No Fórum Trabalhista de São Paulo, peão com marmita não pode entrar
Nesta quinta-feira (21), no Fórum, tinha um trabalhador na fila da esteira de detectores, foi proibido de entrar com sua marmita. A marmita estava bem enrolada em um pano branco, como um pano de prato. No alto, um laço que prendia um garfo e uma faca. Eu fiquei ali ouvindo o diálogo entre o segurança e o trabalhador, que falava: “Olha, moço, esta é minha única refeição, se minha marmita não entrar eu também não entro”. O segurança olhou bem sério e disse: “são as regras”.
O trabalhador a essa altura estava morrendo de vergonha, a fila parada e eu bem atrás dele. No meio de centenas de homens de terno e gravata, ele olhou bem nos olhos do segurança e falou que não era advogado. O segurança falou: “eu sei”, mas o trabalhador não se conformou, e continuou: “eu nem pude estudar, não conheço as regras, as leis, só sei que todo homem precisa comer para sobreviver”.
Perguntou o trabalhador se o segurança não podia guardar a marmita para ele pegar na volta. O segurança, irritado, falou já de maneira bem grosseira, “eu sou segurança e não guardador de marmita”. Eu estava adiantada para minha audiência, comecei a ficar impaciente, primeiro por ver o constrangimento do trabalhador e também porque eu precisava passar. Minha bolsa ficou embaixo da esteira e eu não podia passar.
O trabalhador não teve dúvida, pegou a marmita e deixou no chão bem no cantinho da porta de entrada. O segurança gritou: “aí também não pode”. O trabalhador respondeu: “isto não está na regra. Eu não sou doutor, não estudei, mas aprendo rápido”. Uma mulher que estava na porta disse que olhava a marmita, que ele podia ir tranqüilo.
Subimos juntos no elevador e falei: “eu sou advogada e levo marmita também, quando tenho audiência na parte da manhã, fico sem comer”. Ele me respondeu: “Nossa! Eu estava pensando que era só comigo, mas advogado também é barrado!”
Acho que vou organizar um PF de gente diferenciada no Fórum.
Foto: Rovena Rosa / Agência Brasil
Comentários