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Relações perigosas da família Bolsonaro com as milícias

Editorial 23 de janeiro

Em menos de trinta dias, o governo Bolsonaro já vive sua primeira crise, que contrasta com o clima de otimismo e de confiança após a posse. O que começou com uma denúncia de movimentações suspeitas nas contas de Fabrício Queiroz assumiu grandes proporções, com a denúncia de ligações do atual senador Flavio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente, com integrantes de milícias, acusados do assassinato de Marielle Franco e de Anderson Gomes.

Nesta terça, 22, uma operação do Ministério Público em combate ao crime organizado, buscou cinco integrantes de uma milícia, suspeitos de envolvimento no assassinato de Marielle e de Anderson. A operação prendeu o policial Ronald Paulo Alves Pereira, acusado de comandar uma chacina em 2003 em Duque de Caxias, na qual quatro jovens foram executados na saída de uma festa. Outro alvo da operação foi o ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, apontado como líder do Escritório do Crime, milícia suspeita de ter planejado a morte de Marielle Franco, em 14 de março de 2018. Adriano é suspeito de ter sido o assassino.

A operação revelou a ligação entre a família Bolsonaro e grupos de milícia. Ronald recebeu do deputado estadual Flavio Bolsonaro uma moção de homenagem na Assembleia Legislativa, um mês após a chacina na Baixada Fluminense.

Adriano Magalhães, amigo de Fabrício Queiroz desde quando trabalharam no 18 Batalhão da PM, também foi homenageado. E sua mãe, Raimunda Veras Magalhães, e sua esposa, Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, durante muitos anos ocuparam cargos no gabinete de Flávio Bolsonaro e na liderança partidária. Foram exoneradas em novembro.

Raimunda é sócia de um restaurante na rua Aristides Lobo, no Rio Comprido. Ele fica em frente à agência do banco Itaú na qual foram realizados 17 depósitos na conta de Fabrício Queiroz. Investiga-se se os negócios seriam usados para lavagem de dinheiro do grupo criminoso.

O presidente eleito já havia elogiado publicamente a ação de milícias, inclusive em discurso no Congresso. Em 2008, quando era deputado federal, disse que “elas oferecem segurança e, desta forma, conseguem manter a ordem e a disciplina nas comunidades. É o que se chama de milícia. O governo deveria apoiá-las, já que não consegue combater os traficantes de drogas”. Já Flavio Bolsonaro, que chegou a ensaiar um projeto de lei para a legalização da ação destes grupos, não se pronunciou e votou contra uma homenagem póstuma a Marielle na Assembleia Legislativa.

Investigação até o fim

Exigimos investigação irrestrita e transparente. É preciso apurar até o fim, com a participação da sociedade e dos movimentos sociais, sobre estas denúncias que envolvem o núcleo que governa o país. Queremos saber sobre as operações financeiras de Queiroz e Flavio, sobre a relação do clã Bolsonaro com as milícias e a relação com o assassinato de Marielle e Anderson.

É preciso desmontar estes grupos paramilitares, que agem da mesma forma que os traficantes, e ainda se voltam contra os movimentos sociais organizados, como foi no caso de Marielle e nas tentativas de execução do deputado Marcelo Freixo, em função de sua atuação na CPI das Milícias.

Repudiamos ainda o pedido de Flavio Bolsonaro na Justiça para ter direito ao foro privilegiado. Não bastasse os fatos terem ocorrido antes de seu mandato como senador, ele e seu pai já chegaram a gravar vídeos abrindo mão e condenando o uso do foro privilegiado. Trata-se de uma tentativa de se proteger, destas denúncias e do que mais vier pela frente.

A farsa do discurso anticorrupção

A crise envolvendo o clã Bolsonaro demonstra os limites do discurso anticorrupção, que embalou a vitória do candidato do PSL, após anos de manifestações verde-amarelas e de ações espetaculares da Operação Lava Jato. Apesar da retórica abraçada por milhões de brasileiros, o governo Bolsonaro está longe de representar o fim da corrupção e da mamata.

O novo governo conta com ministros e secretários denunciados por caixa dois e envolvidos em escândalos, como o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, condenado por improbidade administrativa, ou o próprio ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que admitiu ter recebido caixa dois, “perdoado” por Sérgio Moro.

O silêncio do ex-juiz Moro sobre as denúncias e sobre o aumento do patrimônio de Flavio Bolsonaro mostra que a seletividade continua. O ministro da Justiça, que deveria apurar o caso, até o momento não se pronunciou. E sob seu comando, a Corregedoria da Receita Federal tem sofrido um desmonte que, segundo memorando interno, pode “inviabilizar completamente” o combate às fraudes.

As denúncias podem afetar a popularidade do governo, revelar a instabilidade do consórcio que foi montado para assumir o poder e implantar um programa contra o povo, a esquerda e os setores oprimidos. Diante da repercussão das denúncias, o próprio presidente sentiu o golpe e se pronunciou, dizendo que se Flávio “for culpado, tem que pagar”.

É preciso exigir a investigação, com atos e protestos de rua, e disputar a consciência dos trabalhadores e trabalhadoras que acreditaram e os que seguem acreditando neste governo. Vamos exigir a apuração e a punição aos culpados pela corrupção e pela execução de Marielle e Anderson.

Foto: Reprodução Facebook