Cresce sensação de mal-estar e popularidade de Bolsonaro começa a cair

André Freire

Historiador e membro da Coordenação Nacional da Resistência/PSOL

Entre os dias 12 e 15 de abril, o Ibope realizou mais uma pesquisa de opinião para avaliar a popularidade do governo Bolsonaro. O instituto ouviu 2 mil brasileiros, em 126 municípios diferentes. Como o Ibope fez essa mesma pesquisa em janeiro, fevereiro e março passados, é possível fazer uma comparação e uma observação sobre a evolução desses dados.

Segundo o quadro comparativo dessas pesquisas, em janeiro deste ano 67% aprovavam a forma de Bolsonaro governar e 21% não aprovavam. Em abril, as respostas a esta mesma pergunta mostrou que 51% aprovam Bolsonaro e 40% desaprovam.

Sobre os índices de confiança no presidente da República, os dados também são significativos: em janeiro, 62% afirmaram confiar em Bolsonaro; em abril, este índice cai para 51%; em janeiro, 30% não confiavam; agora, 45% dizem não confiar nele. Sobre este critério de confiança, sempre de acordo com a pesquisa Ibope, em março deste ano foi identificado o pior cenário, onde 49% diziam confiar no presidente e 44% afirmavam não confiar nele.

Outro fator analisado foi diretamente a avaliação do governo. Em janeiro, 49% consideravam o governo ótimo e bom; 26% regular; e 11% ruim e péssimo. Já em abril, os dados aferidos são os seguintes: 35% consideram o governo ótimo / bom; 31% regular; e 27% ruim / péssimo.

Uma análise rápida destes dados não deixa dúvidas: se iniciou um processo de desgaste de Bolsonaro junto à maioria da população brasileira, mesmo ele estando tão pouco tempo à frente do governo.

Evitar os erros de análise e a precipitação política

Analisar a situação política ou a popularidade de um governo, ainda mais no seu início, apenas por pesquisas de opinião, pode gerar conclusões erradas e precipitação política. As pesquisas, quando corretas, apenas capturam o momento político. Ou seja, esses índices de popularidade podem mudar expressivamente diante de novos fatos da realidade.

Não há dúvidas, no indivíduo que escreve essas linhas, que enfrentamos um governo forte, que possui, infelizmente, apoio majoritário na população. Até porque ainda está nos primeiros quatro meses de sua administração.

Entretanto, considero os dados desta pesquisa importantes. Pois, ao apontarem um início de queda da popularidade do Governo Bolsonaro, “batem” com importantes elementos da realidade brasileira. Sobretudo em relação à piora dos resultados da economia brasileira e do nível de vida da maioria da população.

Por exemplo, segundo relatório do “insuspeito” Banco Itaú, existe grande possibilidade de que a economia brasileira tenha experimentado um crescimento negativo, de 0,1%, no último trimestre. Este relatório revê para baixo a avaliação de crescimento da nossa economia para este ano, de 2% para 1,3%.

Em março deste ano, vimos também uma queda de 43 mil vagas de empregos formais no Brasil, demonstrando que não existe de fato uma dinâmica sólida de recuperação dos empregos em nosso país. E, provavelmente, confirmando os resultados econômicos negativos dos últimos meses.

Dados da Fundação Getúlio Vargas apontam também que não está havendo um aumento, ou sequer uma recuperação, na renda da maioria do povo brasileiro. Os dados apontam que atualmente existe a pior situação dos últimos anos no fator recuperação da renda da maioria da população.

O que parece é que o fator determinante para este início de queda da popularidade de Bolsonaro é justamente a frustração da maioria da população em relação a sua promessa de que bastaria elegê-lo que a vida do povo começaria a melhorar. Na verdade, o que estamos assistindo, é que a vida está piorando com Bolsonaro para a esmagadora maioria dos brasileiros.

Identificar se esta avaliação está correta é muito importante. Não para acreditar que estamos diante de um governo fraco ou algo pelo estilo. Acreditar nisso seria apenas uma ilusão absurda. Mas, para saber qual tema devemos desenvolver prioritariamente em nossa crítica a Bolsonaro, para evitar que este governo de extrema-direita imponha ainda mais ataques aos direitos sociais do povo trabalhador brasileiro.

A batalha da reforma da previdência

As grandes empresas e bancos, a mídia burguesa, o governo Bolsonaro e seus aliados no Congresso Nacional escolheram a reforma da previdência como sua prioridade. Querem ganhar a população para a necessidade de realizá-la de qualquer forma, senão a Previdência Social vai quebrar e todos vão ficar sem suas aposentadorias.

Mentem mais uma vez, e de forma descarada. Na verdade, a proposta de Bolsonaro e Guedes quer transferir para o mercado financeiro um enorme montante de dinheiro, que sairia da previdência pública, para engordar os planos de previdência privada. Essa é a essência da proposta de capitalização apresentada. Para quem tiver dúvida, é só ver a situação de desespero dos aposentados chilenos, país onde este sistema foi implantado ainda no período da ditadura de Pinochet.

Além de atender a ganância dos banqueiros, ainda querem dificultar ainda mais o acesso do povo trabalhador, especialmente as mulheres, professores e os trabalhadores rurais, a aposentadoria. A combinação perversa entre o aumento da idade mínima e do tempo de contribuição cria uma situação de que, caso essa proposta seja aprovada, a maioria da população não conseguirá se aposentar jamais.

Felizmente, os trabalhadores, a juventude e os oprimidos começam a perceber as reais intensões da reforma reacionária da previdência desse governo. Numa recente pesquisa de opinião, realizada nos dias 2 e 3 de abril, pelo Datafolha, apontou que 51% da população brasileira estariam contra essa proposta de reforma, e 41% a favor dela.

Embora exista, segundo essa pesquisa, uma leve maioria contra a proposta, não devemos nos acomodar nessa situação. Pesquisas de opinião chegavam a afirmar, em 2017, que 71% da população eram contra a proposta de reforma da previdência, apresentada pelo governo ilegítimo de Temer. Ou seja, tudo indica que com a eleição de Bolsonaro, as suas mentiras ganharam terreno na consciência de pelo menos uma parcela do povo.

Portanto, a nossa grande tarefa, durante as próximas semanas, é intensificar o trabalho de discussão e convencimento nos locais de trabalho, estudo e moradia, buscando mostrar aos nossos colegas que ainda estão iludidos ou em dúvida, o quanto perverso é esse projeto de reforma da previdência.

Um excelente instrumento para realizar a disputa de “corações e mentes” contra a reforma da previdência é o trabalho com o abaixo-assinado unificado contra a proposta de Bolsonaro e Guedes. O momento nos exige a multiplicação de atividades onde os ativistas busquem conversar com o maior número possível de trabalhadores e jovens.

Somente com a ampliação e consolidação de uma expressiva maioria da população contra a reforma da previdência, poderemos “virar esse jogo”, fortalecendo o processo de mobilização que apenas se iniciou em março deste ano, buscando criar reais condições para uma nova greve geral em nosso país, único caminho para tentar derrotar Bolsonaro e seus ataques.