Traduções: Victor Amal e Pedro Campos
No dia 14 de novembro, a polícia militar (comando Jungla) matou Peñi (irmão) Camilo Catrillanca, da Comunidade de Temucuicui, na região da Araucania, Sul do Chile. O estado chileno tem massacrado o povo Mapuche durante séculos em benefício do grande capital.
Na última semana, movimentos sociais convocaram manifestações de repúdio contra a brutal repressão. Publicamos abaixo uma DECLARAÇÃO PÚBLICA do povo Mapuche sobre o assassinato de Peñi Camilo Catrillanca e um COMUNICADO DO MOVIMENTO PELA ÁGUA E OS TERRITÓRIOS.
Estas notas enviadas do Chile por Helena Toffoletti para o EOL fazem um chamado à uma jornada de mobilizações. Durante toda a semana ocorreram protestos, cortes de estradas e bloqueios de ruas em vários pontos do país. Mais de uma centena de ações foram organizadas na região e, na capital, Santiago, houveram manifestações de solidariedade.
A situação levou à renúncia do governador do estado, Luís Mayol, na terça-feira (20). Nesta sexta-feira (23) o presidente Sebástian Piñera foi obrigado a viajar até o estado da Araucanía para tentar acalmar os ânimos na região, que foi o epicentro das mobilizações. “Nós queremos que a morte de Camilo Catrillanca não seja em vão”, disse Piñera. Para isso é necessário começar por reconhecer o direito do povo Mapuche a seu Território Ancestral.
Em seguida publicamos um vídeo do ato realizado durante funeral de Camilo Catrillarca:
https://www.youtube.com/watch?v=02ssgvKaTLM.
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DECLARAÇÃO PÚBLICA
À comunidade Nacional e Internacional, ao Nosso Povo da Nação Mapuche e às famílias que sofrem com a brutal morte de Weifache (guerreiro) Camilo Catrillanca, executado pela polícia militar chilena, obedecendo ordens dos mais altos cargos políticos do estado assassino chileno, desde nossa comunidade expressamos o seguinte:
KINE: Lamentamos profundamente a morte de nosso Peñi Camilo Catrillanca (Comunidade Temucuicui), quem se soma à longa lista de nossos weichafes caídos pelas balas da polícia militar chilena que diariamente e de forma sistemática atormenta e viola os direitos das comunidades que reivindicam os direitos ancestrais que tem sido oprimidos e violentados pelo assassino Estado Chileno e expressamos nossas profundas condolências à família.
EPU: Esta morte só confirma nossa justa luta como Povo pelas terras usurpadas e que hoje se encontram em poder de empresas florestais, descendentes de colonos, empresas turísticas, hidroelétricas, salmoneras e particulares que de forma irregular tem conseguido sua posse. Nem as balas, nem as prisões ofuscaram nossas ações de resistência para defender o que nos pertence e que foram herdadas por nossos ancestrais.
KVLA: convocamos o início de um novo processo pela defesa de nosso Território, convocamos as crianças, jovens, mulheres, homens e anciãos Mapuche e rebelar-se contra a ação genocida do estado chileno e iniciar um grande levantamento Mapuche com ações de resistência desde o
LOFCHE, desta vez, por três dias, a partir desta noite, de forma sistemática, com cortes de estradas secundárias e principais, sabotagem às empresas depredadoras de nosso território, barricadas rodovias principais e cidades, corte de luz e todo ato rebelde que seja necessário para mostrar nosso repúdio à ação do estado chileno e sua polícia no interior de nosso Território Ancestral, ação que deverá coordenar-se periodicamente por um tempo indeterminado.
AMULEPE WE WAIÑ WEICHAN….!!!!
(QUE CONTINUE A NOSSA LUTA)
Lof Penchulef en Resistencia
Comunidad Antonio Peñeipil
Ñielol Galvarino
WAJMAPUCHE, 14 Nov. 2018
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COMUNICADO DO MOVIMENTO PELA ÁGUA E OS TERRITÓRIOS
Que todos os territórios se levantem e os povos exerçam soberania!
Pelas crianças, comunidades, territórios e meio ambiente de Quintero-Puchuncaví e do Wallmapu (território mapuche)!
Pelo direito a uma vida livre de contaminação e repressão!
Contra a repressão e assassinato por policiais em Wallmapu!
Hoje vivemos um cenário de crise social e ambiental no Chile e em Wallmpau: há mais de 100 conflitos ativos em diferentes pontos cujo impacto direto é o sacrifício dos territórios.
