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EDITORIAL

Chegou a vez de ouvir as mulheres! Viva as Marias, Mahins, Marielles, Malês!

Editorial de 12 de março de 2019

Depois de um carnaval marcado pela extasiante vitória da Mangueira, com seu samba-enredo que mais parece uma aula de história, da verdadeira história do Brasil, tivemos mais uma importante vitória: grandes, fortes e unificados atos no 8 de Março, Dia Internacional de Luta das Mulheres.

Estava sobre os ombros das mulheres a responsabilidade de fazer o primeiro grande ato de enfrentamento ao governo de Jair Bolsonaro. Dar o primeiro passo na caminhada da resistência. A expectativa não era repetir o desempenho do movimento #EleNão, que arrastou milhões às ruas às vésperas do primeiro turno eleitoral de 2018, pois vivemos um momento político distinto daquele. Mas fazer fortes atos que moralizassem as mulheres e o conjunto dos movimentos sociais para acumular forças e enfrentar as grandes batalhas que temos pela frente.

Podemos dizer que este objetivo foi cumprido com louvor. Em geral os atos repetiram o fabuloso desempenho do 8M de 2017, que abriu as portas da greve geral e derrotou a reforma da Previdência do então governo Temer. Foram atos com dezenas de milhares nas principais cidades do país, que cantaram os versos da Mangueira, gritaram a luta por justiça para Marielle e Anderson, denunciaram irrefutavelmente o aumento do feminicídio e anunciaram a tarefa de derrotar a nova reforma.

O tamanho e força dos atos feministas não dependem mais apenas das oscilações positivas ou negativas da conjuntura. Mesmo diante de uma ofensiva de forças tão conservadoras, o movimento feminista vem se provando como vanguarda do processo de resistência no Brasil e no mundo. Em alguns países vimos milhões nas ruas, greves de mulheres que tiveram significado de greves gerais, como na Espanha, Portugal, Itália e Chile. Ocorreram atos em países da África, como Argélia, Quênia e Turquia, onde tradicionalmente não se viam atos, sendo que neste último as mulheres sofreram uma forte repressão. O 8M ocorreu em mais de 400 cidades no mundo, em atos grandes e históricos! É uma onda que cresce. É neste processo, na força das mulheres, que está a chave para despertar o conjunto dos trabalhadores para resistir a ofensiva ideológica, social e econômica que quer nos esmagar.

No Brasil, o 8M foi uma importante resposta à ministra Damares, com seu discurso que reforça a já abismal desigualdade de gênero no país; ao discurso misógino, de ódio que permite o aumento de crimes bárbaros contra mulheres e pessoas lgbts; ao aumento significativo dos casos de feminicídio, que segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, no início de fevereiro já haviam sido notificados 126 feminicídios, número superior ao do mesmo período do ano de 2018, que, por sua vez, já havia crescido 12% em relação ao ano anterior. O 8M foi uma resposta ao racismo de estado, que extermina a juventude negra nas favelas e periferias do país, agora, ainda mais legalizado e institucionalizado com o pacote de “combate ao crime” de Sérgio Moro; aos planos draconianos de Paulo Guedes que quer transformar os trabalhadores brasileiros em um povo sem direitos. O governo Bolsonaro elegeu o movimento feminista como alvo, mas nós estamos de pé, cabeça erguida e braços dados.

O primeiro passo foi dado, mas não podemos ter um minuto de descanso, pois o caminho é árduo e longo. A próxima tarefa é realizar um importante 14M, quando se completa um ano da execução politica de Marielle Franco, e preparar nos locais de trabalho, estudo, moradia, uma massa crítica sobre o fim da seguridade social, que consiga dar uma nova demonstração de forças no próximo dia 22, quando haverá o primeiro ato nacional contra a reforma da Previdência. É preciso dar continuidade a unidade forjada desde o #EleNão e que se estendeu na construção do 8M. Precisamos de uma frente entre o movimento feminista, centrais sindicais, frentes de luta e demais movimentos sociais para enfrentar a extrema-direita brasileira e seus ataques. Juntas e juntos somos gigantes!

Como disse Mônica Benício, viúva de Marielle Franco, citando a escritora Conceição Evaristo, diante de uma Cinelândia lotada, “Eles combinaram de nos matar, mas nós combinamos de não morrer”. Resistiremos!

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8M / carnaval / mulheres