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BRASIL

Dia 15: defender as universidades públicas contra o projeto do MEC

Juliana Bimbi, de Porto Alegre, RS

Desde antes de sua posse, ficou nítido que o tema das universidades para a equipe de Bolsonaro não era algo menor. Foi o eixo norteador em muitos momentos da construção de seu plano para a educação, dando corpo a uma base social em torno da ideia de que essas instituições eram agentes do “marxismo cultural” e menosprezando sua importância na realidade do país. Destruir a universidade pública e sua imagem perante a sociedade é uma das prioridades de Abraham Weintraub e Jair Bolsonaro. A guerra contra as ciências humanas demonstra a tentativa de atacar o pensamento crítico e a produção cultural que vai contra as ideias defendidas pelo núcleo que está no poder. Em pouco mais de 100 dias de governo, o presidente e o MEC avança no projeto para as instituições federais.

A primeira manifestação foi a do presidente dizendo que iria “descentralizar” investimentos nas faculdades de Filosofia e Sociologia, apontando para cortes nas ciências humanas para valorizar áreas que dariam maior retorno financeiro. Essa declaração via twitter foi seguida por um anúncio do MEC de corte de 30% em três universidades consideradas palco de importantes movimentos políticos, caracterizado pelo ministro como “balbúrdia”: a UFF, UFBA e UnB. O anúncio foi o disparador de uma imediata resistência por parte dos professores e estudantes dessas universidades, que promovem assembleias e atos de resistência, demonstrando a importância dessas universidades para o desenvolvimento brasileiro. Como resposta aos questionamentos do movimento estudantil e dos professores sobre o que seria essa balbúrdia referida pelo MEC, foi anunciado que o corte de 30% no orçamento na verdade prejudicaria todas as universidades e não só as três escolhidas pelo ministro.

O alvo foi o orçamento, mas o ataque foi extremamente ideológico. A escolha de universidades que tem reitores que se posicionaram politicamente no último período contra a corrente da maioria da sociedade, como bodes expiatórios, não foi por acaso. Também não é sem explicação que uma das primeiras medidas do governo foi a mudança na escolha das reitorias, justificando explicitamente com a intenção de censurar certas posições políticas. As universidades, no último período, foram centros de organização social e política, onde se formaram diversos movimentos, incluindo o movimento ‘Ele Não’, que se colocava contra a candidatura de Bolsonaro por suas declarações antidemocráticas, machistas, racistas e lgbtfóbicas.

Em resposta às medidas contra os trabalhadores que estão na ordem do dia, a CNTE aprovou um calendário de lutas, tendo como uma das datas principais o chamado para, no dia 15 de maio, uma greve nacional da educação. O chamado específico para os trabalhadores da educação e estudantes a paralisarem é parte da jornada contra a reforma da previdência, mas vem como uma resposta aos ataques à educação do governo Bolsonaro, que vão além dos cortes de orçamento, mas tem um fundo de perseguição ideológica e política contra professores e estudantes. Esse setor identifica que, desde antes de sua posse, o governo Bolsonaro os transformou em alvo principal, direcionando seu discurso político e com um projeto de grandes cortes no orçamento.

A data será um marco importante do ano de 2019, pois é um ensaio para a greve geral do dia 14 de abril contra a reforma da previdência. Se os trabalhadores da educação paralisam no dia 15, essa demonstração de força pode avançar para o resto da nossa classe, que está correndo o risco de perder o direito à aposentadoria.

Mas é necessário, na construção de uma greve nacional da educação, dar centralidade a um tema que tomou os meios de comunicação na última semana, que foi a agenda de Bolsonaro para as universidades.

Com o decorrer desses acontecimentos, o dia de greve nacional da educação ganha ainda mais importância. A tarefa dos trabalhadores e estudantes que estão se propondo a construir nesse dia uma grande paralisação se amplia para, não só resistir ao plano de sucateamento da educação, mas armar o enfrentamento contra um projeto ideologicamente anti-intelectual, anti pensamento crítico e, por conta disso, anti universidades públicas, essas que foram palcos de importantes respiros de resistência desde o golpe de 2016, sendo seus personagens principais a cara de quem recentemente teve direito à sonhar com ela a partir das ações afirmativas. É preciso defender a universidade pública contra um projeto privatista que de fundo quer dizer que nosso país não deve produzir conhecimento próprio e público, e sim servir de mão de obra barata no mercado internacional. A tentativa do governo de dar uma justificativa para o seu corte de investimentos em uma área tão importante demonstra que, mais do que parar nossos locais de trabalho, é necessário aprender com o movimento vira-voto e disputar as ideias da população em relação à relevância do que é feito dentro das instituições federais.

O movimento estudantil deve levar a cara da juventude para o dia de mobilização nacional. Os estudantes estão construindo desde a base dos cursos, nas assembleias e nos centros acadêmicos, unificando o setor da educação para resistir contra o desmonte da produção de conhecimento pública. A juventude foi capaz, em diferentes momentos da história, de ser a vanguarda e arrastar diferentes setores para resistir. Em Salvador, os estudantes realizaram um ato em defesa da UFBA, demonstrando que quem construiu ocupações, atos, piquetes e movimentos contra o descaso com os nossos direitos não aceitará calado o projeto do MEC. Dia 15 é dever dos estudantes mostrar a balbúrdia que fazemos, parando as universidades contra o projeto do presidente de desmonte do nosso futuro, o fim da nossa aposentadoria e os ataques à educação.

*Texto: Juliana Bimbi