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Venezuela: “Avançar para vencer”

José Carlos Miranda

José Carlos Miranda é ativista social desde 1981. Foi ferroviário e metalúrgico e faz parte da Coordenação Nacional da Resistência-PSOL.

O dia 23 de fevereiro foi possivelmente o dia mais tenso dos últimos anos para todos os povos latino-americanos. A ameaça de uma intervenção militar a partir da suposta “ajuda humanitária” criou uma enorme tensão nas fronteiras da Venezuela e Colômbia e também com o Brasil. Neste dia chegamos em Caracas, capital da Venezuela, para participar da Assembleia Internacional dos Povos.

Esta tensão e apreensão pode ser sentida na “live” que realizamos no dia 24 onde vários participantes nos perguntaram se haveria possibilidade de guerra. A grande operação montada pelo governo dos EUA com ajuda dos governos da Colômbia e do Brasil acabou se transformando num grande fiasco, pois as ações que geraram as tensões na fronteira com a Colômbia aconteceram do lado colombiano como as duas carretas com “ajuda humanitária” que foram incendiadas . E a tensão na fronteira brasileira ocorreu a 8 quilômetros longe da fronteira em território venezuelano.

O recuo do grupo de Lima em relação a qualquer intervenção militar e o anúncio da União Europeia condenando qualquer ataque são uma vitória momentânea. Mas ainda é somente um respiro diante da situação criada pelas sanções econômicas e pela sabotagem interna que provocam a falta de produtos e a inflação galopante.

Mas só é possível explicar a resiliência do processo venezuelano pelo enorme salto de consciência política, da organização e mobilização popular nos últimos 20 anos. Por certo que esse poderoso movimento, o mais avançado até agora da América latina encontra-se em uma encruzilhada. Apesar dos enormes avanços e conquistas estruturais que acompanharam este ascenso, o cansaço do povo, em especial da classe trabalhadora, que sempre foi protagonista deste processo é amplificado com a grave situação causada pelas sanções econômicas e pelas contradições e dificuldades do regime e do próprio movimento chavista. E é desta fragilidade que se apoia a direita e os golpistas pró imperialistas para construírem uma narrativa que encontre eco nas camadas populares. O que pudemos assistir até este momento é que as forças do chavismo têm muitas reservas, porém sem a resolução desta situação, ou seja, não é possível retroceder, ao contrário é necessário avançar e aprofundar as mudanças como dizem por aqui que “a revolução vá até o fim”.