Ninguém solta a mão de ninguém: não aceitaremos perseguição

Editorial 1 de novembro

Após a eleição, Jair Bolsonaro reafirmou o objetivo de perseguir a esquerda, movimentos sociais e a imprensa crítica. Em entrevista ao Jornal Nacional da TV Globo, na noite de segunda (29), o líder neofascista, agora presidente eleito, reiterou ameaças às lideranças do PSOL e do PT, assim como ao Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), que classifica como “terroristas”.

Bolsonaro fez questão de citar nominalmente Guilherme Boulos, ex-candidato a presidente pelo PSOL e coordenador do MTST, como um dos alvos da campanha persecutória. Aproveitou também a oportunidade para atacar o jornal Folha de S. Paulo, um dos poucos veículos da grande imprensa a publicar matérias críticas a ele, como a denúncia sobre o disparo em massa de fake news por meio de financiamento ilegal de empresas.

As repetidas ameaças a opositores revelam o grau de cinismo contido nas declarações em que Bolsonaro jura respeitar garantias democráticas e liberdades previstas na Constituição do país. Suas recentes afirmações, renovando promessas de perseguição político-ideológica, confirmam a essência de seu discurso transmitido na Av. Paulista, em São Paulo, no dia 21 de outubro, quando prometeu “varrer os bandidos vermelhos” do país que deveriam, segundo ele, escolher entre o exílio e a prisão.

Os propósitos autoritários do futuro presidente fomentam iniciativas de seus asseclas no Congresso Nacional. O senador Magno Malta (PR) tentou encaminhar a votação da ampliação da Lei Antiterrorismo na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, nesta quarta (31), com o objetivo de criminalizar os movimentos sociais. Porém, com a aprovação de uma audiência pública sobre o projeto, foi adiada a votação sobre a matéria na Comissão. Da mesma forma, deputados bolsonaristas quiseram aprovar nesta quarta (31) o projeto de lei “Escola Sem Partido”, que promove a patrulha político-ideológica dos professores em sala de aula, constituindo censura explícita da atividade docente, típica de regimes ditatoriais. Felizmente, a votação deste projeto também foi adiada.

Diante deste cenário, outra vez afirmamos: palavras intimidatórias, ameaças fascistas e ações autoritárias não amedrontarão a resistência democrática que cresce em todo O país. Haverá defesa intransigente de todas as liberdades conquistadas. Cada ato repressivo promovido pelo novo governo será respondido com pronta e ampla mobilização social. A resposta dos estudantes e professores nas universidades à inquisição da Justiça Eleitoral e às manifestações racistas de bolsonaristas são exemplos da resistência antifascista. Saudamos, também, os alunos numa escola no Ceará que receberam com emocionante salva de palmas o professor denunciado por passar um filme sobre a tortura no regime militar. Não declinaremos dos nossos direitos políticos e democráticos sem luta. Estaremos, daqui para frente, ainda mais unidos, organizados e solidários, como bem demonstramos na campanha de rua no segundo turno e nos atos da últimos terça-feira (30). E não somos poucos: existem muitos milhões ao nosso lado, no Brasil e em todo mundo.

Consideramos que o correto repúdio de autoridades institucionais, líderes políticos e partidários, meios de comunicação e jornalistas aos ataques de Jair Bolsonaro à Folha de S. Paulo precisa se estender às reiteradas ameaças dele a dirigentes do PT, do PSOL, ao MTST, MST e a Guilherme Boulos. Não restará qualquer vestígio de democracia com o estrangulamento dos movimentos sociais, da esquerda e suas lideranças. As prometidas ações autoritárias contra os “vermelhos”, se não condenadas e impedidas a tempo, logo atingirão setores da imprensa, artistas, jornalistas, intelectuais, políticos e outras figuras públicas que não se curvarem ao novo regime autoritário que vem sendo sedimentado.

Ainda há tempo de deter o candidato a ditador e seu projeto neofascista. Nesse sentido, a construção da mais ampla unidade em defesa dos direitos e liberdades democráticas, envolvendo centenas de milhares de lutadores em todo país, é tarefa urgente e primordial.

Foto: Carol Burgos