Em meio ao calor que nessa quarta-feira, 31, ultrapassou a sensação térmica de 42°C na capital gaúcha, comunidades sofrem com a falta de água em diversos pontos da cidade, expondo crianças e idosos a uma situação desumana. Na Quintal do Portal – localizada na Lomba do Pinheiro, zona leste – moradores organizaram barricadas durante horas na última terça-feira e foram duramente reprimidos pela Brigada Militar [1]. É revoltante, mas é a realidade: a prefeitura tem sido mais hábil em reprimir as comunidades do que em resolver o problema da falta de água.
De acordo com a Resistência Popular Comunitária (RPC), “Rompimento de adutora, falta de luz, dificuldade de bombeamento, são inúmeras desculpas esfarrapadas dadas pelo DMAE para a crise de abastecimento.” [2], entretanto, em reportagem divulgada no site Gaúcha ZH nesta quinta-feira, a direção do Departamento Municipal de Água e Esgotos afirma que já alerta desde 2011 para os riscos do desabastecimento nos zonas leste e sul, devido o contraste entre a capacidade de fornecimento e o crescimento do consumo. [3]
A RPC também demonstra em números como o desinvestimento no DMAE prejudica o abastecimento de água na capital: “o sistema de abastecimento de água trabalha no limite e necessita de cerca de 440 milhões de reais de investimento para garantir o funcionamento nos próximos 20 anos. Analisando o relatório gerencial financeiro vemos que os investimentos foram drasticamente reduzidos. O percentual de investimentos em 2017 em relação ao arrecadado foi de apenas 11,73%, quando a média histórica (2007 a 2016) foi de 24,9%. Enquanto não houver investimento, o diretor afirma que irão continuar ocorrendo intermitências. Santos admitiu também que mais de 300 milhões de reais foram retirados do caixa do DMAE para pagamento “socorro” de dívidas das prefeituras dos governos Fortunatti e Marchezan Jr, entre 2013 e 2018. Isso comprova que o sucateamento do DMAE é estratégia de governo dos últimos prefeitos de Porto Alegre.”.
A Defensoria Pública do Estado enviou ofício ao DMAE exigindo explicações sobre o problema e também estuda ingressar com ação judicial. Em entrevista a Rádia Gaúcha, a defensora Rafaela Consalter defendeu a mudança no horário de passagem do caminhão pipa, já que o horário atual colide com a jornada de trabalho da maioria dos moradores e também sugeriu o desconto na fatura dos moradores atingidos, medidas justas diante da falta de respeito do poder público [4]. Nessa quinta-feira, novos problemas atingiram a Estação de Tratamento de Água Belém Novo, atingindo moradores das zonas sul e leste.
Essa situação poderia ser evitada. Porto Alegre possui uma empresa pública de abastecimento e tratamento de água que é modelo para o país. Ao invés de rifar o DMAE para a privatização, o que pode encarecer o serviço e colocá-lo ao sabor dos interesses do mercado, o correto seria ampliar o investimento em novas estações de tratamento e distribuição de água, bem como seguir ampliando a rede de saneamento básico na capital, que já atinge quase 80% da população. É preciso denunciar esse descaso e o projeto de privatização, bem como apoiar as mobilizações das comunidades por esse direito básico.
1 – https://www.facebook.com/reporterpop/videos/2260503810882503/
2 – http://reporterpopular.com.br/falta-agua-na-periferia-mas-as-piscinas-dos-ricos-seguem-cheias/
3 – https://gauchazh.clicrbs.com.br/porto-alegre/noticia/2019/01/falta-de-agua-em-porto-alegre-foi-prevista-em-2011-obra-nunca-foi-feita-diz-diretor-geral-do-dmae-cjrkj0d7401qf01nylarw3xfg.html
4 – https://gauchazh.clicrbs.com.br/porto-alegre/noticia/2019/01/defensoria-publica-pede-esclarecimentos-ao-dmae-pela-falta-de-agua-em-porto-alegre-cjrjq7n9h01uf01q9u3e3feve.html
Foto: Reprodução TV RBS
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