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Colunas

O acordo com o “centrão” e a farsa da “nova política” de Bolsonaro

Qual estratégia deve ser adotada pela oposição para tentar barrar a reforma da Previdência do governo?

André Freire

Historiador e membro da Coordenação Nacional da Resistência/PSOL

Em meio às polêmicas internas no “bolsonarismo”, envolvendo o seu “guru” Olavo de Carvalho e os ministros oriundos da alta cúpula do Exército, o presidente toma uma iniciativa para tentar consolidar uma base de apoio no Congresso, com o objetivo imediato de aprovar a famigerada proposta de reforma da Previdência.

Bolsonaro vinha sustentando um discurso de que estaria praticando uma “nova política” e que não aceitaria negociar com os partidos do Congresso a indicação de cargos no seu governo e a liberação de verbas, em troca de apoio a seus projetos que precisam passar por aprovação no Congresso.

Contrariando esse discurso e as suas críticas ao regime político, chamado pela imprensa de “presidencialismo de coalizão”, o presidente acertou com o senador Fernando Bezerra (MDB-PE), relator da comissão que analisa a Medida Provisória que reestruturou os cargos do Executivo, o desmembramento do atual Ministério de Desenvolvimento Regional.

Pelo acordo, anunciado ontem, seriam recriados dois Ministérios que tinham sido extintos anteriormente por Bolsonaro: o Ministério das Cidades e o Ministério de Integração Nacional. Estes dois Ministérios recriados, concentrariam verbas volumosas, que devem chegar a R$ 4 bilhões apenas neste ano, para atender as demandas dos “senhores” deputados e senadores.

A manobra se completa, e fica ainda mais evidente, porque a indicação dos dois novos Ministros ficaria por conta dos atuais presidentes das duas casas legislativas: Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, e David Acolumbre (DEM-AP), presidente do Senado.

Já existem rumores na imprensa que o Ministério das Cidades ficaria para um deputado federal do Partido Progressista (PP), partido que controlou a pasta na maior parte do tempo dos governos petistas, desde foi criado pelo ex-presidente Lula. E, que o próprio Senador Fernando Bezerra, poderia voltar ao Ministério de Integração Nacional, cargo que ocupou durante o governo Dilma. Os nomes podem até não serem estes, mas uma coisa e certa, parlamentares do “centrão” devem ocupar estes cargos.

Este fato é uma demonstração inconteste de que Bolsonaro nunca praticou e nem pratica atualmente uma “nova política”. Na verdade, muito deste discurso se explica pela campanha eleitoral e a necessidade de atender as demandas dos setores mais conservadores que o apoiam, que querem uma saída ainda mais reacionária e autoritária para a situação política brasileira.

Mas, a necessidade de atender aos interesses do mercado financeiro, representado no governo pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, especialmente com a aprovação da reforma da Previdência, fez cair “a máscara” de vez do discurso mentiroso de Bolsonaro.

Se ainda existisse alguma dúvida sobre os reais interesses do governo, o anuncio deste acordo entre Bolsonaro e o “centrão”, demonstra que o velho “toma lá da cá” entre governo e Congresso segue mais vivo do que nunca, usado sempre contra os direitos da maioria do povo e dos interesses soberanos do país.

A luta contra a reforma da Previdência é nas ruas

Este acordo mostra também que é totalmente equivocada a ideia de apostar na derrota da reforma da previdência a partir fundamentalmente de negociações parlamentares nas comissões do Congresso.

Não serão os atritos entre Rodrigo Maia, atual chefe do “centrão”, e Bolsonaro que poderão evitar a aprovação de ataques profundos a Previdência Social brasileira. Acreditar nesta perspectiva é semear ilusões.

A sinalização de Bolsonaro dessa semana comprova que, no limite, eles se acertam e superam seus conflitos, mesmo que momentaneamente. Afinal, todos eles têm acordo no fundamental: jogar sobre os ombros do povo trabalhador todo o peso da grave situação econômica que vive nosso país, para garantir sempre os interesses dos banqueiros e grandes empresas.

Tão pouco serve para os interesses do povo brasileiro a defesa de que a oposição deve ter uma atitude propositiva nos debates sobre a reforma da previdência no Congresso. Infelizmente, setores da oposição veem defendendo esta perspectiva, como fez recentemente a deputada federal Tábata Amaral (PDT-SP), e como também vem ocorrendo nas negociações envolvendo os governadores do Nordeste, ligados ao PT, PSB e PCdoB, e lideranças da base de apoio do Governo Bolsonaro no Congresso.

Na verdade, nenhum projeto positivo de reforma da previdência sairá de uma negociação com este governo de extrema–direta e com a maioria corrupta e reacionária do Congresso Nacional. Apesar da ofensiva dos ricos e poderosos dos últimos anos em nosso país, a nossa saída realmente deve vir das ruas.

Nosso caminho deve ser outro, temos que apostar de verdade na construção e o fortalecimento do processo de mobilização iniciado em março. Nossos esforços devem estar concentrados na preparação pela base da greve geral, marcada pelas Centrais Sindicais, Frente Brasil Popular e Frente Povo Sem Medo, para o dia 14 de junho.

A preparação da greve geral passa também pela realização de uma forte greve nacional da educação, marcada para o dia 15 de maio, semana que vem, unificando a luta contra a reforma da previdência com a defesa da educação pública, fortemente atingida pelos cortes de verbas anunciado semana passada pelo MEC.

Nenhuma confiança no Congresso Nacional. A saída é apostar na mobilização!