Em pleno “regime democrático”, testado em inúmeras ocasiões por medidas características do “estado de exceção”, no dia 7 de abril completou um ano que o Presidente LULA é um preso político. Quatro dias depois, no dia 11 de abril, Bolsonaro completará cem dias de (des) governo.
De acordo com as pesquisas de opinião pública, a aprovação do governo Bolsonaro já despencou 15 pontos e está apenas com 34% de aceitação, o pior índice quando comparado a FHC, Lula e Dilma no mesmo período do primeiro mandato. O índice de reprovação do governo já subiu de 11% para 24%. Isto tudo com apenas oitenta dias depois de sua posse!
Enquanto Bolsonaro é cada vez mais desprezado pelo povo e até mesmo por uma fração, não desprezível como visto acima, que nele votou, Lula só vê aumentar o número de brasileirxs que gritam “Lula Livre!” nas ruas, nos bares, no Facebook, no WhatsApp, nos Atos de um ano do brutal assassinato de nossa Vereadora e companheira Marielle Franco, nos Atos de repúdio à contrarreforma da previdência e em diversos canais alternativos à mídia corporativa. O tempo é o senhor da razão! E é também implacável!
Nesses cem dias, Bolsonaro ainda não disse a que veio. Na área econômica, nenhum plano ou mesmo um programa mínimo de ações foi apresentado para tentar destravar a economia e reduzir a taxa de desemprego. Na área social o quadro é ainda pior. Só vemos cortes de programas, redução de verbas para projetos e paralização ou destruição de diversos órgãos importantes para o desenvolvimento de políticas públicas de combate às nossas grandes desigualdades sociais e regionais.
A cada dia que passa, o governo Bolsonaro nos surpreende, ou melhor, nos impõe uma bomba, uma postura desprezível, uma atuação medíocre. Não podemos ter o direito de achar que estamos sendo surpreendidos, todos já sabíamos de quem se tratava. Todos sabíamos, mas milhões preferiram pagar para ver, preferiram o precipício, como pudesse existir alguma força sobrenatural capaz de impedir o desastre ou sua morte com a queda. Nada disso é compatível com o posto maior da República, com o cargo de presidente do Brasil e a grandeza que deve demonstrar um chefe de Estado.
Mas, sabemos que ninguém pode dar o que não tem. Ninguém pode ser o que não é. Bolsonaro sempre foi um político medíocre, que sempre frequentou o “baixo clero”, setor mais conservador e corrupto do Congresso, e, por isso, só poderá nos entregar atitudes medíocres, estapafúrdias e desprezíveis.
Quem votou em Bolsonaro e também aqueles que lavaram suas mãos ao anularem seu voto, sabiam disso, sabiam o que estavam fazendo – é o “sujeito suposto saber”, sabe por que e como –, e mesmo assim fizeram. O ódio, a intolerância e o desprezo pela política falaram mais alto, os cegaram a ponto de colocar sua própria condição de cidadão em jogo e em iminente perigo de sobrevivência para filhos e netos quando forem se aposentar, ou não, o que é mais provável com este governo e esta “reforma”. As desculpas e justificativas para anular o voto ou votar no capitão-do-mato que querem resgatar em seus inconscientes, foram as mais esdrúxulas, inconsequentes e hipócritas que se possa imaginar.
Os inconsequentes afirmavam que a alternância de poder é importante para a democracia. Não entendem sequer a dimensão da palavra “democracia”. A alternância de poder só faz sentido se o outro candidato for melhor ou no mínimo semelhante à outra alternativa. Minimizaram sua irresponsabilidade afirmando que “… se não der certo, daqui a quatro anos troca”. Confundiram a eleição do presidente de uma das oito maiores economias do mundo com a eleição de síndico do prédio ou condomínio onde moram. O problema é que se o síndico for muito bom, ele consegue desviar no máximo R$ 50.000 por ano. O síndico que eles imaginaram eleger para “administrar” o país com mais de 210 milhões de “condôminos”, pode desviar R$ bilhões de recursos que poderiam servir para melhorar a saúde, educação e segurança públicas que tanto reclamam, inclusive para beneficiar seus próprios filhos e netos. São os mesmos que batem no peito para reclamar do “Estado Leviatã”, o monstro cruel e violento, que, para eles, só serve para cobrar mais impostos. São estúpidos; pois suas ideologias conservadoras e ultrapassadas, não os permitem enxergar não ser possível a implementação de políticas públicas para garantir níveis de civilização razoáveis, ainda que abaixo do estado de bem-estar social, sem a mão invisível do Estado. São os mesmos que defendem o Estado mínimo, desde que suficiente para preservar seus interesses. São tolos, pois defendem o Estado mínimo e ao mesmo tempo reclamam da saúde, educação e segurança públicas. Uma total demonstração de “nonsense”, falta de lógica ou sentido! Serão cúmplices das políticas públicas que deixarão de ser implementadas e matarão milhares de brasileiros, principalmente os das classes mais pobres que tanto desprezam e os incomodam nas ruas pedindo ajuda; as vítimas, de toda natureza, que não conseguem empregos, do capitalismo que tanto idolatram e defendem.
