Chega de ameaças à esquerda e à democracia. É preciso erguer uma muralha contra o fascismo

Editorial de 23 de outubro de 2018
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Domingo foi dia de ódio. Nos atos de rua, Bolsonaro e as principais lideranças da extrema-direita aumentaram o tom dos discursos e já não escondem o que virá caso vençam. As ameaças são especialmente dirigidas contra a esquerda. Organizações, partidos e movimentos sociais estão sendo ameaçados abertamente de criminalização, perseguição, prisão e até eliminação física, num eventual governo do capitão fascista.

O vídeo de Bolsonaro, exibido ao vivo para a manifestação da Avenida Paulista, é significativo: “Ou vão pra fora ou vão pra cadeia. Esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria”, “A faxina agora será muito mais ampla” . E atacou diretamente os movimentos sociais e as ocupações na cidade e no campo. “Bandidos do MST, bandidos do MTST, as ações de vocês serão tipificadas como terrorismo.” Também atacou o ex-presidente Lula – “Vai apodrecer na cadeia” – e ameaçou de prisão petistas como Lindbergh (PT-RJ) e até o próprio adversário, Fernando Haddad.

A cada aumento de tom nos discursos de ódio, aumentam os casos de ataques nas ruas, que já atingiram mais de 120 pessoas, e já mataram três: uma travesti, uma transexual e um negro. Pessoas estão sendo atacadas e caçadas apenas por usar adesivos. E mulheres, LGBTs, negros e negras têm sido alvos prioritários da violência política, da qual o discurso de ódio do candidato é responsável.

Bolsonaro não tem como negar ou relativizar o seu próprio discurso, como faz diante de falas de aliados ou da violência de apoiadores. É pra valer. Ele tem controle sobre o que está dizendo e fazendo.

O candidato a Ditador parece estar seguindo as recomendações de Olavo de Carvalho, que clama para que Bolsonaro aproveite um início de mandato para “eliminar de vez” a esquerda. Declarações contra MTST e MST, investidas contra a UNE e sindicatos e a intenção de nomear os reitores das universidades anunciam o que seriam os primeiros alvos para atacar a resistência.

Ditadura Nunca Mais
Veio a público, também no final de semana, um vídeo do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), afirmando que seria fácil fechar o Supremo Tribunal Federal (STF), numa hipotética cassação da candidatura de seu pai. Segundo o deputado reeleito, bastaria: “enviar um cabo e um soldado” para fechar o principal tribunal do país. “Tira o poder da caneta de um ministro do STF, o que ele é na rua? Se você prender um ministro do STF, você acha que vai haver uma manifestação popular?”, perguntou.

Nos dias seguintes, vimos declarações de ministros do STF, de políticos burgueses e do próprio TSE condenando o vídeo golpista, mas nenhuma medida concreta foi tomada até o momento contra o deputado. É inaceitável que o deputado, filho do candidato líder nas pesquisas, ameace desta forma os ministros da Suprema Corte.

Todos os sinais reforçam a ameaça que seria um governo Bolsonaro para as garantias democráticas e as liberdades de forma geral. Não se trata apenas de ataques contra a esquerda e o movimento social organizado, mas a todas as instituições e setores destas que não estejam completamente alinhados a suas medidas. Aumentaram os ataques contra a imprensa, e não só contra veículos que assumem pautas dos direitos humanos e dos trabalhadores, como o Intercept e o Brasil de Fato. A Folha de S. Paulo e a Globo também são alvos. Para além da ameaça de uso de verbas de publicidade para favorecer aliados, estaríamos diante de ameaças ainda maiores à liberdade de imprensa, com censura, perseguição a jornalistas e mesmo fechamento de veículos.

Bolsonaro quer amplos poderes
De nada adiantou a mídia ter participado ativamente do impeachment. Ou de o STF ter, na sequência, legitimado o golpe, a prisão de Lula e a terceirização desenfreada. Ao libertarem o fascismo, a serpente agora se volta para mordê-los.

Bolsonaro deseja um tipo de governo diferente, com amplos poderes, sem oposição. Para controlar ainda mais a Justiça, estuda dobrar a quantidade de ministros do STF, para, com as indicações, atingir a maioria dos votos.

