A professora Andrea Monte Santo Belizário, de 37 anos, da rede municipal de ensino de Aracaju, foi assassinada na manhã desta quinta-feira (2) pelo seu ex-companheiro Jeferson Mendonca, subtenente do Corpo de Bombeiros. Após disparar contra Andréa, Jeferson se suicidou. Uma verdadeira tragédia na porta de uma escola de Ensino Fundamental da Rede Municipal de Ensino, no Bairro 17 de Março.
Neste horário, as crianças estavam chegando para as aulas e se depararam com os corpos no chão e, sem entender bem o que estava acontecendo, reagiam assustadas, segundo depoimento de uma das mães.
Até o dia 7 de março, já havia o registro de mais de 200 feminicídios no país, 4.254 homicídios dolosos de mulheres em 2018, uma queda de 6,7% em relação a 2017. Apesar disso, houve um aumento de 12% no número de registros de feminicídios. Uma mulher é morta a cada duas horas no país.
Em Sergipe os números assustam. Em 2018, a Secretaria de Segurança Pública de Sergipe (SSP/SE) fez um levantamento sobre as ocorrências registradas nas delegacias da Mulher dos municípios de Aracaju, Itabaiana, Lagarto e Estância e, às vésperas do Dia Internacional da Mulher, haviam sido registrados 37 casos de homicídios dolosos (quando há intenção de matar) contra a mulher, sendo 16 deles tipificados como feminicídio.
A pesquisa mostra o registro de 1.585 casos de ameaças; 795 lesões corporais; 779 casos de violência doméstica; 614 casos de injúria; 224 casos de difamação; 187 de vias de fato; 93 de dano; 67 registros de estupro de vulnerável; 27 casos de estupro; 13 registros de calúnia e 9 de maus tratos.
Importante explicar que os casos de violência contra a mulher se agravam na medida em que elas se posicionam contra as práticas machistas, pela sua independência, por respeito. Nos casos que envolvem separação, como o da professora Andrea Monte e tantos outros, os homens não admitem que as mulheres escolham rompam o relacionamento. As mulheres são punidas por desejarem sua autodeterminação e sua liberdade.
Outra questão que não pode estar desvinculada são os instrumentos utilizados para matar as mulheres, na maioria dos casos são assassinatos com uso de arma branca, por maior facilidade de acesso, por estarem a disposição nos ambientes domésticos. No entanto, há também os casos de uso de arma de fogo. O subtenente, provavelmente, utilizou sua própria arma para matar a ex-mulher e, por isso, a flexibilização da posse de armas, instituído por meio do decreto assinado por Jair Bolsonaro, é muito preocupante e pode contribuir com o aumento do feminicídio.
O assassinato de mulheres, na conjuntura nacional em que estamos vivendo, toma maiores proporções porque a postura do atual presidente da República legitima práticas machistas. Quando se tem um presidente que representa os valores do patriarcado, que dá declarações misóginas, que dissemina ideias de que mulheres são seres inferiores aos homens e que não merecem os mesmos direitos. Quando este mesmo homem – que também já foi acusado de praticar violências domésticas contra suas ex-mulheres e continua sendo violento – ao fazer apologia à tortura e ao estupro, faz com que o modelo clássico de masculinidade oriundo de uma cultura machista que está na estrutura da sociedade brasileira, colonizadora e segregadora, tome proporções ainda maiores por um conjunto de seguidores constituídos em meio à mesma cultura, exercendo a perseguição, coação e todo tipo de violência contra as mulheres.
Na esteira desse debate, no mesmo dia em que a professora é assassinada, a ministra Damares Alves chega a Sergipe para receber a comenda de Cidadã Sergipana. Neste caso, as mulheres em Sergipe se sentiram afrontadas e publicaram manifesto contra o titulo dado pela Assembleia Legislativa de Sergipe.
Damares representa o que há de pior no fundamentalismo religioso, que não respeita as liberdades, o direito ao corpo e à vida das mulheres pobres, negras, indígenas, trabalhadoras que vivem sob ameaça constante. Damares reforça a política machista a partir de valores culturais criados, onde a cor passa a ser determinante do sexo, que ignora a ausência e a retirada dos direitos das mulheres. Ela sugere que as mulheres saiam do Brasil, porque este não seria um país seguro, e defende a criminalização do aborto, ignorando as reais condições de saúde e vida das mulheres mais pobres, pois as mulheres ricas não são questionadas quando realizam aborto seguro, porque pagam pelo procedimento, enquanto as pobres morrem sem atendimento nos hospitais, independente das causas que levaram a realizar o aborto.
Nós afirmamos que este é o nosso país e nele permaneceremos, resistindo e lutando por todas as vidas!
Nossa solidariedade às famílias de Andréa Monte e todas as mulheres que tiveram suas vidas retiradas.
Nós também nos solidarizamos com a família de Jeferson que, apesar de ter cometido o crime, o queríamos vivo, para responder por seus atos e aprender a construir uma sociedade livre, sem machismo e violência.
Liberdade para todas as Mulheres!
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