Os capitalistas e o atual governo sabem perfeitamente dessa situação e apostam em negar e conter o conflito social, encobrindo-o através da mídia e anunciando medidas paliativas que só servem de cortina de fumaça e não satisfazem as exigências e necessidades da população afetada.
A situação das comunidades e povos de Quintero, Puchuncaví e Wallmapu é apenas a ponta do iceberg de uma realidade terrível e profundamente enraizada: os capitalistas necessitam depredar os territórios e comunidades para reproduzir seu lucro e nisso baseiam sua agenda. Assim como em Quintero e Puchuncaví, o sacrifício requer depredar também as condições de vida dos moradores dos povoados, trabalhadores e crianças, lhes tirando o direito de viver em um meio ambiente livre de contaminação, digno e saudável.
O estado chileno utilizando a ideologia do “desenvolvimento” abandonou à própria sorte famílias e comunidades inteiras que há mais de 50 anos vem se organizando pelo direito a vida e contra este parque industrial. Certamente, onde todos e todas vemos sacrifício e devastação, os capitalistas e os governos só veem crescimento e desenvolvimento econômico.
No entanto, a realidade é clara nos coloca de frente e sem panos frios: 1500 intoxicados em pouco mais de 2 meses, abortos espontâneos e repetidas histórias de mortes por câncer, transtornos neurológicos e fibrose pulmonar. Despejos de petróleo e carvão nas praias e uma paisagem constante de chaminés que até o dia de hoje ainda não foram detidas suas emissões de morte.
Tudo isto corre sob uma normativa ambiental que permitiu a instalação de 19 empresas termelétricas que mantém guardados projetos de usos do solo visando sua ampliação em territórios de Quintero e Puchuncaví.
Neste cenário de crise socioambiental existe uma agenda governamental que impulsiona a expansão e aprofundamento de mais territórios sacrificados e de um governo que mantém relações de interesse com aqueles que lucram com nossos recursos e vidas.
Esta é a agenda de quem nos domina: enquanto nossos familiares e amigos adoecem de câncer, eles seguem firmando acordos e planejando seus investimentos e nossa precarização. O IIRSA, o TPP-11 (que hoje está no congresso), o rechaço ao acordo de Escazú ou a futura Cúpula da APEC assim o demonstram.
Repudiamos a agenda de criminalização da luta, que nos reprime e assassina em Wallmapu, como as ameaças com mão armada de Gómez Guiterman a membros do Lof (organização de base territorial, familiar e religiosa) Challupen durante uma cerimônia religiosa às margens do lago Calafquen. Além disso, o ataque com cerca de 200 efetivos da FFEE e o comando Jungla, mais helicópteros, ocorrida na quarta-feira (14) ao redor das 18:00 pelo Lof Temuicuicui, na comuna de Ercilla, na região de Araucanía. Nesta oportunidade, por acionar direto das rajadas dos efetivos policiais, Camilo Catrillanca, neto de Juan Catrillanca, foi atingido na cabeça por três balas, vindo a falecer no hospital público de Ercilla.
Neste ataque foram também presos 5 adultos e 2 menores de idade, não deixando estes últimos entrarem em contato com seus pais até o momento em que escrevemos esta declaração.
Camilo Catrillanca não participava de enfrentamento algum, não estava fugindo, vinha de seu trabalho em um trator quando se encontrou dentro da comunidade com a polícia militar, que disparou para matar sem provocação alguma. Camilo Catrillanca, o jovem mapucho de 24 anos da comunidade de Temuicuicui assassinado pelo Comando Jungla, tinha uma filha de 6 anos e sua esposa está grávida.
Este novo assassinato policial em Wallmapu, assim como de Alejandro Castro e o feminicídio empresarial de Macarena Valdés, são o rosto deste sistema colonial extrativista, que não muda sua política do “gatilho fácil” para impor agenda de terror sobre as comunidades para transformar o território em zonas de sacrifício.
Nós bem sabemos que os anúncios paliativos de agenda governamental só ocultam uma realidade impostergável: não é possível uma saída desta crise sócio-ambiental dentro dos marcos da sua própria institucionalidade. O extrativismo que fomentam é a fonte de sua riqueza e nossa precarização; é a forma como vêm organizando a vida no Chile para nossos povos.
