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Bolsonaro visitará os EUA nos dias 18 e 19 de março e se reunirá com Trump

André Freire

Historiador e membro da Coordenação Nacional da Resistência/PSOL

Quatro riscos principais para nossa soberania

A visita oficial de Bolsonaro aos EUA está prevista para acontecer nos dias 18 e 19 de março. O encontro entre Trump e Bolsonaro deve ocorrer no dia 19. Na pauta, muitos assuntos estratégicos, entre eles: o aprofundamento da parceria comercial entre os dois países, a situação da Venezuela, a cessão da Base de Alcântara aos EUA, entre outros temas de grande relevância para a nossa Soberania.

A visita acontece num momento de dificuldades políticas para Trump, que enfrenta denúncias pesadas de seu ex-advogado, em processo que está sendo examinado pela Câmara dos Deputados dos EUA, de maioria do Partido Democrata.

Trump quer usar a visita para consolidar o avanço, ainda maior, da hegemonia estadunidense sobre a América Latina, recuperando terreno comercial perdido para China durante os últimos anos. Para isso, quer exibir um discurso afinado com o presidente do principal país da região. Para Bolsonaro, a visita tem o objetivo de aprofundar as relações prioritárias do novo governo brasileiro com os EUA e com o governo de Trump e da direita republicana.

Os dois presidentes devem assinar um documento comum, com os acertos definidos na reunião. As negociações em curso já apontam para riscos importantes aos interesses do nosso país, principalmente em quatro sentidos amplos.

1- Subordinação política e militar

Um dos assuntos que serão tratados na reunião será, com certeza, a situação da Venezuela. O governo dos EUA quer comprometer ainda mais o governo brasileiro com sanções ao governo Maduro e até com uma intervenção militar direta de nosso país nos interesses soberanos venezuelanos.

A subordinação das forças armadas brasileiras aos militares estadunidenses é antiga. Pelo menos desde o acordo militar de 1952, celebrado entre os dois países, é fácil observar que – com idas e vindas – sempre existiu uma política permanente de alinhamento da elite militar brasileira com a cúpula militar dos EUA.

Com o governo Bolsonaro, essa situação de subordinação só vem se aprofundando. Ao ponto que um militar brasileiro de alta patente, o general-de-brigada Alcides Valeriano de Farias Júnior, acaba de assumir um cargo nas forças armadas dos EUA.

Ele será um dos subcomandantes do chamado Comando Sul, Unidade Militar responsável pelos interesses estratégicos e militares dos EUA na região da América Latina. A grande pergunta que fica é: porque um general brasileiro assume um cargo nas forças armadas de outro país, e logo dos EUA, que sempre teve uma relação imperialista com a região.

(https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/02/general-brasileiro-fara-parte-de-comando-militar-americano-pela-primeira-vez.shtml)

E a subordinação política e militar brasileira aos ditames de Trump não deve parar nos ataques a Venezuela. Logo após a visita aos EUA, Bolsonaro parte para Israel para encontrar com o Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu.

Um dos assuntos principais desta visita será a possível transferência da Embaixada Brasileira em Israel para Jerusalém, em evidente desrespeito aos direitos do povo Palestino, exatamente como fez Trump no ano passado. Bibi, como é conhecido o governante israelense, é outro político marcado, neste momento, por uma grande instabilidade política, devido a escândalos de corrupção envolvendo diretamente o seu nome.

2- Acordo de cessão da Base de Alcântara

Outro assunto que está na pauta da reunião de Trump e Bolsonaro será a cessão da Base de Alcântara (no Estado do Maranhão) para os EUA.

Alcântara é um dos melhores Centros de Lançamento de Foguetes do mundo, especialmente por sua localização geográfica, muito próxima a Linha do Equador, o que chega a economizar até 30% no combustível necessário para colocar espaçonaves em órbita.

O acordo de cessão de Alcântara já está em negociação adiantada, e progrediu muito durante a administração de Temer. Bolsonaro nomeou para ministro de Ciência e Tecnologia o ex-austronauta brasileiro e tenente-coronel reformado da Força Aérea Brasileira (FAB), Marcos Pontes. Ele é um dos grandes defensores da entrega de Alcântara para os EUA.

