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Quem é o general Augusto Heleno?

Por: Tião Torres, do Rio de Janeiro, RJ.
Antonio Cruz / Ag Brasil

Um perfil do ministro chefe do GSI, nome forte do Governo Bolsonaro

Na semana passada, foi divulgada pelo “insuspeito” jornal Estado de São Paulo a informação de que a ABIN (Agência Brasileira de Informações) está monitorando atividades de líderes da Igreja Católica brasileira, que atuavam junto ao Vaticano na preparação de um evento da Igreja sobre a situação das comunidades indígenas, ribeirinhas e quilombolas na Amazônia – “Sínodo sobre a Amazônia”. Na atual administração federal, a ABIN está subordinada ao GSI (Gabinete de Segurança Institucional). A atividade foi assumida pelo governo, que alega a necessidade deste monitoramento pelo fato que estes elementos da Igreja Católica, ligados ao chamado “clero progressista”, são uma força de oposição ao atual governo federal.

Nesta semana, outro fato veio à tona: a demissão de Gustavo Bebiano (ex-presidente nacional do PSL) da Secretaria Geral da Presidência. No seu lugar, tomou posse o oitavo ministro com origem diretamente militar (general Floriano Peixoto) no primeiro escalão do governo, formado por 22 Ministérios. Segundo o jornal Zero Hora, já são cerca de 100 cargos relevantes no novo governo assumidos diretamente por militares.

Por trás destas movimentações está uma figura que vem ganhando cada vez mais peso: o general da reserva Augusto Heleno, ministro-chefe do GSI, uma espécie de “poderoso chefão” do governo Bolsonaro.

General Augusto Heleno visto mais de perto

As entrevistas do atual chefe do GSI jurando respeito a instituições do regime democrático brasileiro escondem seu verdadeiro perfil autoritário. Augusto Heleno sempre um defensor público da ditadura militar.

Ele concluiu seu curso na AMAN (Academia Militar das Agulhas Negras) no ano de 1969, no auge do período mais duro e criminoso da ditadura brasileira. Mas, a ascensão de sua carreira militar começou já no período da redemocratização, mas especialmente durante os governos do PT.

Em 2004, foi o primeiro comandante da Minustah (Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti). A chefia desta missão ficou a cargo do governo brasileiro e Augusto Heleno foi o seu primeiro comandante geral, justamente no período mais violento e sangrento desta verdadeira ocupação militar do Haiti. No final de todo o período de vigência da Minustah, 36 mil soldados brasileiros passaram pelo país caribenho.

Depois que deixou o comando da Minustah, Augusto Heleno assumiu o Comando Militar da Região da Amazônia. Durante este período, dois fatos merecem menção.

Em 2006, ele participou, junto com outros militares brasileiros, em pleno Governo Lula, de um curso na Escola das Américas, Instituição de Ensino Militar dos EUA. Neste curso, ele ministrou uma palestra, que até hoje não se conhece seu conteúdo. O fato foi denunciado à época, pelo portal Vermelho.

A Escola das Américas foi fundada pelas Forças Armadas dos EUA ainda na década de 1950. Inicialmente foi instalada no Panamá. Por ela passaram praticamente todos os ditadores latino-americanos das décadas seguintes. Na década de 1990, a Escola das Américas foi transferida para o território dos EUA.

Outro fato, que fez Augusto Heleno ganhar as páginas dos grandes jornais brasileiros, foi seu protesto veemente contra a demarcação das terras indígenas na Reserva Raposa Serra do Sol, durante palestra no Clube Militar, um dos redutos da extrema direita militar brasileira.

Em 2011, passou para a reserva. Na sua cerimônia de “aposentadoria”, dentro do Quartel General do Exército, fez uma homenagem ao seu pai, coronel e professor de Instituições Militares de Ensino, com os seguintes dizeres, muito ilustrativos: “Lutastes, em 1964, contra a comunização do Brasil e me ensinastes a identificar e repudiar os que se valem das liberdades democráticas para tentar impor um regime totalitário”.

No mesmo ano, um pouco antes de ir para a reserva, e depois de grande repercussão negativa, foi proibido pelo Comando do Exército de ministrar uma palestra com o seguinte título: “A contra-revolução que salvou o Brasil”, em apoio ao golpe militar de 31 de março de 1964.

Na reserva, foi assessor especial de segurança do Comitê Olímpico Brasileiro, sendo um dos responsáveis diretos pelas operações de monitoramento e repressão aos movimentos sociais que questionavam os gastos públicos astronômicos destes grandes eventos.

Foi um dos grandes defensores do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, nos meios militares. Logo após o golpe parlamentar, ainda em 2016, escreveu um artigo num site de extrema direita afirmando que “a petralhada deveria parar de falar em golpe … e ir para Cuba e Venezuela”.

Unidade em defesa das liberdades democráticas

O fato de o núcleo central do governo Bolsonaro ser formado pela elite das Forças Armadas, especialmente do Exército, por si só já representa um sério risco para as liberdades democráticas em nosso País.

O compromisso da elite das Forças Armadas com o legado da ditadura militar é apenas a expressão maior do risco porque passa o regime democrático. Os movimentos sociais e as organizações de esquerda não devem ter nenhuma confiança nos discursos públicos a favor da democracia, pronunciados por Bolsonaro e pelos representantes deste governo de extrema direita.

Apenas uma ampla unidade de ação democrática, entre todos os movimentos e organizações do povo trabalhador, ao lado de todos os setores democráticos, poderá impedir uma escalada cada vez mais autoritária deste governo. A única saída é apostar em nossa luta e organização, para ampliar a nossa capacidade de resistência.

 

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FOTO: Antonio Cruz / Agência Brasil