Não distinguir entre os diversos tipos de regime político fez com que muitos subestimassem o crescimento das ideias reacionárias nos últimos anos. Alguns chegaram a considerar desnecessária a luta pela frente única com as organizações políticas, populares e sindicais “tradicionais” para defender as liberdades democráticas e os direitos porque a classe operária, média e a juventude teriam rompido totalmente com elas e estavam dispostas a seguir os que durante os 14 anos de governo do PT fizeram oposição de esquerda.
Estamos longe de querer convencer aqueles que ainda consideram que o impeachment não foi um golpe parlamentar-jurídico-midiático no Brasil. O importante agora é fazer o possível e o impossível para viabilizar a virada. Sabendo que enfrentamos uma eleição antidemocrática.
O vídeo do filho do Bolsonaro ameaçando o STF. As declarações do coronel da reserva Carlos Alves contra a presidenta do TSE. No vídeo, publicado numa rede social, o coronel fala que a ministra “não se atreva” a dar seguimento à ação eleitoral contra o candidato Jair Bolsonaro (PSL) ou “nós vamos derrubar vocês aí”. As ameaças públicas de Bolsonaro contra todos que não concordem com ele. Como bem definiu a jornalista Eleonora de Lucena, ex-editora-executiva da Folha de S. Paulo (2000-2010): “As palavras são ditas de forma crua, sem tergiversação – com brutalidade, com boçalidade, com uma agressividade do tempo das cavernas. Não há um mísero traço de civilidade. É tacape, é esgoto, é fuzil”.
As intimidações ao jornal e a outros órgãos de comunicação só confirmam a expressão que Guilherme Boulos tem utilizado em suas postagens: “Cría cuervos y te sacarán los ojos”. Não adianta pedir desculpas 50 anos depois.
Todos estes setores tramaram o golpe parlamentar-jurídico-midiático e construíram a narrativa para excluir o ex-presidente Lula da disputa eleitoral. Para realizar a “eleição do golpe”.
O trem saiu dos trilhos, é verdade. Uma candidatura neofascista capitalizou o sentimento de raiva e desesperança. Mas que ninguém se iluda. Os arrivistas do mercado financeiro, o agronegócio, os banqueiros , os grandes industriais e os porta-vozes de todos eles, em todas as esferas de poder político, jurídico e midiático, já se reposicionaram. Para eles, pouco importam o país e seu povo. Só consideram seus lucros e privilégios.
Os pronunciamentos cheio de pompa dos ministros do STF, editoriais do grupo Folha são para “para efeito de aparência, sem validez”, visam tão somente pressionar Bolsonaro para que ele não fale tanta bobagem a ponto de atrapalhar o planejamento original: concluir o golpe com a vitória de uma candidatura comprometida com o aprofundamento das medidas antipopulares iniciadas por Temer. Enquanto isso, nada de efetivo fazem contra as ilegalidades cometidas pelo candidato neofascista. Ao contrário, tomam decisões que o favorecem: a negativa de se tomar providências imediatas para comprovar os crimes eleitorais praticados por Bolsonaro em tempo hábil para cassar sua candidatura, o cancelamento do debate da Globo por causa da covardia do candidato fujão, as inúmeras ações da justiça eleitoral contra as entidades de classe e universidades públicas censurando o debate de ideias. O compromisso das elites brasileiras com as liberdades democráticas é zero. Cabe ao povo defender o que conquistamos com muita luta e sacrifício.
A boa notícia é que parcela significativa da população tomou para si esta tarefa. E depois de muitos anos fragmentada, por razões absolutamente justificáveis, mas que não é hora de debater, a esquerda, em um sentido amplo da palavra, entendeu que precisa se unir para barrar o avanço das ideias reacionárias e autoritárias. Vamos à luta. Votando 13.
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