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MOVIMENTO

DCE Unicamp: Cada voto é uma semente de resistência

Por: Lucas Marques, de Campinas, SP

Nos dias 27, 28 e 29 de novembro ocorrerão as eleições para o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Unicamp. As eleições deste ano acontecem em um contexto bastante diferente das últimas: o presidente eleito Jair Bolsonaro promete uma série de ataques à universidade pública, seja do ponto de vista do desmonte da mesma ou da restrição das liberdades democráticas. Para ele o maior problema da educação não é o financiamento ou a precariedade das condições de ensino, mas sim uma suposta “doutrinação de esquerda” nas escolas e universidades. Prometeu “aparar as arestas” dos centros acadêmicos – bem sabemos que isso na verdade significa uma verdadeira ameaça ao movimento estudantil.

Na Unicamp, esse contexto geral se soma a uma grande ofensiva da reitoria sobre nossas liberdades democráticas e o movimento estudantil de conjunto. Só pra citar alguns exemplos, hoje não se pode reunir mais de 10 pessoas no vão do PB sem que seja pedido o nome de um responsável pela reunião, não se pode mais colar cartazes e tivemos que exigir autorização para afixar faixas de chapas das eleições de DCE. Vale também citar o fato de dezenas de estudantes estarem sendo processados administrativamente por ter participado da greve de 2016, com processos  abertos até hoje.

Além da reitoria, o Unicamp Livre, organização de direita, vem convocando uma campanha de boicote às eleições do DCE. Eles partem de uma crítica ao “movimento estudantil tradicional” que tem como objetivo desmontar todo o acúmulo organizativo e político da auto-organização dos estudantes da Unicamp nos últimos anos.

É uma verdadeira frente reacionária com o objetivo de destruir o movimento estudantil. Estamos sob ataque em uma conjuntura política bastante dura, com outros ataques que se avizinham no horizonte.

O papel das entidades

Historicamente as entidades estudantis são trincheiras de resistência dos estudantes e podem servir como ferramentas centrais para organizar a sua luta. Durante grande parte da ditadura militar era proibido organizar centros acadêmicos, em geral as entidades se organizavam clandestinamente. Hoje podemos atuar na legalidade e eleger nossas entidades de acordo com o programa que defendemos, isso é uma conquista democrática fundamental que devemos defender e na qual podemos nos apoiar.

Na Unicamp temos uma estrutura na qual existem diversos centros acadêmicos, divididos por curso ou instituto, eleitos em seus locais de estudo, e um diretório central, uma entidade geral que representa o conjunto dos estudantes. Essas entidades cumprem o papel de organizar lutas por coisas pontuais, como, por exemplo, a falta de tonner para as cotas de impressão no IFCH, ou coisas mais gerais, como organizar blocos dos cursos que representam em manifestações políticas de acordo com o entendimento dos estudantes. Além disso realizam atividades de vivência, de discussão, assembleias e etc. Os CAs cumpriram papel muito importante no segundo turno das eleições desse ano, realizando assembleias através das quais dezenas de cursos paralisaram e se organizaram para ir para a rua virar votos e dialogar com a população.

Em tempos de retrocesso as entidades estudantis devem ser fortalecidas para que possam servir como ferramenta de organização e resistência dos estudantes!

Um chamado às urnas: é preciso resistir e revolucionar nossas entidades

O chamado de boicote do Unicamp Livre é uma tentativa de deslegitimar nossa auto-organização e caçar a legitimidade da nossa representação estudantil. O grupo Apenas Alunos, que compôs gestão do DCE em 2018 e do qual parte atua hoje no Unicamp Livre, ajudou a reitoria a tirar nossa autonomia na organização das eleições da representação discente, implementando eleições online organizadas pela reitoria. O resultado disso foi que perdemos uma cadeira da representação estudantil no Conselho Universitário, instância máxima da universidade, por falta de quórum. O processo eleitoral passou ao largo dos estudantes.

O objetivo do Unicamp Livre é destruir nossas entidades para que percamos nossas ferramentas de resistência. Defendem um projeto privatista de universidade, para o qual não interessa a resistência organizada dos estudantes. É preciso responder a isso com mais organização e mais participação.

Para as eleições desse ano, que ocorrem em uma data de maior esvaziamento da universidade, precisamos de um grande movimento que seja capaz de fortalecer e legitimar nossas entidades, torná-las mais próximas dos estudantes, assim como combater práticas burocráticas de todo tipo e fazer valer a democracia pela base. Cada voto depositado na urna é uma semente da resistência que deve ser organizada para o ano que vem.

Às urnas pela democracia dos estudantes! Por entidades fortes para resistir!