Se faz necessária uma nova institucionalidade ambiental e uma matriz produtiva cuja prioridade seja o respeito a vida em todas suas formas, mas também ir em direção à novas formas de vida, baseadas no cooperativismo, o controle territorial e a gestão comunitária, que façam frente ao modelo capitalista vigente de caráter individualista, competitivo e depredador.
O chamado deste 15 de novembro é para que nos mobilizemos por nossas vidas e territórios, para mudar a institucionalidade ambiental e o atual modelo de desenvolvimento, assim como frear a agenda extrativista e repressiva do governo. Mas, sobretudo, para que o governo de Sebastián Piñera dê uma resposta imediata às exigências e demandas das organizações, comunidades e famílias de Quintero e Puchuncaví, entre as quais se destacam:
1. Interromper as atividades do parque industrial até encontrar as empresas responsáveis;
2. Fechamento imediato das termelétricas à carvão e a Fundação Codelco Ventanas;
3. Modificar a normativa nacional que permite níveis de contaminação 10 vezes superiores ao padrão da OMS.
Nas principais cidades, de norte a sul, de leste a oeste, de ponta a ponta deste país, nesta quinta-feira de 15 de novembro a partir das 18:00 estaremos nas ruas apoiando as justas e dignas demandas dos companheiros e companheiras do Cabildo Abierto de Quintero Puchuncaví.
– Pela saúde e bem-estar para os filhos e filhas de Quintero Puchuncaví!
– Por Justiça para Alejandro Castro, Macarena Valdes e Camilo Catrillanca!
– Contra a agenda extrativista e repressiva do governo!
– Contra o Comando Jungla e o Plano Araucanía!
– Chega de territórios de sacrifício!
– Que todos os territórios se levantem e os povos exerçam soberania!
Coordinadora en defensa del río Loa y la Madre Tierra
Mesa de Desarrollo Rural Combarbala
Coordinadora Activa Combarbala
Agrupación Ecológica y Cultural Valle El Durazno
Acción Comunal Cedioambiental Combarbala
Putaendo Resiste
Escuela de Agroecología Germinar, Chincolo, Petorca
Colina Resiste
Comité por el agua Villa alemana
Red de amigos de Cabritería
Comité local por la reserva de la biosfera Valparaíso
Precooperativa Matria
Cooperativa Madrekulebra
Comunidad Unida del Tabo
Organización nacional contra el Asbesto Eduardo Miño Pérez
Bloque Andino por el Agua y los Territorios
CONACIN – Somos Cerro Blanco
Observatorio Latinoamericano de Conflictos Ambientales
Secretaría de Ecología y Medioambiente de la FECH
Pacto Mundial Consciente Chile y Universidad de Sabiduría Ancestral
CASA Chile
Colectivo La Güiña
Colectivo Viento Sur
Comité por la Defensa de Paine
Red por la Defensa de la Precordillera
Asamblea Agua y Soberanía de Puente Alto
Colectivo La Savia
Maule en Acción
Consejo Ecológico Comunal de Molina
Slow food
Consejo de Defensa de los Queñes
Centro agroecológico Longavi
Pencahue Ecológico
Salvemos Bullileo
Coordinadora en Defensa del Maule Sur
Asociación GeoEduca
ONG Defensa Ambiental
Movimiento Social por la Defensa del río Ñuble
Coordinadora Territorial Wallpen
Coordinadora Tomé
Red en Defensa de los Territorios Araucanía
Defensa del Territorio de Melipeuco
Red por la Defensa de la Infancia Wall Mapu
Red de Defensa de los Territorios Los Ríos
Red de Organizaciones Sociales y Ambientales de Panguipulli
Parlamento de Koz Koz
Comunidad Newen de Tranguil
Movimiento por la Defensa de Futrono
Corporación de Familiares de Detenidos Desaparecidos y Ejecutados Políticos de Valdivia
Agrupación de ex Presos Políticos y Familiares Valdivia
Coordinadora No+AFP Valdivia
Red Ciudadana por los Humedales Valdivia
Articulación Feminista Valdivia
Asociación de Consumidores y Usuarios de Valdivia
Colectivo Trabajadores Movilizados Región de Los Ríos
Revista Caminando
Federación de Pescadores Artesanales de Corral
Cooperativa CoyDe Los Ríos
ONG AYNI, Colaboración y Ciencia para la Conservación
Agrupación Ambiental Antukulef de Aysén
MOVIMIENTO POR EL AGUA Y LOS TERRITORIOS
Pewü, 15 de Noviembre de 2018
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