Nesta terça, dia 30, a Venezuela viveu mais uma página de sua história recente. Ainda era de madrugada, quando Juan Guaidó, o golpista que se autodeclarou presidente do país, porque Trump o convenceu, apareceu junto de Leopoldo Lopes, que estava em prisão domiciliar, afirmando que se iniciava a mobilização que iria derrubar Maduro do governo.
Ao longo do dia, a mídia brasileira parecia eufórica, anunciando que a qualquer momento o regime bolivariano poderia cair. Hoje, olhamos para aquelas gravações dos comentaristas de política internacional da GloboNews e sentimos vontade de rir. A nova tentativa de Golpe de Guaidó foi derrotada. O imperialismo não venceu a batalha.
A verdade foi que, enquanto os comentaristas da Globo afirmavam que Maduro iria cair e que a base aérea de La Carlota estava tomada por generais que haviam se aliado a Guaidó, o golpe já havia sido derrotado. A base de La Carlota, na verdade, nunca esteve fora do controle das Forças Armadas Nacional Bolivariana (FANB).
Guaidó esperava que a população fosse às ruas pela manhã, porém, enquanto ele imaginava as massas indo em sua direção, a sua aventura já se mostrava um fracasso. O povo não atendeu ao chamado dos golpistas, a FANB também não. A tentativa de golpe fracassou antes mesmo de ter um impacto real. Enquanto o governo Trump e a mídia brasileira afirmavam que Maduro estava fugindo do país, ele apareceu cercado de apoio popular e de generais da FANB.
A máscara dos golpistas caía diante de todos. Guaidó declarava em vídeo “Maduro não tem o respaldo das Forças Armadas, muito menos do povo da Venezuela. Eles fizeram um chamado a Miraflores (sede do governo) e não apareceu ninguém”. Como diz o ditado popular, é pela boca que o peixe morre. A própria mídia burguesa teve que reconhecer o apoio que Maduro recebeu da população. O povo venezuelano foi às ruas em centenas de milhares, naquele que foi talvez o maior Primeiro de Maio da história do país. Quilômetros e mais quilômetros foram ocupados por pessoas de todas as idades que foram às ruas rechaçar a tentativa de golpe.
Guiadó não tem o povo ao seu lado. Não conquistou o seu objetivo máximo: o apoio do exército. Os líderes da oposição fugiram e pediram asilo em embaixadas. A tentativa patética de golpe mostrou que ele não tem a mínima noção de correlação de forças. De todos os fantoches do imperialismo, Guiadó é, sem dúvida, o que até agora se mostrou mais fraco politicamente.
O Secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, de forma furiosa afirmou que a FANB é leal a Maduro por receberem dinheiro de Cuba. Em seguida, anunciou mais um bloqueio econômico à economia da ilha caribenha.
Trump e os neoconservadores de seu governo buscam a todo o momento desestabilizar o país latino-americano, tanto por conta do petróleo que existe na Venezuela, quanto pelo país ser um objetivo estratégico para o jogo geopolítico do imperialismo norte americano.
O direita golpista na Venezuela e seus patrões nos Estados Unidos parecem sofrer da mesma doença, que é confundir seus desejos com a realidade. Vivem em eterno estado de delírio. Criam na mente aquilo que serve para alimentar as suas esperanças.
A operação militar de Trump no país latino não foi descartada, ciber ataques, bloqueios navais e a tentativa de montar um exército de mercenários no país estão na mesa como alternativas possíveis. O governo Trump também tem aumentado as acusações de que a Venezuela seria um campo de operações da Rússia e China, e é sustentada pelo governo cubano, além de proteger militantes do Hezbollah e da Guarda Revolucionária do Irã. Um verdadeiro delírio coletivo que atinge aqueles que andam nos corredores da Casa Branca e discutem com o presidente sobre o país bolivariano.
Apesar das tentativas golpistas de desestabilizar o governo, Caracas parece já ter se acostumado com a velocidade que as coisas acontecem em suas ruas. De um dia pacato de sol, para um dia onde as ruas se enchem de milhares de pessoas em questões de horas. A qualquer momento, um novo acontecimento acelera o sentimento do povo, a possibilidade de enfrentamento direto cresce, o risco de um golpe surge, e a população é chamada às ruas. Da normalidade para uma manifestação de milhares. Essa é a rotina de Caracas nos últimos meses.
Os cinco primeiros meses deste ano foram tumultuados na República Bolivariana. Faz três meses desde que Guiadó se autoproclamou presidente. Faz dois meses da tentativa frustrada do imperialismo de derrubar maduro por meio da “ajuda humanitária”.
A cada dia que passa novas declarações, ameaças e novas ações surgem. A dinâmica da luta de classes é rápida nas ruas de Caracas. Novas manobras, novas narrativas, ataques econômicos, sanções, ações de organismos internacionais, e diversos outros atos se misturam e fazem com que cada novo passo dado por Guaidó ou por Maduro tomem proporções dramáticas.
Nas ruas da cidade, entre a chegada das chuvas após meses de seca, se percebe que existe uma enorme diferença entre aquilo que a mídia internacional e os presidentes dos países imperialistas anunciam e o dia a dia da política do país.
Caracas tem a cara e as cores de um povo que tem se acostumado a lutar diante das ferozes sanções econômicas feitas pelos Estados Unidos e das ações da direita golpista. Estas sanções que, de acordo com um estudo do Center for Economic and Policy Research (CEPR), chamado “Sanções econômicas como punição coletiva: o caso da Venezuela” mostrou que as medidas da administração Trump iniciadas em agosto de 2017 foram responsáveis direto até o início de 2019 pela morte de 40 mil pessoas.
Um outro estudo feito desta vez pela Fairness and Accuracy in Reporting, que acompanhou nos últimos três meses as colunas de opinião dos dois maiores jornais norte-americanos (The New York Times, e The Washington Post), além dos três maiores programas de TV transmitidos nas manhãs de domingo, revelou que em 76 artigos e reportagens observadas, em nenhuma delas houve um posicionamento contrário ao golpe de estado que Guiadó tenta aplicar sem sucesso.
Em mais uma pesquisa desta vez feita pelo movimento “Venezuela nos conecta” mostrou que fora do país circulam por dia cerca de 3.600 notícias falsas nas redes sociais contra o regime bolivariano, que buscam distorcer a realidade venezuelana.
O governo Maduro precisa criar um plano econômico de emergência, baseado na estatização das grandes empresas e bancos do país, para a compra de suprimentos, criação de obras públicas para gerar emprego, e impedir a desindustrialização completa do país. É preciso que Maduro e o PSUV radicalizem nas medidas econômicas, combatendo inclusive a burocracia corrupta que nasce e se desenvolve no seio do estado venezuelano.
Mesmo assim, apesar dos ataques do imperialismo, apesar das acusações e calúnias da mídia internacional, apesar das tentativas de desestabilização interna criada pelas forças golpistas, o povo e a classe trabalhadora venezuelana resistem. Lotam as ruas para defender as vitórias do processo bolivariano e enfrentam as tentativas de golpe.
É justamente nas mobilizações populares que o governo Maduro deve apostar para derrotar de vez as forças sociais golpistas, reprimindo Guaidó e seus apoiadores. As tentativas de golpe só serão vencidas definitivamente com a garantia de amplos direitos democráticos para aqueles que lutam ao lado do governo para barrar os ataques imperialistas, mas se opõem a linha oficial de Maduro e do PSUV. Trump e os golpistas só serão derrotados com a mais ampla democracia operária e a unidade de todos e todas que se opõem a intervenção golpista do imperialismo.
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