Bolsonaro chegou em Washington neste último domingo com alguns de seus ministros, dentre os quais Paulo Guedes, Ernesto Araújo e Sergio Moro. Enquanto Bolsonaro se preparava na Blair House para o jantar ofertado por Sergio Amaral, embaixador brasileiro em Washington, Eduardo Bolsonaro dava uma entrevista para um canal brasileiro, na frente da Casa Branca, confirmando sua declaração precedente de que brasileiros ilegais no exterior são uma vergonha. Para o desgosto de Eduardo Bolsonaro, porém, no mesmo lugar algumas pessoas protestavam com faixas, cartazes e bonecos contra a presença do atual presidente do Brasil, apelidado nos EUA de ser o Trump dos Trópicos.
Essa é a primeira viagem aos EUA de Bolsonaro na condição de presidente da República e sua vinda representa mais do que a formalização de dispensa de visto para turistas norte-americanos. O significado desta viagem de Bolsonaro está estritamente relacionado a um projeto de arquitetura neoliberal que tem no programa e na organização da extrema-direita mundial a sua base.
Bolsonaro desembarcou nos EUA com objetivos econômicos precisos. Quer colocar o Brasil como o segundo país da América Latina no rol dos países parceiros estreitos fora da OTAN, os chamados major non-Nato-Ally (MNNA). Com isso, o Brasil se tornaria o segundo país da America Latina, depois da Argentina a integra-se neste grupo. Isso facilitaria ao Brasil o acesso a cooperação militar e tecnológica. O acordo foi assinado nesta segunda feira (18) precisando ainda ser aprovado no Congresso brasileiro. Os negócios na pauta de Bolsonaro são determinantes porque seu intuito efetivamente é atrair várias empresas americanas desejosas em enviar satélites a um custo mais baixo a partir da base de Alcântara, administrada pela Força Aérea Brasileira, no Maranhão.
Vale destacar que os objetivos econômicos e militares desta viagem estão conectados com uma articulação do Brasil com a extrema direita internacional. As mudanças recentes na natureza da economia global representam de fato uma conjugação interdependente entre projeção ideológica e articulação política cuja finalidade são interesses econômicos particulares. Este cenário foi representado no domingo com a presença de convidados ilustres para o jantar com Bolsonaro servidos de caviar vermelho.
O primeiro já conhecido pelos brasileiros, Olavo de Carvalho, atraído pelos EUA por seu amor as armas e sua paixão pelo fumo, alternando-se entre “garoto Marlboro” e amante dos charutos cubanos, esta última, uma paixão contraditória. Com mais de 700 mil seguidores no Twitter, facebook e mais de 600 mil inscritos em seu canal no Youtube, Olavo de Carvalho, mesmo nos EUA foi um dos principais mentores ideológicos da campanha de Bolsonaro no ano passado. A despeito de suas recentes e duras críticas ao vice-presidente Mouräo, ao general Heleno e aos militares do governo, parece que Olavo de Carvalho teve lugar privilegiado na mesa dos convidados de Bolsonaro, demonstrando forte alinhamento com presidente.
Do lado oposto da mesa encontrava-se Steve Bannon, conselheiro de Donald Trump até final de 2017, quando foi escrito Fire and Fury, livro de Michel Wolfe, que descreve detalhadamente os bastidores da campanha de Trump para a Casa Branca e Bannon é caracterizado no livro como traidor de Trump. Diferenças a parte, o significado da presença de Bannon nos primeiros encontros de Bolsonaro revela uma aliança ideologia articulada. De fato Bannon, é um dos fundadores do The Movement: movimento de soberania transnacional que visa promover o nacionalismo econômico e o fortalecimento da extrema direita em todo o mundo. Em 2017 o lider do partido popular Belga, Mischael Modrikamen registrou o grupo e Bannon caracterizou o supergrupo como fortemente articulado na Europa por ter conquistado 700 cadeiras nas ultimas eleições do parlamento europeu. No último encontro do grupo em Bruxelas em janeiro, Eduardo Bolsonaro, o mais próximo de Bannon foi eleito representante da America Latina no grupo e um dos principais articuladores políticos contra os movimentos sociais.
Além de Bannon, outros convidados do jantar foram destaque como por exemplo o investidor Gerald Brant e Roger Kimball, este último editor do conservador New Criterion. Kimball destaca-se por ser um ferrenho ideólogo nos EUA contra os direitos humanos e o pensamento crítico na educação em especial nas universidades. A valer, um dos seus principais livros é Radical in the Universities: how politics has corrupted higher education in the United States of America (Publicado no Brasil pela Editora Peixoto Neto: Radicais nas universidades: como a política corrompeu o Ensino Superior nos Estados Unidos da América).
A imprensa americana como em qualquer lugar do mundo é dividida em relação a vinda de Bolsonaro no Brasil. O Daymail destaca que Steve Bannon dará ao novo presidente do Brasil, Bolsonaro, conselhos a Bolsonaro antes de se reunir com Trump na Casa Branca. Destaca a visita de Bolsonaro a CIA na segunda e os presentes no jantar como Matt Schlapp, presidente da American Conservative Union e Walter Russell Mead, colunista do Wall Street Journal e membro do Hudson Institute, um think thank neoliberal e conservador nos Estados Unidos. O The Guardian (Edição USA) enfatiza que com a “mesma retórica” de Trump, Bolsonaro visita os EUA para reafirmar aliança populista com Trump. O NY Times International sublinha que como Trump, Bolsonaro fala toscamente.
Parece que o slogan Brasil acima de tudo, tanto pronunciado durante e depois da campanha de Bolsonaro encontra eco apenas para os magnatas de Wall Street e para o governo americano, que parece saber mais do que Bolsonaro que em política interesses estão acima de qualquer tentativa de aproximação. Enquanto Bolsonaro em entrevista na FOX ontem à noite disse que iria abrir o coração hoje a Trump no encontro na Casa Branca, Trump continua fechando a porta para os brasileiros que sonham em visitar a Terra do Tio Sam, vale lembrar que um dos projetos principais de Trump é a construção de um muro para impedir a entrada de imigrantes ilegais (inclusive brasileiros) que usam a fronteira mexicana como meio de entrada nos Estados Unidos.
Vamos ver as cenas dos próximos capítulos desta viagem….
Especialmente que medida concreta Bolsonaro e Trump irão anunciar, mais vez, contra a soberania da Venezuela.
FOTO Jair Bolsonaro desembarca nos Estados Unidos. Isac Nóbrega/PR
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