A estética burguesa versus a estética revolucionária

Liliane Cirino Vieira, de Uberlândia, MG
Reprodução

Página da HQ Zeppelin, de Ricardo Antunes, adaptação da canção de Chico Buarque

Uma noite em um bar com uma amiga estávamos ouvindo uma banda que tocava de Tom Zé a Tom Jobim. O vocalista, ao anunciar que tocariam uma música que ele não conhecia muito bem, A Geni e o Zepelim, pedia ajuda da plateia para cantar junto com ele. Então, eu me levantei e comecei a dançar e cantar junto. Enquanto eu dançava e cantava com alegria, eu também refletia sobre o que representava as diferenças entre a estética burguesa e a revolucionária. Sempre achei interessante essa música, já que, Geni “preferia amar com os bichos a se deitar com um homem tão nobre e tão cheirando a brilha cobre”.

O que faz com que a Senadora Soraya (PSL/MS) pense que a cultura indígena é “miserável” e “feia” faz parte do imaginário de muitas pessoas representantes dessa elite burguesa atrasada. Sabemos que a ideia dessa elite do que representa o bom e o belo ainda é parte de uma visão eurocêntrica, agora também dominada pela mentalidade estadunidense. De acordo com essa visão colonizada tudo que vem dos EUA e Europa seria bom e qualquer outro tipo de cultura seria ruim. Então continuam propagando a ideologia racista e burguesa de que o bom é o branco, o “rico”, o heterossexual e todo o resto seria “anormal”. Segundo essa visão burguesa e homogeneizante, todos/as almejam ir ao shopping, ter uma mansão, um emprego numa multinacional e ter o carrão do ano. Mas, eu me pergunto por que eu preferiria morar numa aldeia a ficar presa em um escritório? Por que, para mim, conviver com essas pessoas é bem mais insuportável do que estar com meus/minhas semelhantes e queridos/as educandos/as, que, infelizmente, muitas vezes se iludem com essas ideias?

E, da mesma forma, também penso num feminismo classista, porque é muito fácil para uma mulher branca e europeia ser doce e amável “com os seus iguais”, quando ela sempre teve facilidades na sua vida, enquanto ela sempre teve escravos/as para lhe abanar. Enquanto a dureza da vida das mulheres trabalhadoras e negras não lhes dá a mesma chance de respirar o ar da liberdade. Então, a pele é diferente, a roupa, o jeito de falar, seus pertences, a cultura. Nada disso significa que a mulher negra e trabalhadora é inferior. Porque essa elite acha que pobre tem cara de criminoso/a, drogado/a e doente, e ela teme porque pensa que é contagioso, e teme também que a classe trabalhadora “tome” suas propriedades e as suas tralhas poluidoras. É um pensamento perverso e cruel, já que, é essa mesma elite que espolia a classe trabalhadora que ela menospreza, mas é a realidade.

A estética revolucionária é diferente porque deve ser a da diversidade, da pluralidade e aquela que enaltece a classe trabalhadora explorada e oprimida. Os valores são diferentes para cada classe social ou etnia. Quando Sônia Guajajara questiona sobre a visão preconceituosa, xenófoba, racista e classista da senadora do PSL, ela está também alertando para essa diferença entre a estética burguesa e a estética revolucionária. A mesma visão que fez, na década de 1960, os agitadores questionarem a cultura vigente e estabelecer em seu lugar a contracultura. É preciso ser coerente. Não é possível ser revolucionário/a introjetando a cultura burguesa. É preciso romper com essa visão colonizadora. Uma sociedade melhor só é possível respeitando a diversidade, com sustentabilidade ambiental e acabando com a exploração capitalista. É preciso entender, porém, que essa elite burguesa (1%) nunca aceitará essa visão, porque a estética revolucionária significa exatamente a sua extinção, mas não é preciso pedir licença para existir. Resistiremos!

 

Referencial bibliográfico:

TROTSKI, L. A literatura na revolução e a revolução na literatura. São Paulo: Usina Editorial, 2018.