Num país em que os dados de violência contra a mulher são alarmantes, o debate sobre violência doméstica, machismo e feminicídio é mais do que necessário. O Brasil ocupa a 5° posição mundial dos países com maiores taxas de feminicídio. Cerca de 164 mulheres são estupradas por dia (apenas 10% dos casos são denunciados) no país. Esse cenário é ainda mais assustador para as mulheres negras que, além de sofrerem violência de gênero, sofrem com o racismo estrutural da sociedade brasileira.
É nesse país que proibiu a capoeira e a roda de samba, que destruiu a revolta dos Malês e matou Marighella e Marielle, num Brasil tão perigoso para alguns, que brota uma flor de resistência para os mesmos. Mais especificamente em Aracaju, a cidade que à primeira vista se mostra acolhedora e agradável, mas que desde sua fundação os problemas sociais são jogados para fora do Quadrado de Pirro. Assim, em meio a essa cidade segregada, o Afro Power fez seu espaço. “Se o sistema não faz, o Afro Power faz”, diz Gigi Poetisa em um dos encontros do grupo. E essa é a proposta: Trazer educação, lazer e arte para as periferias.
O Afro Power é construído coletivamente por jovens negrxs da periferia de Aracaju.
Segundo Rayanne Santos, uma das fundadoras, “O Afro Power é um coletivo de empoderamento negro jovem, que se iniciou em outubro de 2017 em Aracaju, com a proposta de realizar encontros com a juventude negra e periférica para ensaio fotográfico. O coletivo sempre caminhou e caminha de forma coletiva e foi assim que conseguimos moldar e construir nossas edições, escutando a juventude negra e suas demandas, depois de dois encontros conseguimos entender melhor como a fotografia se tornou nosso maior atrativo e decidimos usá-la como ferramenta principal para atrair nosso público. O pontapé inicial já tínhamos dado, nosso grupão de whats bombou muito rápido e como uma das pessoas que sempre esteve à frente da organização, posso garantir que o uso das redes sociais também foi e é importante no nosso processo de resistência. A partir do 3° encontro começamos nossas ações culturais, com música, arte de rua, oficinas, teatro e poesia. Já realizamos encontros em muitas praças de Aracaju e a proposta sempre foi essa, ocupar com a arte e levar a informação para quem não tem acesso, seja no diálogo ou na ação lúdica, ocupar e resistir. Elaboramos nossos encontros escutando nossa galera e é assim que enxergamos prioridades. Pautas como: Racismo, Marcha do Orgulho Crespo, Violência contra a Mulher, Violência contra LGBT’S, Afrobetizando e Mulheres no Topo, foram temas que discutimos no ano de 2018 e todas essas experiências e compartilhamentos de vivências nos fez entender ainda mais o quanto somos importantes. Existem várias dificuldades para organizar nossos encontros, seja com o som que quebrou ou com um artista que não pode comparecer, mas nunca deixamos de realiza-lo por isso, ocupar e resistir. Estamos caminhando aos poucos, no trabalho de formiguinha, mas já avançamos muito em apenas um ano de coletivo; e o ano de 2018 ainda que muito conturbado, nos proporcionou muitas experiências com as atividades na rua. Nosso maior propósito é mostrar que o trabalho de base importa e resiste, a informação tem seus diversos meios de chegada, mas chega, e é dessa forma que seguimos em resistência”, explicou.
Na sua 8° edição que ocorreu dia 31 de março deste ano, no Bairro Industrial, o Afro Power debateu sobre a violência contra a mulher, fechando o mês de março que foi marcado por diversas manifestações em todo o país. O encontro contou com uma roda de conversa mediada pela advogada Valdilene Cruz, que buscou conscientizar e mostrar as formas de violência contra a mulher. As atrações artísticas problematizaram o patriarcado e enalteceram a mulher: sua força, seu poder, sua resistência. A palavra de ordem do dia foi desconstrução, desconstruir o pensamento machista e racista para destruir o patriarcado.
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