Os militares dos EUA querem ter controle absoluto sobre a Base de Alcântara, inclusive com restrição de acesso de autoridades brasileiras sobre algumas dependências da unidade e sigilo absoluto sobre equipamentos que serão enviados para a região.

A depender do acordo que está em negociação, os EUA poderão voltar a ter na prática uma Base Militar no Brasil, numa região estratégica, próxima da Amazônia e da própria Venezuela.

3- Entrega do Pré-Sal e novas privatizações

Em relação aos temas econômicos, em negociação na reunião, um dos assuntos mais importantes será o interesse do governo e das grandes empresas estadunidenses em relação à exploração do Petróleo brasileiro, em especial da chamada camada do Pré-sal.

Se utilizando de uma mudança reacionária na legislação da exploração do Petróleo do Pré-sal, realizada ainda no governo petista de Dilma – retirando da Petrobrás a condição de operadora única do sistema e também a garantia de no mínimo de 30% da empresa brasileira no controle das áreas licitadas – as grandes empresas de petróleo estadunidenses querem avançar ainda mais na exploração de uma de nossas maiores riquezas naturais.

A nova administração da Petrobrás, totalmente subordinada à política econômica ultra-liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes, já prepara uma política de intensificação da privatização da Petrobrás (com a política de vender várias refinarias estratégicas) e de entrega de nosso petróleo e pré-sal (com a intensificação da realização de leilões de reservas).

4- Venda da Embraer e a ampliação da desnacionalização de nossa economia

Ao lado da política de aprofundamento da venda do patrimônio nacional, a política econômica de Guedes e Bolsonaro vai ampliar ainda mais a desnacionalização de nossa economia. Quem ganhará serão as grandes transnacionais, em especial dos EUA.

A postura entreguista do novo governo ficou evidente na venda da Embraer, uma das grandes empresas na aviação do mundo atualmente, justamente para uma grande empresa estadunidense, a Boeing. Lembrando que, embora a Embraer fosse uma empresa privatizada, o governo brasileiro ainda possuía poder de veto neste tipo de transação comercial. Mas, depois de algumas reclamações pontuais, Bolsonaro acabou concordando com o negócio.

A venda da Embraer para Boeing representa um duro golpe aos interesses estratégicos e soberanos de nosso país. Afinal, toda a tecnologia de ponta desenvolvida pela Embraer será totalmente entregue aos EUA, sem nenhuma contrapartida. E ainda por cima ameaçando ainda mais os empregos e os direitos dos trabalhadores da Embraer.

Na esteira da Operação Lava Jato, já tínhamos assistido o crescimento da presença de empresas estrangeiras, como dos EUA, no setor da construção civil pesada, em grandes obras controladas pelo governo brasileiro.

O objetivo é ampliar ainda mais a compra de empresas brasileiras por grandes empresas estadunidenses e a participação delas em licitações de obras em solo brasileiro. Em grave contradição com qualquer política que tenha como objetivo o desenvolvimento de nossa economia.

 

Defender nossa Soberania – uma tarefa prioritária

A defesa dos interesses do nosso país está cada vez mais nas mãos do povo trabalhador brasileiro, da juventude e dos oprimidos. O governo Bolsonaro tem como projeto aprofundar ainda mais a dependência de nosso país aos interesses imperialistas dos EUA, dando passos significativos neste sentido, já no encontro dos próximos dias.

Durante a visita de Bolsonaro a Trump será muito importante que no Brasil os movimentos sociais combativos e as organizações socialistas e da esquerda discutam como o nosso povo, nos locais de trabalho, estudo e moradia, sobre os riscos a nossa Soberania envolvidos nas negociações deste encontro sinistro.

Nos EUA, organizações da juventude, dos trabalhadores, de defesa dos oprimidos e socialistas, como a Organização Socialista Internacional (ISO, sigla em língua inglesa), também estão preparando protestos nos dias da visita de Bolsonaro àquele país.

Precisamos ampliar nossas relações de solidariedade internacional com os movimentos sociais dos EUA, para repudiar conjuntamente os objetivos imperialistas de Trump para América Latina e os ataques de Bolsonaro aos direitos sociais, as liberdades democráticas e a nossa Soberania.

. Fora EUA da América Latina;

. Em defesa da soberania da Venezuela e de todo o nosso continente;

. Derrotar Bolsonaro e seus ataques aos direitos sociais, às liberdades democráticas e a nossa Soberania.