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BRASIL

Novo suspeito de assassinar Marielle e Anderson também foi homenageado pela Alerj

Por: Tião Torres, do Rio de Janeiro, RJ

Relações entre milícias e a política do RJ deve ser investigada com rigor e transparência

O policial militar reformado Ronnie Lessa, preso nesta terça-feira (12), como principal suspeito de ter feito os disparos contra o carro de Marielle Franco, pasmém, já recebeu uma moção de louvor da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ).

A homenagem absurda aconteceu em 1998, por iniciativa do então deputado estadual Pedro Fernandes Filho. Ele é pai do atual secretário de educação do RJ e ex-candidato ao Governo pelo PDT, Pedro Fernandes Neto.

Infelizmente, homenagear policiais envolvidos com milícias, com condecorações da Alerj, foi uma prática de vários deputados estaduais.

Neste quesito, se destacou muito o ex-depuado estadual e atual senador Flavio Bolsonaro, filho do presidente Bolsonaro. Por sua iniciativa, a Alerj homenageou, por exemplo, Adriano Nóbrega, o ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) da Policia Militar (PM).

Nóbrega atualmente está foragido da policia e é outro suspeito de ter participado da execução de Marielle e Anderson. Flávio já homenageou pelos menos três outros milicianos que estão presos neste momento.

Investigar com rigor a relação das milícias com os políticos

Nesta terça, após anunciar a prisão dos dois suspeitos de terem matado Marielle e Anderson, a polícia defendeu uma nova tese: que esta execução foi um crime de ódio, eliminando ou, no mínimo, minorando o caráter político dele.

É necessária uma investigação rigorosa e transparente, com controle público da sociedade, sobre a relação das milícias com políticos, principalmente do Rio de Janeiro.

Descartar ou secundarizar a caracterização de crime político na execução de Marielle pode acobertar a participação direta de políticos como mandantes deste assassinato.

É fundamental investigar as relações da cúpula do MDB da ALERJ com as milícias. Especialmente, a relação dos ex-deputados estaduais e atuais presidiários Picciani, Albertassi e Paulo Mello, com os crimes praticados pelas milícias.

Da mesma forma, não se deve temer uma investigação rigorosa sobre a relação do “clã dos Bolsonaros” com as milícias.

Neste momento da investigação, dois do principais suspeitos de assassinar Marielle possuem alguma relação com a família Bolsonaro.

Um deles, Nóbrega, foi homenageado por Flavio e manteve sua esposa e mãe por vários anos como funcionárias do gabinete do filho do Presidente.

O outro, Lessa, era vizinho do Presidente, num condomínio de luxo na Praia da Barra da Tijuca, e é pai de uma ex-namorada de um dos filhos do Presidente, segundo o próprio delegado responsável pela instigação do assassinato de Marielle e Anderson.

Todas as evidências vão no sentido oposto da tese anunciada ontem pela polícia. Na verdade, o terrível assassinato de Marielle e Anderson devem provar, mais uma vez, as relações bem estreitas de políticos do Rio de Janeiro com as milícias e o crime organizado.

Os movimentos sociais, democráticos, de defesa dos direitos humanos e os partidos de esquerda devem intensificar a mobilização e a cobrança do poder público a favor da realização de uma investigação rigorosa e transparente.