Feminicídio: uma ameaça real

Vanessa Barros, do Rio de Janeiro, RJ
Pedro Muniz | Eol

A cada cinco dias, uma mulher é assassinada, pelo simples fato de ser mulher, no estado do Rio de Janeiro. Em 2018, houve 71 feminicídios no estado. Foram 288 tentativas. 62% dos feminicídios foram dentro das casas das vítimas. 59% eram namorados, maridos ou ex. 56% das vítimas eram negras. É o que aponta o Dossiê Mulher, um estudo feito pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) e divulgado anualmente.

Estes dados alarmantes são apenas um recorte de como a violência contra a mulher no Brasil tem tomado proporções cada vez mais preocupantes e assustadoras. Só nos primeiros 60 dias do ano, segundo Jefferson Nascimento, doutor em Direito Internacional pela USP, foram registrados 344 casos de feminicídio — foram 207 episódios consumados e 137 tentativas. A taxa de letalidade é de 60%, com 222 vítimas identificadas, em crimes ocorridos em todos os estados brasileiros, além do Distrito Federal. A média é de 5,31 casos por dia, ou um caso a cada quatro horas e 31 minutos.

O feminicídio evidencia a predominância das relações de gênero hierárquicas e desiguais. Ele é a representação da última etapa da violência contra uma mulher: a morte. Antes, percorre um caminho que passa pela posse, xingamentos, agressões psicológicas, verbais e físicas.

Não é de se espantar que após o início de um governo misógino, que tenta a todo momento e de todas as formas diminuir e desacreditar as mulheres, os casos de violência de gênero não parem de aumentar. Mas é preciso entender também que toda essa violência de gênero reflete a estrutura enraizada da sociedade capitalista, como o livro Feminismo para os 99% nos ajuda nesta reflexão quando elucida “…esse tipo de violência de gênero é encontrado em todos os períodos do desenvolvimento capitalista. No entanto, torna-se particularmente virulento e difuso em épocas de crise. Nesses momentos, quando a ansiedade em relação à própria condição, à precariedade econômica e à incerteza política surge, também a ordem de gênero parece estremecer. Alguns homens sentem que as mulheres estão “fora de controle” e a sociedade moderna, com suas novas liberdades sexuais e fluidez de gênero, está “fora do eixo”…Percebendo sua masculinidade ameaçada, eles explodem”.

Este trecho do livro descreve claramente o cenário atual do País; nunca se falou tanto sobre Feminismo e todo esse movimento da sociedade, sem dúvida, abala as estruturas conservadoras e patriarcais fortemente enraizadas. Além disso, há toda a insegurança econômica atual, ligada à altíssima taxa de desemprego. E, como sempre aconteceu na história, são as mulheres as maiores vítimas em momentos de instabilidade.

E é justamente neste cenário de instabilidade que não podemos enfraquecer nossa luta. É justamente pelos dados alarmantes que não param de crescer que devemos fazer valer o feminismo para os 99%, um feminismo que não dialoga só com as questões de gênero, mas também com as questões de classe e raça, igualmente urgentes em nosso país.