Pular para o conteúdo
MOVIMENTO

Estudantes em luta: A força da greve das universidades estaduais baianas

Gustavo Mascarenhas, de Salvador, BA
Priscila Costa

Na última sexta-feira, 12, estudantes e professores das quatro universidades estaduais baianas (UNEB, UESC, UEFS EeUESB) foram às ruas no primeiro ato unificado da greve contra o processo de desmonte dessas universidades operado pelo governo Rui Costa. A mobilização dos professores é muito importante, mas não temos dúvida de que a luta estudantil é um vetor central da força dessa greve. Por isso, a importância da unidade entre discentes e docentes. Por isso também, a importância da unidade e das estratégias do movimento estudantil dessas universidades.

A diversidade e a unidade entre os diversos coletivos, os Centros e Diretórios Acadêmicos, alguns dos DCE’s (Diretório Central dos Estudantes de cada Universidade) e diversos estudantes independentes tem sido muito importante. Misturando suas bandeiras e baterias, estiveram presentes no grande ato em Salvador o Afronte, RUA, UJC, Pajeú, Outros outubros virão, Levante Popular da Juventude e algumas entidades estudantis de base. Infelizmente alguns outros coletivos e mesmo alguns DCE’s não estão fortalecendo a luta nesse momento de acirramento, preferem blindar o governo.

Veja o vídeo da passeata dos estudantes da Uneb, no dia 05

Ainda assim, a mobilização estudantil tem sido muito exemplar e mesmo decisiva para o avanço da luta. Na UNEB o conjunto dos 24 Centros/Diretórios Acadêmicos do Campus I (Salvador), construíram uma assembleia histórica que reuniu mais de oitocentos estudantes, e de forma democrática foi construído uma carta com as pautas desse movimento, aprovando estado de greve estudantil, com o sentimento de radicalidade de todos presentes, ocupamos a reitoria, fechamos os portões do principal campus da UNEB e marchamos com mais de quinhentos estudantes pra denunciar o descaso do governo com a educação superior baiana. A necessidade de radicalizar levou a deflagração de greve estudantil em assembleia posterior.

 

REIVINDICAÇÕES

As principais reivindicações estudantis do campus I da UNEB são:

1 – Construção do Restaurante Universitário, obra iniciada depois da greve de 2015 e depois interrompida.

2 – Alteração e ampliação do programa “Mais Futuro”.

3 – Repasse integral dos recursos que são das Universidades Estaduais por direito, orçamento já muito insuficiente, que vem sendo contingenciado pelo governador, causando inúmeros problemas e resultando num cenário de caos em vários departamentos.

4 – Implantação de um programa efetivo de acompanhamento psicossocial para as e os estudantes.

5 – Recontratação de seguranças patrimoniais e iluminação no campus, pra termos mais segurança, assim como recontratação das funcionárias de limpeza que foram demitidas, sobrecarregando as poucas que ficaram.

Mas não foi só na capital que os estudantes se mobilizaram. Um grito de basta tem ecoado por todo estado e se juntado à mobilização dos professores em defesa do ensino superior público no estado da Bahia. Tem havido mobilizações estudantis na UNEB em Coité, Barreiras, Bom Jesus da Lapa, Alagoinhas, Teixeira de Freitas, Santo Antônio de Jesus, Guanambi, Valença, Seabra, Jacobina, Ipiaú, Caetité, Eunápolis, Brumado. Além disso, a luta estudantil também acontece na UEFS (Feira de Santana), UESC (Ilhéus e Itabuna) e UESB (Vitória da Conquista, Jequié e Itapetinga). É uma luta “tamanho G”, como gosta de propagandear o governador da Bahia a respeito de suas obras.

Infelizmente, não tem sido “tamanho G” os investimentos em educação no estado. Entre contingenciamento e corte orçamentário, nos últimos anos foram tirados mais de R$ 220 milhões das universidades baianas. Sabemos que o Brasil passar por grandes retrocessos no campo da educação, articulados pelos inimigos do conhecimento que estão no poder, buscam aprovar o projeto “escola sem partido”, além de cortes na ordem de R$ 5 bilhões na educação. De que lado Rui Costa vai ficar? Vai seguir destruindo as universidades estaduais que tem garantido o desenvolvimento da ciência e do conhecimento nas diversas identidades territoriais do estado? Vai seguir aplicando a cartilha liberal de isenções bilionárias para as grandes corporações ao passo que a educação sangra em seu orçamento?

A Bahia foi um dos bastiões de oposição a esse projeto obscurantista de Bolsonaro. Construímos o “vira-voto” para defender a democracia contra o fascismo. Rui Costa foi eleito para construir aqui um polo de resistência democrática. Mas se nega a cumprir esse papel, quando corta da educação, quando não negocia com estudantes e professores, quando mente na imprensa para confundir a opinião pública, como o governador tem feito sobre o salário médio dos professores e sobre o orçamento das universidades. Democracia se constrói com diálogo e fortalecimento da educação pública, por isso o movimento quer prioridade pra educação e negociação já!

O movimento estudantil das universidades baianas, junto com o movimento docente pode e deve colocar Rui Costa contra a parede, derrotando seu projeto de desmonte das universidades. Mas pode muito mais. Vivemos uma um momento muito difícil no país, um cenário reacionário. Um governo que, mesmo com seus delírios cômicos, tem um consistente projeto fascistizante em curso. Por isso, esse é o momento também de, com muito diálogo e unidade entre nós, fortalecer nas nossas universidades um movimento estudantil combativo, autônomo, democrático, e forte para travar essa batalha de hoje e seguir na guerra que continuará.

 

* Gustavo Mascarenhas é estudante da UNEB, coordenador do Centro Acadêmico de Ciências Contábeis, militante do coletivo Afronte e membro do Comando de Greve Estudantil.