Começou a se erguer uma “muralha” da classe trabalhadora, da juventude e dos oprimidos

O dia 22 de março marca a primeira manifestação nacional contra a reforma reacionária da Previdência de Bolsonaro e Guedes

Edna Amorim / Mídia Ninja

André Freire

Historiador e membro da Coordenação Nacional da Resistência/PSOL

A luta de classes, para muitos, se assemelha a um jogo, devido a suas idas e vindas e a esperança que sempre se tem de virar a partida, mesmo quando se está em assumida desvantagem.

Admitindo como válida a metáfora acima, nesta sexta-feira nosso “time” entrou em campo, mostrou força e unidade na sua ação, embora ainda esteja longe mostrar tudo o que tem de melhor. Portanto, o dia 22 de março representou um importante passo em frente das nossas lutas de resistência. Não foi sequer o primeiro esse ano. Pois, esse protagonismo tem “dona”, mais uma vez: a onda de lutas das mulheres, que se fez sentir novamente no dia 8 de Março em todo o país.

A força da luta dos oprimidos não parou por aí, e seguiu novamente no dia 14 de março, quando se completou um ano do assassinato brutal de Marielle Franco e Anderson Gomes. Quando as mulheres, as negras e os negros, a comunidade LGBT e a juventude estiveram à frente das centenas de atividades em todo o país e no mundo, cobrando Justiça para Marielle!

Agora, no dia 22, estiveram nas ruas importantes setores da classe trabalhadora, mostrando que, assim como em 2017, haverá fortes mobilizações em defesa dos nossos direitos e das liberdades democráticas.

Alguns exemplos devem ser destacados: os metalúrgicos do ABC pararam fábricas importantes, como a Mercedes e a Ford (planta que está sendo fechada), e fizeram uma passeata com pelo menos cinco mil operários em São Bernardo do Campo (SP); Em Fortaleza, pararam os profissionais de educação e os operários (as) da Construção Civil e houve um grande ato na capital do Ceará, com mais de 10 mil presentes; Em Curitiba (PR), os metalúrgicos e servidores foram às ruas também com muita força; No Rio de Janeiro, existiu a paralisação dos profissionais de educação e uma manifestação unificada de alguns milhares no final do dia; Petroleiros atrasaram a entrada e protestaram em várias refinarias; Os professores de SP fizeram uma forte paralisação, sendo o maior setor presente na passeata de dezenas de milhares na Av. Paulista, também na cidade de SP se destaca o atraso dos ônibus urbanos; Apenas para ficar em alguns exemplos.

Não devemos exagerar nos resultados positivos de ontem. Sabemos que o jogo é muito difícil, e os lances mais decisivos ainda estão por vir, afinal o adversário é poderoso e os “juízes” e a imprensa jogam, literalmente, a seu serviço.

Não podemos ter a certeza da vitória, longe disso, mas depois deste março de 2019 já podemos dizer que entramos em campo e que “jogo está sendo jogado”. Ou seja, haverá uma resistência importante à proposta de reforma da Previdência de Bolsonaro e Guedes.

 

Problemas no “time” adversário

Durante a última semana, se consolidou também a percepção das maiores dificuldades do governo Bolsonaro em impor uma tramitação rápida para a reforma da Previdência no Congresso Nacional.

Neste momento, segundo pesquisas de opinião divulgadas na semana passada, existe o início de um processo de desgaste de Bolsonaro na opinião púbica. Para isso, contou principalmente as denúncias de corrupção contra seu filho Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e contra o próprio PSL – o chamado “laranjal”; a divulgação de noticias sobre o envolvimento do “clã dos Bolsonaros” com as milícias do Rio de Janeiro – inclusive com os possíveis executores de Marielle; o ataque terrível a escola pública em Suzano (SP), que demonstra a tragédia da política de liberalização das armas do “bolsonarismo”; postagens absurdas nas redes sociais do próprio Bolsonaro e as diferenças internas no próprio governo.

Outra crise parece ter se aberto com a ação da Lava-Jato de prender preventivamente o ex-presidente ilegítimo Michel Temer (MDB-SP), evidentemente só depois que ele estivesse fora da Presidência da República. Parece que a prisão de Temer e do seu ex-ministro Moreira Franco (MDB-RJ), sogro de Rodrigo Maia (DEM-RJ), provocou um abalo importante na relação entre o atual presidente da Câmara de Deputados com o governo Bolsonaro.

O mercado financeiro já reagiu “nervoso”: a bolsa de valores, que vinha batendo recordes de crescimento, voltou a cair e o dólar subiu significativamente. O medo dos ricos e poderosos é um só: abrir um cenário de maiores dificuldades para aprovar a reforma da Previdência de Guedes.

A proposta de reforma da Previdência do governo unifica a maioria dos parlamentares, as grandes empresas, bancos e a mídia. Por isso, as crises entre governo e Congresso de hoje podem ser superadas, afinal Bolsonaro já iniciou concessões às emendas orçamentárias dos parlamentares dos partidos da direita – a velha política do “toma lá da cá” – mostrando que seu governo está muito longe de representar alguma nova política de fato.

As próximas semanas podem indicar mais nitidamente qual a evolução e a profundidade na crise política que se abriu entre o governo e parte importante de sua base no Congresso. Entretanto, o que já podemos e devemos concluir é que o movimento do povo trabalhador, da juventude e dos oprimidos deve aproveitar o momento e essa crise que se iniciou para ampliar ainda mais as suas mobilizações, preparar pela base um movimento que lute com toda a energia possível para evitar a destruição da Previdência Social.