Já os hipócritas preferiram a desculpa de que o PT não fez a “mea culpa”, que o PT não admitiu seus erros. São os mesmos que sempre afirmaram e justificaram seus votos, em partidos vagabundos de aluguel, tipo PSL, do mito que estavam dispostos a votar para tirar o PT do poder, com a desculpa que não votavam em partido, votavam na pessoa! Os currículos dos candidatos, que eu cito abaixo, não deixaria nenhuma dúvida em quem votar ou em quem não votar. Sabemos, assim como eles, que esta não é a desculpa. O problema está no “inconsciente”, e de certa forma em algumas frações de classe social, no “inconsciente coletivo”. Tem a ver com a relação “Casa Grande e Senzala” que ainda querem preservar, que ainda querem salvar o que dela restou em nossa sociedade patriarcal, autoritária, machista, racista e que despreza acima de tudo os mais pobres e os mais humildes.
A eleição contava com candidatos para satisfazer todas as preferências ideológicas e programáticas, mas o ódio plantado pela mídia capitalista golpista contra a “Esquerda” acabou polarizando a eleição entre o candidato do PT, Fernando Haddad, contra o que tinha de pior do centro para a extrema-direita, o candidato de uma sigla de aluguel, o PSL, de Jair Bolsonaro. Hoje, mais conhecido, em todo Brasil, como Partido só de Laranjas. Milhares de seus eleitores que bateram panelas, agora as usam para tampar o rosto de tanta vergonha. Mas a luta de classes está longe de arrefecer, milhares de seus eleitores continuam fiéis e defendendo seu líder, seu mito.
Quando me perguntam por que escrevo textos tão grandes, argumentando que as pessoas não vão ler, eu respondo que é para extravasar minha raiva. Escrever movido à raiva sempre me incomodou, mas eu lidava com isto. Até que um dia, lendo sobre teosofia, fui remetido para a filosofia budista. Com o budismo aprendi que a raiva pode matar, mais pode também servir de combustível e ser canalizada para fazer coisas boas, positivas, nos fortalecer para lutar pelo que acreditamos ser o melhor não só para nós, mas também para a maioria das pessoas; desenvolver projetos que possam contribuir para reduzir as injustiças e desigualdades da sociedade capitalista. Este foi o caminho que eu optei, lógico que existem diversos outros caminhos. O nosso problema não é a raiva; o grande problema da sociedade contemporânea, potencializado pela sociedade capitalista, uma sociedade dividida em classes sociais cada vez mais desiguais e injustas, é o ódio; o ódio não pode ser canalizado, ele só tem capacidade de destruir. O ódio deve ser eliminado o mais rápido possível de dentro de nós, pois ele atinge nosso sistema imunológico e se alimenta dele, se potencializa a partir dele mesmo. O ódio não é um bom aliado na luta de classes, na luta política, na luta em defesa de nossos interesses; o ódio nos faz mal, pois ele só tem capacidade de reproduzir dominação, violência, exploração, repressão e opressão; todas, características da sociedade burguesa, da sociedade capitalista que tanto, nós, que defendemos a sociedade socialista, combatemos.
O maior desastre dessa eleição é que milhões de pessoas votaram movidas pelo ódio. Quando a crise atingiu de forma mais radical a nossa economia, trazendo grande desemprego com mais de 13 milhões de desempregados e mais de 27 milhões fora do mercado de trabalho se considerarmos o desalento – pessoas que deixaram de procurar emprego -, a pobreza e a miséria cresceram assustadoramente e, muitas pessoas ficaram desesperadas e começaram a sentir medo. A grande mídia, durante quatro anos, alimentou o medo; que num primeiro momento se transformou em raiva e posteriormente em ódio. Uma grande parcela do eleitorado votou com ódio do PT e da “esquerda”. Os oito anos de prosperidade do governo Lula foram sepultados com a contribuição decisiva da grande mídia capitalista, interessada apenas em salvar seus próprios interesses de acumulação de capitais. Para isso acontecer era preciso, de acordo com o consenso de seus ideólogos, tirar o PT para a economia brasileira não afundar ainda mais, como aconteceu em outros países. É lógico que muitas pessoas boas, de boa-fé, acabaram influenciadas pelo bombardeio midiático. Não é possível ignorar que boa parcela da população teve a cegueira elevada, a um grau maior, por conta da chuva de postagens “fake news” durante toda a campanha, confundindo a população. Faço campanha política há mais de quarenta anos. Nunca vi nesses anos todos o eleitorado tão confuso como nessa última eleição. Centenas de pessoas me disseram nas ruas, durante a campanha, que “esta eleição está muito estranha”. Não sabiam em quem e em que confiar. A justiça eleitoral, o TSE e os TRE, ficaram alheios a quase tudo. Nada foi feito, praticamente, para evitar a explosão e disseminação de milhares de postagens patrocinadas, por grupos de interesse, para a campanha de Bolsonaro, que invadiram as redes sociais.
