A relação do candidato a presidente Bolsonaro com a Venezuela, surfando na situação defensiva internacional, tinha como premissa a estratégia de marketing internacional de falsificações e mentiras sobre a chamada revolução bolivariana. “O Brasil não será uma Venezuela” foi um dos mantras da campanha do ex-capitão.
Depois da posse seguiu a continuidade da propaganda falaciosa e mais grave assumir uma total subserviência ao presidente dos EUA Donald Trump, através das posições do Grupo de Lima e do imediato reconhecimento do autoproclamado “presidente encarregado” Juan Guaidó.
Mas o episódio mais grave foi a participação no teatro montado pela CIA e governo dos EUA de uma ajuda humanitária no dia 23 de fevereiro deste ano, criando uma tensão que não se via em nosso continente desde a crise dos mísseis russos em Cuba nos anos 1960. Vale a pena lembrar que o ministro das relações exteriores chegou a cogitar irresponsavelmente a possibilidade de um conflito militar: “Não há menor expectativa de conflito, claro que o Exército está preparado (para agir) caso isso possa se materializar”, disse. (Agência Reuters 23/02/19). O ministro fez esta declaração na Colômbia e, imediatamente, foi desmentido pelos militares, aliás na reunião do dia 22/02/19 do grupo de Lima que descartou qualquer intervenção militar na Venezuela foi tutelado pelo vice-presidente Mourão.
Mas a encenação de ajuda humanitária, com o objetivo de causar uma provocação, foi completamente desmascarada dias depois até pelo insuspeito New York Times, que mostrou vídeos que não deixavam dúvidas sobre quem ateou fogo nas carretas os próprios opositores de Guaidó.
O ridículo foi a “ajuda humanitária” enviada pelo governo Bolsonaro: duas caminhonetes que nem estavam completamente carregadas e não seriam suficientes para abastecer um mercadinho de vila por uma semana.
E mais ridículo ainda foi o Ministro das relações exteriores Ernesto Araújo declarar que as caminhonetes tinham ultrapassado a fronteira e ter que desmentir em seguida. Uma verdadeira sequência de declarações irresponsáveis, mentirosas e de completa submissão ao plano dos EUA.
Continuando a seu papel de “soldadinho de chumbo” de Whasington, recebe Juan Guaidó no Brasil com status de chefe de estado, inclusive financiando com dinheiro público a estadia deste senhor no Brasil.
Mais do ex capitão presidente foi durante a visita à Casa Branca, em 19 de março, onde evitou descartar a “opção bélica” em entrevista. E, logo depois, foi desmentido pela cúpula militar. De volta ao Brasil, voltou atrás, declarando descartar intervenção militar na Venezuela.
Essa postura que parece errática destes 100 dias de governo Bolsonaro não deve nos deixar iludir se suas intenções não foram até o fim. A questão é que as intenções e a realidade concreta para fazê-lo não existem neste momento, existem diferenças entre as frações deste governo, existem interesses diferentes entre as diversas frações da burguesia, mas uma coisa é certa: eles estão unidos em atacar brutalmente os direitos e conquistas da classe trabalhadora e dos oprimidos e estão seguramente articulados com o imperialismo para derrotar e derrubar o governo de Maduro para tomar as riquezas naturais e as conquistas do processo revolucionário venezuelano.
Existe uma espetacular resistência do povo venezuelano, existe muita solidariedade de todos os povos com a luta pela Soberania e Independência da Venezuela, pela autodeterminação de seu povo. Apesar dos duros golpes, não fomos a nocaute. Estamos gradativamente reconquistando, na vanguarda, um importante terreno para essa luta.
A constituição de comitês de solidariedade, debates, palestras e atividades de solidariedade vão se multiplicando pelo Brasil e mundo afora, desmascarando a tsunami de propaganda mentirosa sobre a Venezuela e a luta de seu povo.
Continuaremos firmes neste combate, como fizemos nestes 100 dias e, quanto mais luta, mais mobilizações contra Bolsonaro e seu projeto, mais forte será nossa ajuda à luta da Venezuela.
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