Promoção do filho de Mourão retoma velhas práticas da ditadura

Matheus Gomes

Deputado estadual pelo PSOL no Rio Grande do Sul, Matheus Gomes é historiador, servidor do IBGE e ativista do movimento social há mais de 10 anos. Sua coluna mostra a visão de um jovem negro e marxista sobre temas da política nacional e internacional, especialmente dos povos da diáspora africana.

O novo governo chega ao seu décimo dia acumulando confusões entre as figuras do alto escalão. Só que a última não se trata dos já corriqueiros desencontros entre as falas de Bolsonaro e a sua equipe ministerial, mas do primeiro caso de nepotismo que tomamos conhecimento na gestão da “nova era”. Por mais que a grande imprensa titubeie em chamar as coisas pelo seu devido nome, não há outra definição para a súbita ascensão do filho do vice-presidente Mourão no quadro de funcionário do Banco do Brasil. A partir de agora, Antonio Mourão trabalhará ao lado de Rubens Novaes, presidente do BB, e receberá um salário de R$ 35 mil, quase o triplo do que recebeu até o mês passado.

Na agenda de governo apresentada ao público na semana passada por Onyx Lorenzoni, consta que nos primeiros 10 dias todas as nomeações deveriam ser feitas observando as regras do Decreto 7.203, que veda o nepotismo. A observação sobre os riscos das nomeações iniciais alertava que “o sistema não previne totalmente nomeações polêmicas, que podem posteriormente ser questionadas e causar desgaste”. Mas, ao que tudo indica até o momento, mesmo que a promoção tenha causado mal-estar entre os ministros e pego de surpresa o próprio presidente, ela será sustentada até o fim. O BB já enviou um informativo para todos seus funcionários justificando a escolha, assim como o vice-presidente foi a público defender o mérito do filho.

A verdade é que, uma vez no poder, os militares têm a prática de usar sua localização para enriquecer. Na ditadura foram inúmeros os casos que mostraram como a participação no governo era uma “porta giratória” para assumir cargos de alto-escalão em empresas públicas e privadas. O histórico da acumulação financeira do General Ernesto Geisel é escandaloso. Durante o seu governo (1974-79), além do início da distribuição de propinas na Petrobrás – inclusive delatada oficialmente na Operação Lava Jato -, houve o favorecimento da instalação da multinacional Dow Chemical Company no Polo Petroquímico de Camaçari, na Bahia. Assim que deixou o governo, em 1980, Geisel assumiu a presidência dos conselhos da Copene e da Norquisa, empresas do ramo petroquímico que, consequentemente, possuíam relações estreitas com o grupo estrangeiro. Ao contrário dos boatos divulgados nas redes sociais, o General não morreu pobre, bem pelo contrário: fazendo uma estimativa a partir dos atuais salários da carreira militar e dos executivos da Petrobrás, meu amigo Enio Buchionni estima que Geisel recebia cerca de R$ 127 mil.

O atual governo civil-militar tem tudo para seguir a tradição de corrupção da ditadura brasileira. Falando nisso, Bolsonaro e seu filho Flávio, agora senador pelo Rio de Janeiro, até o momento não conseguiram responder qual a origem e a intenção da movimentação financeira realizada entre Fabrício Queiroz e a primeira dama Michele Bolsonaro. Será que o Super Moro resolverá essa questão?

Vídeo – Entenda como foi a corrupção na Ditadura Militar