa*, de Fortaleza, CE
Pedro Muniz

Manifestantes na Av. Paulista

O dia 15 de maio representou o primeiro embate de massas contra o governo de extrema-direita de Bolsonaro. O projeto bolsonarista é fruto de um processo de golpe de Estado iniciado em 2016 contra o governo de frente popular de Dilma Rousseff do Partido dos Trabalhadores (PT). Seu objetivo é reestruturar o regime político para sustentar um modelo econômico capitalista ultraliberal, baseado na concentração monopolista, na subordinação ao capital financeiro internacional e, fundamentalmente, na superexploração do trabalho para elevar as taxas de lucro. Daí a necessidade do fortalecimento do aparato repressivo estatal e da violência neofacista em níveis considerados necessários para reprimir as massas e suas organizações.

Objetivamente, mais de um milhão de estudantes e professores se confrontaram, nas ruas, com uma das facetas do projeto bolsonarista: o corte de 30% das verbas das universidades e institutos federais, nas mais diferentes unidades de ensino do país. Noutras palavras, o início de uma ofensiva para destruir a educação pública brasileira. Em mais de 200 cidades ocorreram mobilizações e passeatas em todos os estados do Brasil. O interessante foi a capilaridade das manifestações e da participação popular, pequenas cidades sem tradição de luta assistiram ao despertar da resistência social e política ao governo entreguista de Bolsonaro.

Frente a isso, que lições podem ser tiradas? Que possibilidades há para derrotar Bolsonaro, seu governo e os golpistas? Eis algumas aproximações.

A primeira coisa a destacar é o protagonismo de jovens e trabalhadores da educação, alvos destacados das políticas neofacistas e obscurantistas do atual bloco de poder. Isso evidencia que não haverá subversão das estruturas arcaicas brasileiras sem a efetiva participação dos trabalhadores vinculados à esfera da reprodução social. Outro fato importante foi a natureza democrática plebéia das paralisações. Bandeiras partidárias, faixas de sindicatos, cartazes individuais e variadas manifestações de movimentos sociais expressaram a diversidade dos que defendem a educação pública. Não houve espaço para melindres atrasados e fascistas exigindo retirada de bandeiras, o que revela, apesar de novos contingentes de manifestantes, a evolução política das massas em luta.  Mesmo tendo como centro o combate aos cortes na educação pública as manifestações levantaram-se, também, contra a destruição do sistema previdenciário brasileiro, entre outras bandeiras democráticas e sociais, como “Lula Livre!”, contra o desemprego e a repressão neofascista. Por fim, criou-se um vínculo com a Greve Geral de 14 de junho, além de ecoar com simpatia crescente o “Fora Bolsonaro!”.

As manifestações do dia 15 demonstram, acima de tudo, o acerto da política de unidade de ação e de frente única. Mas, também, elas impõem no interesse de milhões de trabalhadores e trabalhadoras, um amplo debate sobre a necessidade de uma política de independência de classe no sentido da superação do latifúndio, das profundas desigualdades sociais, da submissão ao capital financeiro internacional e da superexploração do trabalho. O caminho está aberto.

 

*Diretor do Sindicato dos Docentes da Universidade Estadual do Ceará – SINDUECE/ANDES-SN e Coordenador do Instituto de Estudos e Pesquisas do Movimento Operário-IMO.