Um governo seu seria baseado diretamente nas Forças Armadas e nas polícias civis e militares, que teriam “retaguarda jurídica pra fazer valer a lei no lombo de vocês”. Ou seja, um amplo aparato, pronto para atacar as organizações sociais e de esquerda e reprimir a classe trabalhadora, caso esta rompa com o seu projeto, e aumentar a matança e encarceramento de jovens negros e negras.

Não precisaria fechar o Congresso, como no AI-5. A bancada conservadora, que é anunciada como “nova classe política”, tem votos para aprovar inclusive mudanças na Constituição.

Um governo seu já contaria com o apoio da Record, de Edir Macedo, e na ampla estrutura que está sendo utilizada nas redes sociais nesta campanha, para distribuição de fake news. Sem descartar a possibilidade de acordos com a Globo e outros grupos de mídia, que, sempre é bom lembrar, apoiaram a ditadura militar.

Um governo Bolsonaro seria, antes de tudo, o governo dos grandes empresários e banqueiros, ávidos por aumentar a retirada de direitos, e que, em sua maioria, já abraçaram – publica ou de forma discreta – a sua campanha. E das multinacionais e do imperialismo norte-americano, de olho em uma solução de força na Venezuela e no controle do petróleo de ambos os países.

Eleições em tempos de golpe
A impunidade não é só nas ameaças ao STF. Na semana passada, a Folha de S. Paulo denunciou o escândalo da compra milionária de pacotes de mensagens no WhatsApp, usados para caluniar o candidato do PT na reta final do primeiro turno.

Estes pacotes de mensagens foram comprados por grandes empresas para ajudar na campanha sórdida de Bolsonaro, e sequer foram declarados. É um triplo crime. Afinal, as empresas estão proibidas de contribuir financeiramente em campanhas; é “caixa 2” pois não foi um gasto declarado pela campanha e, além, é claro, de disseminar mentiras e calúnias. O TSE abriu formalmente uma investigação, mas ao que parece não tomará nenhuma medida concreta. Um escândalo.

Mais um capítulo de uma eleição extremamente antidemocrática, com a prisão política e a cassação da candidatura do ex-presidente Lula, a desigualdade entre os partidos. Uma eleição em tempos de golpe, em um período de ofensiva da burguesia sobre os direitos e às liberdades democráticas e de resistência do povo trabalhador, da juventude e dos oprimidos.

A disputa dos atos
No sábado, 20, aconteceram as manifestações em defesa dos direitos, da democracia e da vida das mulheres, em cerca de 50 cidades. As manifestações são continuidade do movimento “Ele não”, que levou cerca de um milhão de pessoas às ruas no Brasil no dia 29 de setembro. Neste sábado, esteve presente também o chamado ao voto em Haddad (PT), candidato da Frente Democrática no segundo turno.

Embora em número menor do que no dia 29, os manifestantes demonstram força, levando centenas de milhares às ruas. No dia seguinte, apoiadores de Bolsonaro realizaram manifestações em 19 cidades. Reuniram muitas pessoas, especialmente em São Paulo, mas ainda ficaram atrás, em termos nacionais, dos atos do dia anterior.

Unidade para lutar pelo voto e erguer a Frente Única Contra o Fascismo
Os atos demonstram a força acumulada pelos distintos movimentos sociais para enfrentar os ataques que virão, independentemente do resultado do domingo. Uma coisa fica nítida – haverá resistência organizada e nas ruas. E muita.

Não há atalhos possíveis. Para começar temos que nos jogar com ainda mais força na reta final da campanha do segundo turno. Lutar até o fim para eleger Haddad e Manuela e para derrotar os candidatos de Bolsonaro aos governos estaduais. Cada voto conta. Cada pessoa que convencemos é um passo na luta contra o fascismo. Nossa campanha é para evitar a eleição de Bolsonaro e derrotar seu projeto neofascista nas eleições, mas ela é também para ir acumulando forças para as lutas que teremos que travar num futuro próximo.

Logo após o resultado, precisamos imediatamente seguir e fortalecer a nossa organização para defender nossos direitos e as liberdades democráticas. A unidade e a frente única que conquistamos a partir do movimento “Mulheres contra Bolsonaro” deve ser mantida e intensificada.

Temos que construir imediatamente e em todo o país uma Frente Única Antifascista, em defesa dos direitos e da democracia, aberta a todas as organizações e movimentos. Está frente deve organizar ações unificadas do nosso movimento, construídas em conjunto com todos os setores democráticos do nosso país e do mundo. A última palavra virá das ruas!