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Bolsonaro recebe John Bolton, assessor de Segurança Nacional dos Estados Unidos

Por: Victor Amal, de Florianópolis (SC)

Nesta quinta feira (29), Jair Bolsonaro recebeu no Rio de Janeiro o assessor de Segurança Nacional dos Estados Unidos (EUA), John Bolton. Logo quando se encontraram, o futuro presidente do Brasil fez um gesto que simboliza bem o programa de política externa que promete implementar: bateu continência para a autoridade norte-americana.

Além de Bolsonaro, também participaram do encontro seu filho, Flávio Bolsonaro, o futuro ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e os generais Augusto Heleno, que será ministro de Segurança Institucional, e Fernando Azevedo e Silva, anunciado para a Defesa.

A reunião, que começou as 07 horas, durou cerca de uma hora e ocorreu de portas fechadas, sem declarações para a imprensa. As únicas menções de Bolsonaro e Bolton durante o restante do dia sobre a reunião foram emitidas pelo twitter: ambos ressaltaram que se tratou de um encontro “muito produtivo”.

As duas figuras, como é sabido, tem grande convergência ideológica.

John Bolton começou sua carreira dentro do estado norte-americano nos anos 1980, durante os mandatos de Ronald Reagan. Desde então se tornou figura proeminente da elite conservadora dos Estados Unidos, participando dos governos Bush pai e Bush filho.

Atualmente, Bolton é um dos principais conselheiros do presidente Donald Trump, sendo conhecido pela postura agressiva na área de política externa, característica principal do setor “neo-conservador” do partido Republicano, chamados de “falcões”.

Ainda no começo de novembro, durante evento em Miami (EUA), Bolton teceu diversos elogios ao recém-eleito Jair Bolsonaro, ressaltando suas semelhanças com Donald Trump.

Na ocasião, Bolton proferiu um discurso contra a “troika da tirania” da América Latina – Cuba, Venezuela e Nicarágua – em que defendeu combatê-la a partir de uma aliança entre os EUA e os novos governos conservadores do Brasil e Colômbia.

Antes da reunião, nesta terça feira (27), Bolton disse que Trump foi o primeiro chefe de estado a ligar para Bolsonaro e parabenizá-lo pela vitória, e que a visita do assessor norte-americano no Brasil ocorreu por conta disso. Segundo ele, o telefonema “criou um relacionamento pessoal” entre os presidentes.

Estreitando relações para um novo alinhamento

Para Bolton, há neste momento uma “oportunidade histórica” de aproximação entre os países, em especial nas áreas de segurança e economia.

A reunião desta quinta-feira, portanto, serviu para “preparar o terreno” para um futuro encontro entre Trump e Bolsonaro, deixando claras as perspectivas de ambos os presidentes sobre temas cruciais como a relação com Venezuela e China, além do incremento no comércio bilateral.

Inclusive, na capital norte-americana especula-se que Trump está articulando sua participação na cerimônia de posse de Bolsonaro, em primeiro de janeiro.

Segundo membros do PSL em Washington, o forte esquema de segurança para os dois presidentes e a disputada agenda de Trump são os principais empecilhos.

Nesta semana, outro filho de Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, está nos Estados Unidos para uma série de reuniões com membros do governo Trump e políticos conservadores.

Em sua visita, Eduardo encontrou Jared Kushner, genro e assistente sênior de Trump; Kimberly Breier, secretária assistente do Departamento de Estado; os republicanos Marco Rubio e Ted Cruz; Rudolph Giuliani, ex-prefeito de Nova York; Steve Bannon, ex-estrategista chefe da Casa Branca, entre outros.

A vinda de Bolton ao Brasil, o giro de Eduardo Bolsonaro nos EUA, e a possível presença de Donald Trump na cerimônia de posse de Jair Bolsonaro atestam para a principal característica de política externa do governo que está por vir: o alinhamento automático aos Estados Unidos.

O fator China

Apesar de tanto Trump quanto Bolsonaro desejarem efetivar tal alinhamento, ele não será tão fácil. Isto porque a China, principal adversário geopolítico dos Estados Unidos, é o maior parceiro comercial do Brasil desde 2009, e não quer deixar a situação mudar tão facilmente.

Logo depois de Bolsonaro ter sido eleito, o governo chinês pediu ao futuro presidente para que não tenha a mesma postura anti-chinesa que Donald Trump. Ainda, afirmou que quem tem mais a perder com essa investida é o próprio Brasil, não a China.

Em 2017, o saldo comercial brasileiro em relação à China foi o maior da história de nosso país: 66,9 bilhões de dólares. Treze dos 25 estados da federação têm nos chineses seu principal parceiro comercial. Ou seja, um setor importante do empresariado brasileiro, especialmente ligado à soja e ao minério de ferro, não querem tumulto em nossa relação com o gigante asiático.

Bolsonaro, todavia, não parece pensar assim. Seu partido, o PSL (Partido Social Liberal), recusou um convite feito no dia 20 de novembro pelo governo chinês para que uma delegação de 10 membros do PSL visitasse Pequim em 2019.

Esta inclinação anti-chinesa está diretamente vinculado ao substrato ideológico do novo governo, influenciado pelo fervoroso anti-comunista Olavo de Carvalho, que indicou o Ministro de Relações Exteriores de Bolsonaro (Ernesto Araújo) e foi professor do Assistente de Relações Internacionais do PSL (Filipe Martin).

Olavo enxerga uma conspiração neo-comunista mundial que envolve China, Rússia, o chamado “Foro de São Paulo” (ou URSAL), e o jihadismo islâmico. Uma história digna de conto de fadas.

Ou seja, apesar de os chineses tentarem chamar Bolsonaro ao “bom senso”, enfatizando a relação comercial entre os países, é provável que o novo presidente se atenha à sua convicção ideológica e mantenha o lema: “Estados Unidos acima de tudo, Trump acima de todos”.

Porém, nada garante que ele conseguirá o feito. A pressão chinesa não será pequena, e a geopolítica mostrará sua força.

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