É preciso ficar claro que não existem partidos perfeitos, assim como não existem igrejas perfeitas ou até mesmo famílias perfeitas. O que deve nortear a escolha de um partido político é o seu estatuto, sua carta de princípios, seu programa político para a sociedade e acima de tudo seu posicionamento dentro da luta de classes. O partido deve ser escolhido, pela classe trabalhadora, a partir de sua posição, em defesa dos interesses da classe trabalhadora, dentro da sociedade capitalista, que é a sociedade em que vivemos, gostemos ou não. O que deve ser decisivo para nós, trabalhadores, é se o partido vai se posicionar a favor do capital ou a favor do trabalho, gerado a partir da disponibilidade de nossa força de trabalho explorada pelos capitalistas.
A FIESP, por exemplo, que é uma entidade criada para defender os interesses de classe dos industriais, representa e defende os interesses políticos de mais de 130 mil indústrias em todo o país, organizada em mais de 130 sindicatos patronais. A Fiesp, defende os interesses dos patrões, com toda a determinação e dedicação possíveis. No entanto, no Brasil, grande parte dos trabalhadores odeia seu sindicato. É lógico que esta postura tem toda uma carga de preconceito difundida pela grande mídia em relação aos trabalhadores. Grande mídia esta, que tem todo interesse para que isso se perpetue, afinal, a mídia é também uma indústria da comunicação, e como tal, tem seus interesses defendidos pela Fiesp ou outra entidade de classe à qual esteja associada. Fui bancário durante 31 anos e durante todos esses anos cansei de ser testemunha dos ganhos que tivemos por conta da atuação dos sindicatos dos bancários. Centenas de colegas só sabiam reclamar e criticar o sindicato. Furavam greves para fazer média com o chefe e obtinha com isso, muitos tapinhas nas costas e boas promoções!
Na hora de receberem o aumento bem melhor por conta de nossa greve e mobilização, nunca vi nenhum deles reclamar. Será que não enxergavam que os patrões se organizam para defender seus interesses e rebaixar os nossos, os trabalhadores. A organização da classe trabalhadora, através dos sindicatos não é apenas um direito, é uma necessidade para nossa sobrevivência na sociedade capitalista. Engana-se quem pensa que a “consciência de classe” pode ser adquirida a partir de nossa intervenção ou de belas palavras de convencimento. Aprendi, nesses 31 anos lutando pelos interesses de nós, bancários, que a consciência de classe não se aprende com o colega ou amigo de trabalho do lado. A consciência de classe ou política, que andam sempre juntas, só se adquiri na luta diária, ao lado dos colegas de trabalho igualmente explorados pelos banqueiros, seja ele público (pertencente ao Estado da classe dominante) ou privado. A consciência de classe não é algo que se possa adquirir como uma mercadoria qualquer, cujo objetivo é produzir lucro para o capitalista; a consciência de classe é um processo; que só se desenvolve e se materializa a partir de você, a partir de sua experiência pessoal; tem a ver com o ser social que todos somos.
Ninguém tem capacidade de conscientizar ninguém, ninguém tem capacidade de transformar um ser social em um ser político consciente. A consciência de classe e política, apesar de ser um processo individual, só se manifesta e se materializa a partir de nossa atuação coletiva onde vivemos e trabalhamos. Naturalmente que esta questão da “consciência de classe e política” não é tão simples assim. Tem dezenas de outras variáveis sociais, econômicas, políticas e culturais envolvidas. Não cabe aqui aprofundar esta discussão, mas, para terminar, tem um fenômeno central nessa discussão, que não podemos deixar de lado, que é a questão da alienação; uma categoria central no pensamento marxiano e de vários marxistas. Não é possível entender “consciência de classe ou política” sem entender como o fenômeno da alienação funciona e é fundamental para obstaculizar o seu desenvolvimento. Todo e qualquer trabalhador que não se enxergar enquanto trabalhador assalariado e um ser social explorado pelo capital, terá muita dificuldade para ter consciência de classe ou política. Isto tem a ver com uma categoria de alienação muito específica que é a alienação de si. A alienação de si, o impede de avançar na consciência de classe, pois ao não se identificar como trabalhador assalariado, não conseguirá se posicionar na luta de classes. Não vem ao caso, aprofundar esta discussão neste estudo. Voltemos ao assunto central.
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