Nova Direita, Edvaldo e dificuldades para a esquerda aracajuana

Alexis Pedrão, de Aracaju, SE

Uma “nova” direita se reorganizou em todo o Brasil. Em Sergipe não é diferente. Por aqui Alessandro Vieira é a melhor expressão desse setor que se apresenta como novo. Mas há também Emília Correia, Milton Andrade, entre outros. Esse grupo junto com Cabo Amintas e os dois parlamentares do PSB (Elber Batalha e Lucas Aribé) são oposição a Edvaldo na Prefeitura e Câmara de Vereadores. Ainda é um grupo pequeno, mas barulhento e vem crescendo aos poucos. Tudo indica que terão uma candidatura à Prefeitura de Aracaju e outras cidades em 2020.

O problema é que essa “nova” direita nada tem a oferecer para o povo sergipano. Alessandro Vieira apoiou Bolsonaro no segundo turno das eleições presidenciais. Sua vitória foi comemorada na 13 de julho. Não precisa dizer mais nada! Emília sempre foi do DEM, aliada histórica de João Alves. Pulou para o Patriota recentemente. Também dispensa apresentações. Milton, a despeito de ser um cara jovem e muito bom de papo, acredita que a privatização é a única salvação do mundo. Por ele, já tinha privatizado todas as estradas de Sergipe, DESO e BANESE. Cabo Amintas, representa a truculência e a força física. Não bastasse ter ameaçado e prendido vários militantes nos atos contra aumento da passagem, ainda vai armado para as sessões. O PSB, jogando duplo como sempre. Nacionalmente contra Bolsonaro, em Sergipe junto com a direita bolsonarista.

Nesse sentido, parece óbvio que devemos todos da esquerda nos juntarmos para impedir o crescimento da nova direita a partir do centro econômico e político do estado que é Aracaju. Ainda mais porque a prefeitura é dirigida pelo PCdoB e PT, partidos ainda visto por muitos como partidos de esquerda e com os quais estivemos juntos recentemente na tentativa de impedir a vitória de Bolsonaro em 2018, mas não tivemos êxito. Mas eles não governam sozinhos. Mandam em Aracaju também o PSD e o MDB, com diversas indicações políticas. Mas manda mesmo o poder do capital. Luciano da CELI com seu império da construção civil e Laércio Oliveira com a poderosa FECOMÉRCIO. Portanto não é uma prefeitura de esquerda. Longe disso. É uma conciliação entre classes antagônicas, o patronato e segmentos de movimentos sindicais e sociais, que também possuem cargos no executivo municipal.

Mas essas alianças/conciliação, que serviram bem para o milionário financiamento eleitoral de Edvaldo e Eliane e que tem como objetivo a busca de governabilidade estão cobrando um preço muito caro para a população. Como podemos justificar para um trabalhador que foi correto aumentar a passagem de ônibus para R$4,00? Como explicar ao povo que é melhor privatizar o Nestor Piva do que fortalecer a saúde pública? Como pedir a uma professora da rede municipal que apoie Edvaldo após três anos sem piso salarial? O que dizer a juventude negra cotidianamente violentada pela Guarda Municipal? É possível pedir paciência a quem não tem moradia? Que perde seu teto e seus pertences no período de chuvas? São alguns exemplos. Mas teríamos muitos outros. A gestão de Edvaldo a frente da prefeitura não é igual a de João Alves. Também seria difícil termos algo pior do que João/Machado. Mas não mexeu em nenhuma questão estrutural. São questões pontuais, que são importantes e mostram uma sutil diferença entre os projetos, mas nada substancial.

Nesse difícil cenário como devemos agir? Silenciar as críticas para não fortalecer a nova direita? Focar na nova direita e esquecer que Vinícius Porto (aquele mesmo do DEM e proponente do título de cidadão para Galvão Bueno) é o líder do prefeito na câmara? Devemos defender alianças amplas com PSD e MDB (o partido do golpe!) para evitar um mal maior? As condições de vida estão muito difíceis. Não há emprego, não há muitas perspectivas. É preciso ter paciência. É preciso ser razoável. Mas não é possível fechar os olhos. A esquerda está em muitas dificuldades, mas precisa se fortalecer o quanto antes. Buscaremos dar nossa contribuição nesse processo. Mas não faremos isso abaixando nossas bandeiras históricas em troca de uma governabilidade onde a burguesia ganha tudo e para a classe trabalhadora sobra apenas as migalhas. Nós podemos mais, muito mais.

Alexis Pedrão é militante da Resistência/PSOL