Muitos comparam o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com Jair Bolsonaro. Inclusive os próprios fãs do presidente eleito do Brasil gostam de valorizar o que os dois têm em comum. Ambos ganharam eleições por fora da política tradicional e usando as redes sociais, ambos não têm vergonha de apresentarem frases racistas, machistas, homofóbicos e elitistas. De fato há muitas semelhanças. Agora parece que uma comparação pode ser um problema para o brasileiro. Dois anos depois de eleito, Trump amarga uma derrota nas eleições parlamentares e para governadores dos Estados Unidos.
E a questão nem é a economia. Em dois anos o desemprego nos Estados Unidos diminuiu. A crise de 2008 parece superada e o país está em recuperação. Mas mesmo assim o presidente amarga baixa popularidade e terá agora minoria na Câmara dos Deputados. Trump foi eleito em 2016 com altas expectativas de fazer “a América grande de novo”, como dizia seu slogan. Dois anos depois, a maioria do povo americano se viu frustrada. O presidente ainda mantém uma base fiel, mas fora desse círculo ele não consegue mais convencer muita gente. Seu governo com minoria no Congresso será o que se chama de “Pato Manco” nos Estados Unidos. Terá pouca liberdade de ação e poucas chances de se reeleger em 2020.
Isso é uma prévia do que pode acontecer com Jair Bolsonaro. Assim como Trump, Bolsonaro quer manter a atitude de governar apenas para a parte da população que concorda com ele. Quer continuar desprezando as demandas de mulheres, negros, LGBTs e trabalhadores em geral. Quer aplicar um programa econômico que favorece os mais ricos. Quer comprar briga com a China e o mundo árabe. O presidente dos EUA foi alvo de vários protestos e de uma campanha negativa permanente dos movimentos sociais. Bolsonaro sofrerá com o mesmo problema.
Mas no Brasil há um agravante. Se Trump pode manter parte de sua popularidade porque o seu país entrou em recuperação, no Brasil não há previsão de uma retomada grande na economia. No máximo teremos um baixo crescimento até 2020. E em 2019 Bolsonaro que fazer a reforma da Previdência, que hoje é amplamente rejeitada pela população. Podemos terminar 2019 bom o desemprego ainda acima dos 10%, além das cicatrizes políticas causadas pela reforma da Previdência. Se somarmos isso aos conflitos com mulheres, movimento negro e LGBT, índios, ambientalistas, professores e movimentos sociais em geral, é possível que Bolsonaro chegue à 2020 pior que Trump em 2018.
E em 2020 temos eleições para as prefeituras. Nas maiores cidades, o presidente terá dificuldades. Provavelmente terá que apoiar atual prefeito, Marcelo Crivella, no Rio de Janeiro. O adversário deverá ser Marcelo Freixo, do PSOL. Um páreo duro levando em consideração que Freixo é muito popular e Crivella está bem desgastado. Em São Paulo é provável que seja obrigado a apoiar o atual prefeito do PSDB, Bruno Covas. Afinal, sem este partido Bolsonaro não conseguirá governar. O adversário poderá ser Haddad, que acabou de ter 45% dos votos nacionais para Presidente da República ou Márcio França, que acaba de ter 48% dos votos para governador de São Paulo. Em Belo Horizonte o representante de Bolsonaro talvez enfrente a deputada federal pelo PSOL Áurea Carolina, vereadora mais votada em 2016 e um fenômeno da política local. Em Porto Alegre, a adversária do campo bolsonarista poderá ser Manuela d’Ávila, que teve 45% dos votos nacionais como vice de Haddad. No nordeste nem se fale: a oposição domina a política da região e tem chance de levar a maior parte das prefeituras.
Muita coisa pode acontecer, mas temos três grandes possibilidades pela frente. A primeira é uma combinação de fatores favorecer Bolsonaro. Aí temos que acreditar que a recuperação econômica vai ser muito maior que o previsto, a maioria da população vai aceitar a reforma da previdência e a oposição vai perder a maioria dos 45% da população que conseguir convencer nas eleições de 2018. Ou seja, um milagre. A segunda é ele chegar desgastado em 2020 e tomar uma surra nas eleições para as prefeituras. Isto vai tornar sua situação mais difícil do que a de Trump hoje nos Estados Unidos. Com uma derrota nas eleições municipais, os deputados e senadores teriam menos boa vontade com o governo Bolsonaro, o que dificultaria negociações com o Congresso.
A terceira possibilidade é, percebendo o problema, Bolsonaro inventar uma desculpa para impor um governo autoritário. Com isso ele poderia esmagar a oposição e manter a população em volta dele. Nesse caso, uma guerra com a Venezuela seria muito conveniente. Devemos estar de olho. Nos próximos quatros anos não haverá um dia sequer em que não devamos esperar pelo pior.
LEIA MAIS
Eleição americana: vitória democrata na Câmara aprofunda divisão política nos EUA
Comentários