8 de Março: Chega de nos matar! Resistir para não morrermos!
Publicado em: 7 de março de 2019
A luta das mulheres por direitos e reconhecimento é muito antiga. Desde o século XIX, lutamos por melhores condições de trabalho, valorização e respeito. Agora, mais um 8 de março se aproxima e, infelizmente, a luta não acabou, nem pode parar. O alto índice de violência e morte que acomete as mulheres faz uma pergunta soar: o que comemorar?
Ao analisarmos o processo histórico brasileiro desse fenômeno, pode-se identificar um período no qual o assassinato de mulheres não era criminalizado, pois as leis brasileiras aceitavam o crime em nome da honra. Esse poder de posse, pregado pelo sistema patriarcal, influencia até hoje a sociedade brasileira de tal modo que a propaganda misógina foi usada para elevar ao poder Jair Bolsonaro (PSL). O discurso contra a “ideologia de gênero”, o fim da corrupção e a defesa da posse de armas escancarou e potencializou o machismo, a violência, o racismo, a homofobia, a transfobia e a xenofobia.
A própria morte de Marielle Franco é uma mostra da violência e do ódio às mulheres negras e periféricas, mas também contra quem luta pelo fim da opressão, da dominação e da exploração. São várias as tentativas de legitimação de sua morte.
Feminicídio no Brasil de hoje
Os números da violência e dos crimes de ódio contra as mulheres aumentam a cada dia. A cada 11 minutos uma mulher é estuprada. O mapa da violência inclui assédio, exploração sexual, estupro, tortura, violência psicológica, agressões por parceiros ou familiares, perseguição e feminicídio.
Mas o que é feminicídio? “É o assassinato de uma mulher pela condição de ser mulher. É o homicídio de mulheres, mas importa a causa da matança para uma morte violenta ser classificada: a mulher precisa ter sido morta por violência doméstica ou familiar, ou por discriminação pela condição de ser mulher” – definição apresentada pela antropóloga, pesquisadora e professora da UNB, Debora Diniz.
Segundo a lei Maria da Penha, a mulher pode sofre violência de diversas maneiras: violência física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. Entre muitas violências que acometem ao público feminino a cultura do estupro acompanha a mulher em todas as fases da vida. Vale ressaltar que muito mais do que um desejo sexual, o estupro é usado como instrumento de poder e dominação.
O Brasil atualmente atinge o 5° lugar no ranking de 83 nações mundiais de violência contra a mulher, sendo um dos países que mais mata mulheres no mundo. Segundo os dados do Mapa da Violência 2015 [1], o Brasil atingiu em 2013 uma taxa média de 4,8 homicídios a cada 100 mil mulheres. Os números são ainda mais alarmantes ao observarmos o crescimento da violência e mortes.
Em 2016, 4.645 mulheres foram assassinadas no Brasil. São 13 mulheres por dia! Em 2017, os tribunais movimentaram 13.824 casos de feminicídio, demonstrando que 66% dos casos ocorrem dentro de casa. Em 2018, foram 68 mil casos de violência contra a mulher – em sua grande maioria praticada por seus parceiros ou ex-parceiros. O ano de 2019 mal começou e já ocorreram 33 casos de feminicídio, nos primeiros 11 dias. Destes, 16 consumaram em assassinato.
O sentimento de posse do parceiro sobre a vida da mulher deixa marcas profundas. Segundo registro no mapa da violência [2] contra a mulher (2018). No Brasil a cada 17 minutos uma mulher é agredida fisicamente. De meia em meia hora alguém sobre violência psicológica ou moral. A cada 3 horas, alguém relata um caso de cárcere privado. No mesmo dia oito casos de violência sexual são descobertos no país, e toda semana 33 mulheres são assassinadas por parceiros antigos ou atuais.
A luta pela emancipação das mulheres também nos apresenta um desafio, que é incluir nas pautas feministas as mulheres indígenas. Um relato da ONU[3], de 2013, mostra que “a violência contra as indígenas é intensificada pelo histórico de dominação colonial, exclusão política e econômica e a falta de serviços básicos. Enfrentam ainda negligência, exploração, tráfico humano, trabalho forçado e escravo”.
Para sermos mulheres no Brasil, é preciso reagir de forma unificada
Os dados são estarrecedores. Diante dessa situação toda, ficamos assustadas quando pensamos em como é ser mulher no Brasil. Vivemos uma pandemia de violência, que atinge todas as idades, classes e etnias.
O contexto pós-eleições de 2018 trouxe à tona a importância da organização coletiva. Embora a chegada de Bolsonaro ao poder seja a materialização desse machismo reacionário, o movimento #ELENÃO, que tomou as ruas contra sua candidatura, foi um dos mais importantes de todos os tempos em nosso país, demonstrando força e protagonismo das mulheres brasileiras.
Diante disso, o 8 de março representa um dia de muita unidade na luta. Vamos reafirmar, a cada momento, #ELENÃO! MARIELLE VIVE! CHEGA DE NOS MATAR! VAMOS RESISTIR PARA NÃO MORRERMOS!
*Ângela da Silva Leonardo é professora da rede municipal de Londrina-PR, militante da Resistência/PSOL, do Coletivo Feminista Classista Marielle Franco e Secretária Estadual de Negros e Negras do PSOL Paraná.
NOTAS
1 – VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER. Dossie Violência contra a mulher. Disponível em: https://dossies.agenciapatriciagalvao.org.br/violencia/pesquisa/mapa-da-violencia-2015-homicidio-de-mulheres-no-brasil-flacsoopas-omsonu-mulheresspm-2015/. Acesso dia 22 de março de 2019.
2 – Comissão dos Direitos da Mulher Câmara dos Deputados. Mapa da Violência contra a mulher. P.G. 09. Brasília DF.
3 – FEMINISMO indígena: a luta das mulheres dentro e fora das aldeias. Pensamento Contemporâneo. s/d. Disponível em: https://www.pensarcontemporaneo.com/379-2/. Acesso em: 28 jan. 2019.
LEIA MAIS
Top 5 da semana

brasil
Prisão de Bolsonaro expõe feridas abertas: choramos os nossos, não os deles
brasil
Injustamente demitido pelo Governo Bolsonaro, pude comemorar minha reintegração na semana do julgamento do Golpe
psol
Sonia Meire assume procuradoria da mulher da Câmara Municipal de Aracaju
mundo
11 de setembro de 1973: a tragédia chilena
mundo